Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Campailla, no seu livro Il Paradiso Terrestre, objeto do nosso estudo, faz uma ponte entre o passado ultra milenar e o presente. Tendo como pano de fundo a atual herança da civilização grega, o Vale dos Templos, em Agrigento [abaixo] , o escritor em questão vai tecendo o seu romance, entremeado de intertextualidades pós-modernas, assim como de mitos e figuras da cultura grega e universal (Ulisses, Eros e Thánatos, Caim e Abel e tantos outros), com maestria e vigor, dignos de um verdadeiro artista. Os elementos da tradição insular combinam muito bem com os problemas sociais da Sicília moderna dos anos Oitenta, levando-nos a diversas leituras: mitológica, psicológica, sociológica, simbólica, inclusive esotérica.
Para uma melhor compreensão, vejamos o que viria a ser exatamente Moira.
Na cultura grega arcaica, Moira significava "parte" ou "quinhão", vocábulo derivado do verbo "meiromai", "dividir" [1]. Deusa distribuidora das partes, era o nome mais comum para designar a divindade do Destino. Por outro lado, a denominação latina de destino é "fatum", particípio passado de fari, "falar", assim como "Fatae" ("aquelas que falaram") e as "Parcae" ("aquelas que fazem parir") são as deusas fatais da religião romana.

Martin Nilsson, como historiador, diz que a noção de parte possui um valor sociológico, além de um valor próprio, abstrato e "leigo", isto é, o destino seria a "parte" ou o "papel" que uma sociedade hierarquicamente organizada tem para com cada um dos seus cidadãos [2]
Em Homero às vezes significava a parte da vida decretada para cada indivíduo, ou seja, a sorte que era pré-estabelecida desde o nascimento, segundo o pensamento religioso comum aos gregos e a quase todos os povos da antiguidade; às vezes num sentido mais limitado, dizia respeito à duração da existência individual e coletiva. Outras vezes, em Homero, confunde-se com a própria morte ou com a vontade de Zeus.

A Moira (Moira) essencialmente simbolizava a lei suprema da vida cósmica, à qual até os próprios deuses estavam sujeitos.


Não é possível estabelecer com certeza se já, antes de Homero, "Moira" fosse representada como coletivo, mas é muito provável que sim, devido à origem antiquíssima do esquema trinitário e em geral das concepções múltiplas de divindade. Em Delfos eram duas as Moiras veneradas e na gigantomaquia tomavam parte duas Moiras, armadas com clavas. Na sua mais antiga representação, no vaso François, estavam retratadas como quatro. Mas a imagem mais conhecida e mais freqüente entre os líricos e os trágicos e em toda a literatura posterior são as três Moiras.
Quando concebidas em número de três chamam-se Cloto ("a fiandeira") - símbolo dos altos e baixos que cada qual vive entre acontecimentos tristes e alegres); Láquesis ("a que distribui" a cada um a própria sorte); Átropos (a "imutável" ou a "inelutável", que ninguém consegue aplacar quando é chegado o momento da própria morte) [3].

Platão, na República, fala das fiandeiras que tecem nosso destino. A fábula de Her, o Armênio - que ressuscita doze dias após a morte - conta como as Moiras determinavam a nossa vida aqui na terra..

Em Ésquilo, a divindade em maior evidência, ao lado da Justiça, Díke (Dikh), é a Moira.

Na época da difusão da astrologia, Moira vai se relacionar com a astrologia na medida em que Moirai são os "graus" do círculo zodiacal com os quais se calcula a posição dos planetas no quadro do horóscopo.
É importante lembrar também da relação existente entre as Moiras e a lua. Como é sabido, nas culturas primitivas, o romântico satélite exerceu um papel mitogênico, ligado tanto à noite (pelo seu caráter noturno), quanto à fecundidade (pela sua relação com as águas) e ainda devido à sua ciclicidade natural (por causa da periódica presença astronômica). Tal relação com a lua é atribuída, tardiamente, a fontes derivadas da filosofia e da astrologia.

Não podemos negar que a relação com a lua esteja ligada à idéia de tempo. De fato, Hesíodo considera as Moiras como irmãs das Horas [4], além de filhas tanto da Noite [5], como da união de Zeus com Themis [6].

Na verdade, o conceito de "tempo" (chrónos) na religião grega nunca se separou do de Moira, nem do ponto de vista fatalista, nem do ponto de vista mitológico.
A Moira está presente em toda a obra de Sergio Campailla, e em modo particular no seu romance Il Paradiso Terrestre.

Ao longo do seu texto, Campailla consegue resgatar a origem helênica contida no gens siciliano que por um lado está arraigada no próprio povo da Nova Magna Grécia, e do outro, se origina no grande amor pelos estudos clássicos, pilar de sua cultura. De fato, em Il Paradiso Terrestre o escritor em tela extrai da atmosfera natural de Agrigento, com seus templos gregos, o cenário ideal para uma neo-tragédia fantasiada de romance.

Assim como seu autor, o personagem Vanni Corvaia é genovês de origem siciliana e por isso não se sente nem completamente siciliano, nem tampouco genovês. Vai para a Sicília em busca da própria identidade. Ele procura inconscientemente, através das raízes da nobre origem materna, um sentido para a sua vida. Tencionando ir até Módica, cidade de origem materna (também do próprio Campailla), detém-se em Agrigento para visitar os templos. Como arquiteto-arqueólogo não podia escolher melhor lugar, tanto como profissional, quanto para poder dar asas à sua fantasia mítica. Nada mais romântico do que conhecer uma grega, linda e morena como sua mãe, que lhe corresponde e que ainda por cima tem o nome de Penélope. Por outro lado, Vanni tinha deixado em Gênova a namorada Elena (Helena), nome sugestivo no contexto da Hélade.

AUTOR:

Sergio Campailla nasceu em Gênova em 24 de novembro de 1945 e sua família tem antigas raízes sicilianas. Com formação em Letras e Filosofia, é professor de Literatura Italiana da Universidade de Roma. Romancista e conferencista, conduziu seminários em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil (Salvador e Rio de Janeiro). Significativamente, a foto que Sergio Campailla escolheu para ilustrar seu próprio website mostra-o tendo ao fundo a Zona Sul do Rio.

NOTAS:


[1] P. Chantraîne, Dictionnaire Étimologique de la Langue Grécque . Paris: Éditions Klinchsieck, 1983, p. 679.
[2] Cf. A. Magris. L'idea del destino nel pensiero antico. Trieste: Del Bianco, 1984, vol. I, p. 41.
[3] Cf. F. Magnavita. A essência do drama em Ésquilo. Salvador, Bahia, 1961, p. 154.
[4] Ibidem, p. 53.
[5] Hesíodo. Teogonia. A origem dos deuses. São Paulo: Iluminuras, 1991, vv. 217-219, p. 117.
[6] Ibidem, vv. 904-906, p. 157.

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