Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Já dizia a mitologia grega que, para castigar a humanidade e se vingar dos titãs Prometeu e Epimeteu, Zeus, o mais poderoso dos deuses do Olimpo, pediu ao deus coxo Hefesto para que criasse uma mulher de argila, Pandora, que recebeu um sopro de vida dos quatro ventos e foi embelezada por todas as deusas. Lindíssima, foi dada de presente a Epimeteu, que, alertado pelo irmão Prometeu, não aceitou. Zeus, mais furioso ainda, impôs um cruel castigo a Prometeu, fazendo com que, durante o dia, uma ave de rapina lhe devorasse o fígado e, à noite, o órgão crescesse novamente. Assim, a dor seria eterna. Temendo o mesmo destino do irmão, Epimeteu resolveu casar-se com Pandora e aceitar o “presente” dado: uma caixa que, uma vez aberta, espalhou todas as desgraças sobre a humanidade, como a mentira, o vício, as pragas, as doenças, a velhice, mantendo apenas a esperança ilusória dentro de si.

Mas o que isso tem a ver com o momento que vivemos? Em minha analogia, tudo, especialmente com o que o Brasil vive.

Nosso fígado é devorado diária e lentamente por quem não suporta viver fora do poder ou longe dele. Qualquer coisa que se destaque mais que o governo se torna uma ameaça a ele. Para sua subsistência, são dados “presentinhos” para manter os milhões de “Epimeteus” sob seus domínios que, com receio do que poderia lhes acontecer, preferem não dar chance a mudanças e acreditar em promessas eleitoreiras. Mas, na hora de abrir a caixa de presente, surpresa! Nada era o que parecia, porém não há mais jeito de devolvê-lo.

Alguns dos exemplos fazem parte das medidas tomadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para o duro reajuste fiscal nas contas do país: aumento de juros e alíquotas para todos os lados, como o golpe fatal de elevar os impostos sobre as folhas de pagamento em até 150%, depois de um período de desoneração prometido como irreversível para dar um pequeno fôlego à geração e manutenção de empregos no Brasil.

A água? Outro ponto polêmico. Enquanto os “Prometeus” lá atrás advertiam sobre sua falta, os governos preferiram ficar no embate político a dar ouvidos a uma questão tão séria para todo o país. Consequência: além da falta de água, a de energia elétrica. Essa última, maquiada por tantos anos como se não houvesse problema algum e subsidiada artificialmente, também não recebeu a atenção merecida, e outras alternativas mais baratas e menos poluentes, como a eólica, que funcionaria muito bem em várias regiões do país, foram deliberadamente trocadas pelas termelétricas, muito mais caras e poluentes. O desconto concedido anteriormente nas contas de luz, também como forma de ajudar na diminuição de custos para as empresas serem mais competitivas, agora caiu por terra, fechando um verdadeiro curto-circuito sobre a sobrevivência da indústria nacional.

Mas essa, infelizmente, é uma característica marcante da política brasileira: dá pra contar nos dedos o que é feito da forma “Prometeu” (que vê antes, consequente) pra valer, adiantando-se a um problema, refletindo sobre as consequências que ele pode causar e tomando ações para que não aconteçam ou, se acontecerem, estar preparado para enfrentá-las. Aqui no Brasil, é tudo feito da forma “Epimeteu” (que vê depois, inconsequente), “tapando buracos”, “apagando incêndios”, tomando ações sem ponderar a fundo seus resultados, seus reflexos. Depois de o governo gastar a rodo, achando que o cartão era ilimitado, a fatura altíssima ficou para nós pagarmos. E juros de cartão podem acabar com um orçamento mal planejado, não é mesmo? No final das contas, o que sobra para nós, de verdade, é o “Prometeu, mas não cumpriu”.

Então, o que nos resta é refletir e sermos precavidos com nossos passos, em todos os sentidos, projetando suas consequências. Se vier algum bônus-surpresa, será mérito nosso, porque do governo desse país, sinceramente, só dá pra esperar a “esperança ilusória” da caixa de Pandora.

 

SILVIA BORIELLO É EDITORA DA REVISTA COSTURA PERFEITA.

editora@costuraperfeita.com.br

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