Prever o comportamento do varejo e do consumo no Brasil já é, por natureza, um desafio complexo. Em 2025, essa tarefa tornou-se ainda mais árdua diante de um ambiente global instável e um cenário doméstico volátil. A combinação entre emprego, renda, inflação, crédito e confiança do consumidor continua moldando as decisões de compra da população e o desempenho das empresas. A introdução crescente da Inteligência Artificial nos processos do varejo acelera mudanças, mas não resolve gargalos estruturais que travam a recuperação do setor.
https://guiajeanswear.com.br/wp-content/uploads/2025/05/capa-24-300... 300w, https://guiajeanswear.com.br/wp-content/uploads/2025/05/capa-24-768... 768w" sizes="(max-width: 858px) 100vw, 858px" />O primeiro quadrimestre deste ano serviu como alerta para analistas e empresários: as previsões otimistas feitas no final de 2024 não se concretizaram. Um exemplo é o índice de desemprego, que, apesar de baixo (7,3%), não reflete avanço real no emprego formal. Isso porque grande parte da população economicamente ativa está fora do mercado de trabalho formal devido à dependência de programas de auxílio. Essa dinâmica distorce a leitura da taxa e contribui para o avanço da informalidade, uma tendência que deve se manter até, pelo menos, 2027.
A massa salarial evoluiu nos últimos dez anos, passando de R$ 280 bilhões para R$ 345 bilhões — crescimento real de 23,2%. Contudo, a renda média do trabalhador, que chegou a R$ 3.410,00, ainda cresce em ritmo lento. O incremento do Bolsa Família, somando R$ 13,6 bilhões mensais, tem sustentado parte do consumo, mas não garante impulso duradouro ao varejo. Isso porque o aumento do poder de compra é corroído pela inflação, especialmente dos alimentos, cuja alta de 7,88% nos últimos 12 meses afeta diretamente o orçamento das famílias mais pobres.
A inflação, aliás, é hoje o principal freio ao consumo, somando-se às taxas de juros elevadas que dificultam o acesso ao crédito. Embora o volume total de crédito concedido no país tenha triplicado em uma década, o risco de inadimplência persiste, com índice atual de 3,8%, próximo ao de 2015. O endividamento das famílias, em 48,18% da massa salarial, mostra estabilidade, mas em um patamar elevado. Esse cenário financeiro leva à racionalização nas compras e afeta negativamente os canais de varejo, principalmente os de menor valor agregado.
A confiança do consumidor — variável menos tangível, mas altamente influente — segue em queda. O índice de 84,5 registrado em abril reflete pessimismo quanto ao futuro, ainda que os dados do presente não sejam catastróficos. A queda na expectativa de melhora impacta diretamente o planejamento de consumo das famílias e a estratégia de investimento das empresas. A hesitação em consumir ou investir tem efeito em cadeia, gerando desaquecimento econômico e reduzindo a eficácia de políticas públicas voltadas à retomada.
Diante desse panorama, a conclusão é inevitável: o cenário está longe de animador e pode piorar antes de melhorar. A expansão de programas sociais, reajustes salariais no setor público e tentativas de facilitar o crédito são insuficientes diante da inflação persistente e da alta dos juros. No plano empresarial, a palavra de ordem é cautela. Para os consumidores, o recado é claro: é hora de conter os impulsos e planejar cada gasto com atenção redobrada.
Fonte: Ana Gimonski | Foto: Divulgação
Bem-vindo a
Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI
© 2025 Criado por Textile Industry.
Ativado por
Você precisa ser um membro de Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI para adicionar comentários!
Entrar em Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI