Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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China e Índia optaram pelo "pragmatismo de resultados".

Na segunda parte de sua entrevista exclusiva ao MM, o economista Xavier Richet, da Universidade de Paris III (Sorbonne Nouvelle), especialista em economias emergentes, compara os modelos de desenvolvimento chinês e indiano. Richet afirma que, mesmo existindo estratégias nacionais de desenvolvimento, a chave para entender o dinamismo das duas economias é a desregulamentação.

"Enquanto na China as grandes empresas são estatais, a Índia optou por aproveitar a herança inglesa e reforçar suas maiores corporações de propriedade familiar. É um "pragmatismo de resultados", cujo objetivo inicial era alimentar mais de um bilhão de pessoas", afirma Richet, acrescentando que as empresas privadas chinesas, temendo a intervenção do Estado, investem pesadamente em paraísos fiscais: "Cerca de 13% dos investimentos chineses vão para a América Latina. Porém, na verdade se destinam a paraísos fiscais."

A Índia é outro gigante emergente. Quais as semelhanças e diferenças em relação ao modelo chinês?

A Índia se concentrou numa dimensão pós-colonial, assumindo o modelo típico da Inglaterra, de formação de elites. Criou universidades e centros educacionais com excelentes resultados e dedicou-se também à formação de grandes grupos industriais sob controle de famílias.

O país consolidou grandes conglomerados, não voltados para a exportação, mas para o mercado interno. Bastante diferente do modelo chinês, mercantilista, voltado para o mercado externo. Os conglomerados indianos desenvolveram competências muito fortes, inclusive financeira, o que permitiu se posicionarem bem na produção com alto valor agregado, ao contrário do que ocorreu na China.

Apesar das diferenças, é correto afirmar que nos dois casos houve uma estratégia do Estado?

Na verdade, o Estado desregulamentou, tanto na China, quanto na Índia. Em alguns setores estratégicos, principalmente na China, houve planos, mas não há a visão de ocupar determinados setores da produção mundial.

Pelo contrário, até 2002, há uma forte desregulamentação e ausência do Estado. Quando se fala hoje, por exemplo, sobre o papel do Estado na China, com relação à conquista do mercado externo, é algo muito recente, de 2002, com a entrada do país na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Então seria uma adaptação do Consenso de Washington?

Não. Fizeram a desregulamentação, mas não tinham uma visão pré-determinada sobre a direção a seguir. A diferença é muito simples. O Consenso de Washington recomendava um determinado conjunto de políticas para obter resultados pré-estabelecidos.

O objetivo, no caso de China e Índia, era alimentar mais de um bilhão de pessoas. Um pragmatismo de resultados. Há um medo atávico na China de que o governo possa tomar o dinheiro das empresas. Então, boa parte deles é aplicada fora do país, a partir de Hong Kong, embora a sede da empresa continue na China.

Isso é autorizado pelo governo?

Fazem uma ciranda. O dinheiro vai e volta. Boa parte vai para Ilhas Cayman ou Ilhas Virgens. Cerca de 13% dos investimentos chineses vão para a América Latina. Porém, na verdade se destinam a paraísos fiscais.

Estamos longe da transparência. As cifras oficiais falam de apenas 4%, mas as fontes ocidentais estimam que apenas 65% dos investimentos passam por Hong Kong. Em todo caso, nunca existiu uma visão anterior do Estado.

Como é na Índia?

Na Índia, o Estado também não diz para as empresas o que têm de fazer. Foram se especializando em mais valor agregado, sobretudo informática. Muitas vezes se apresenta, corretamente, a China como a fábrica do mundo e a Índia como escritório do mundo, porque o primeiro se especializou na produção de bens materiais, enquanto que os indianos teriam optado pelo setor de serviços. É uma constatação.

Quem se saiu melhor?

Há uma classificação muito interessante de uma grande empresa de consultoria norte-americana, a Boston Consult Group (BCG), de que, entre as empresas com melhores resultados dos Brics, há 47 empresas chinesas, a maioria com capital estatal; 25 indianas, com capital totalmente privado, dos setores de farmácia, informática, eletrônica; sete brasileiras, entre elas a Petrobras; e outras sete sediadas na Rússia. São as que mais investem no exterior. Há também oito firmas mexicanas neste grupo.

Então, o motor desse desempenho, apesar da desregulamentação, pelo menos no caso da China, é o Estado?

No caso da China, sim. Já na Índia e no México é o mercado.

Não há contradição nisso?

Partindo de um momento-chave, o início dos anos 2000, que é o momento da abertura, no caso chinês, excetuando algumas empresas estratégicas, foi permitida a entrada de empresas estrangeiras.

As exceções ficam predominantemente no setor bancário, no qual há seis bancos fortes, com grande presença do Estado.

No máximo, permite-se associações com instituições estrangeiras. Já no plano internacional, a partir da entrada da China na OMC, em 2002, fica clara a estratégia de internacionalização das empresas chinesas, que tiveram crescimento exponencial.

Existe algum caso similar ao chinês?

Hoje, a China é muito parecida com as empresas norte-americanas dos anos 50 e 60, quando começaram a se internacionalizar e a competir em outros mercados. Um grande exemplo e o setor automobilístico. Na China, encontramos as grandes montadoras norte-americanas, francesas, japonesas.

As empresas chinesas produzem também para o mercado interno, mas a população prefere os carros de luxo europeus e norte-americanos.

Então a China fica um pouco obrigada a vender para o exterior, porque em casa preferem Mercedes, Renaut, Volvo, embora a produção tenha melhorado muito o nível, levando o país a ser o primeiro produtor mundial de veículos.

Fiz um estudo sobre a Volvo na China e constatei que a empresa chinesa que comprou a Volvo produz na China para competir com as estrangeiras, por causa do referencial simbólico da Volvo.

O Brasil não tem conseguido construir um sistema nacional de inovação. Em que estágio se encontra a China? O país é uma ameaça para o Brasil?

Quanto à inovação, a China está no mesmo nível de desenvolvimento do que o Japão, embora o país esteja longe de produzir bens de luxo no nível, por exemplo, da indústria automobilística do vizinho asiático.

Já o Brasil, dificilmente terá condições de competir com a China. A mesma empresa que comprou a Volvo, para oferecer carros de luxo ao mercado interno, atualmente está investindo no Irã, na Malásia, em países com mão-de-obra barata, não para produzir o Volvo de luxo, mas carros para renda mais baixa.

É um mercado que o Brasil poderia ocupar, pelo menos na América Latina, mas não se vê condições para isso. A China importa commodities do Brasil, mas por outro lado, produz bens capazes de concorrer com o seu país na Argentina, México, Peru.

Rogério Lessa

Fonte:http://diplomatizzando.blogspot.com.br/

Xavier Richet/Universidade de Paris III

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Comentário de Romildo de Paula Leite em 4 dezembro 2012 às 20:45

Já o Brasil, dificilmente terá condições de competir com a China. A mesma empresa que comprou a Volvo, para oferecer carros de luxo ao mercado interno, atualmente está investindo no Irã, na Malásia, em países com mão-de-obra barata, não para produzir o Volvo de luxo, mas carros para renda mais baixa.

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