Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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China quer financiar projetos no Brasil em troca de produtos

Kim Kyung-Hoon/AP / Kim Kyung-Hoon/APMichel Temer e o presidente da China, Xi Jinping, durante encontro em Pequim

A China sinalizou ao Brasil que está disposta a financiar projetos bilionários no país e receber em troca produtos como pagamento. A oferta foi mencionada ontem pelo vice-presidente da China, Li Yuanchao, ao vice-presidente da República, Michel Temer, em encontro no Palácio do Povo, em Pequim. É o mesmo tipo de iniciativa que Pequim tem com a Venezuela e faz parte da estratégia do país de assegurar acesso às commodities de que necessita.

Mais tarde, o presidente chinês, Xi Jinping, reafirmou a Temer que Pequim quer elevar o patamar das relações econômicas e comerciais com o Brasil. Para isso, sugeriu aproveitar o aniversário de 40 anos de reatamento das relações diplomáticas e dos 20 anos da parceria estratégica.

"Convidamos os chineses para investir no Brasil nessas coisas todas que estamos fazendo, e ele [o vice-presidente chinês] disse que os bancos chineses podem financiar e seriam ressarcidos com o produto financiado, como petróleo, gás e outros", disse Temer.

A China mencionou o modelo do Fundo de Investimento China-Venezuela, pelo qual já teria fornecido crédito de até US$ 32 bilhões ao país sul-americano em troca de petróleo. "Ele abordou o modelo venezuelano", confirmou Temer, reiterando que os chineses enfatizaram que os bancos estão dispostos a financiar projetos no Brasil.

O vice-presidente brasileiro afirmou que levará a oferta ao Brasil. "O Brasil tem que investir muito no campo de Libra, onde a Petrobras ficou com grande parte. Se eventualmente houver um financiamento chinês, o que o Brasil pode fazer é pegar o dinheiro, que será pago com produtos, e aplicar em outras coisas em nosso país."

Fontes que conhecem bem os chineses ressaltam dois pontos. Primeiro, a diferença de situação entre o Brasil e a Venezuela. Os venezuelanos usam o crédito chinês quase como um orçamento paralelo. A oposição acusa o governo de ter hipotecado as reservas de petróleo do país para ter um mecanismo de investimento do qual até hoje não se sabe precisamente quanto Caracas recebeu e o que tem feito com o dinheiro.

Além disso, a China empresta nas condições do mercado. O BNDES chegou a obter empréstimo chinês, que resolveu engavetar, ao constatar que poderia obter a mesma quantia com taxa de juro menor no mercado internacional. Fonte que conhece bem os acordos feitos pelos chineses diz ainda que, pelo menos do ponto de vista jurídico, o financiamento de US$ 10 bilhões obtido pela Petrobras há alguns anos, e que está sendo pago com petróleo, e o Fundo China-Venezuela são modelos diferentes.

Os chineses mostraram interesse na participação em projetos de ferrovia no Brasil. Segundo o vice-presidente Li Yuanchao, a experiência chinesa mostra que, para desenvolver a economia, é necessário desenvolver a indústria, e para desenvolver a indústria é preciso ter bom sistema de transportes.

O Banco de Desenvolvimento da China, uma espécie de BNDES gigante, colocou no seu radar a ferrovia Cuiabá-Santarém, segundo fontes. O representante do banco chinês recebeu agora visto de permanência de um ano, quando antes tinha visto de três ou seis meses, diante da movimentação para financiar projetos no Brasil.

Juntamente com a promessa de investimentos, os chineses podem insistir na demanda de derrubada da "burocracia de contratos" no Brasil, o que para eles significa receber sinal verde para a entrada de trabalhadores chineses nos projetos que financiarem, como é feito na África. O Brasil recusa isso. "Se houver médico chinês disposto a ir trabalhar no Brasil, a possibilidade de visto é mais rápida', respondeu Temer, ao ser indagado por um jornalista da imprensa chinesa sobre a possibilidade de um cidadão chinês obter visto de trabalho.

O vice-presidente chinês sugeriu ao Brasil ficar atento às reformas que Pequim está fazendo, que, segundo ele, abrirão mais possibilidades para o Brasil, por exemplo com ampliação da importação chinesa de produtos brasileiros de maior valor agregado, que é uma demanda frequente de Brasília. Mais de 80% das exportações brasileiras para a China em 2012 foram compostas de apenas três commodities - minério de ferro, soja e petróleo -, enquanto 97% das exportações chinesas foram produtos manufaturados.

Na conversa com o representante brasileiro, Li Yuanchao reiterou que, na relação bilateral, deve-se incentivar a luz verde, usar raramente a luz amarela e nunca usar a luz vermelha. Temer viu nisso um sinal de que o embargo sobre a carne bovina será suspenso com mais rapidez.

Por Assis Moreira | De Pequim

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