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China vê valorização do yuan como saída -Estadão

 

 

 

China vê valorização do yuan como saída

Mudança no câmbio ajudaria a reduzir ritmo de acumulação de reservas, de US$ 3,2 tri

13 de agosto de 2011 | 0h 00

 
 
Cláudia Trevisan - O Estado de S.Paulo

CORRESPONDENTE / PEQUIM

David Gray/Reuters
David Gray/Reuters
Acúmulo. Chinês confere celular entre pneus novos em Pequim: valorização da moeda faria o país depender menos do dólar

 

A crise da dívida americana deu um sentido de urgência ao projeto de reestruturação da economia chinesa e pôs no centro do debate a questão da valorização do yuan, que deixou de ser um tabu e passou a ser defendida abertamente por inúmeros economistas, incluindo vários ligados ao governo.

A mudança no câmbio é considerada essencial para pôr fim ao processo de acumulação de reservas da China, que já é de US$ 3,2 trilhões, mais que todo o PIB brasileiro. A administração desses recursos se tornou delicada após a redução da nota de crédito dos Estados Unidos pela agência Standard & Poor"s, e da perspectiva de desvalorização constante da moeda americana.

Pequim é o maior credor de Washington, com pelo menos US$ 1,16 trilhão em títulos do Tesouro. Analistas estimam que 70% dos US$ 3,2 trilhões de reservas estão investidos em ativos denominados em dólar, cujo valor relativo seria reduzido na hipótese de desvalorização.

Com o agravamento da crise da dívida na Europa, há poucas opções seguras e líquidas para a China aplicar sua reservas. A saída é reduzir seu ritmo de acumulação. Para que isso ocorra, é necessário que o BC restrinja as compras de dólares, euros ou ienes que entram no país, o que evitaria a valorização do yuan. A moeda mais valorizada diminuiria o superávit comercial, em razão da queda nas exportações e aumento das importações.

A especulação em torno do aumento no ritmo de valorização do yuan ganhou força no fim da semana, depois de o BC ter empurrado a cotação em relação do dólar a níveis recordes por três dias seguidos. Ontem, o yuan chegou a 6,3890 por US$ 1, encerrando uma semana na qual a valorização foi a maior desde que o governo voltou a permitir a alta da moeda, em meados de 2010.

O Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista, publicou texto ontem no qual cita "analistas" para dizer que a China aceitará uma valorização mais rápida do yuan, que também levaria à redução no fluxo de capital especulativo ao país e facilitaria o combate da inflação.

A grande questão é o ritmo da valorização. Tudo indica que Pequim manterá a opção pelo gradualismo, ainda que menos lento. O problema é que isso pode funcionar como estímulo para o aumento do fluxo de capital especulativo, já que os investidores apostariam na valorização futura do yuan. Nesse cenário, as reservas continuariam a se acumular, pois haveria elevação da quantidade de recursos externos que entram na China.

Outro dado que esquentou o debate foi o inesperado superávit comercial de US$ 31,5 bilhões de julho, o maior em dois anos. Para muitos, é um indício de que a China tem espaço para valorizar a moeda mais rapidamente.

Dong Tao, economista-chefe para a Ásia (menos Japão) do Credit Suisse, afirma que os líderes chineses adotaram a decisão de internacionalizar o yuan depois da quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008. No início de 2009, o presidente do BC, Zhou Xiaochuan, defendeu a substituição do dólar como moeda de reserva global e ampliação do uso do yuan fora do país. Essa mudança reduziria a dependência da China - e do mundo - dos investimentos em dólar.

Zhang Lei, analista da Minsheng Securities em Xangai, defende a mudança no regime cambial para reduzir a pressão da acumulação de reservas e acelerar a transformação do modelo de desenvolvimento do país, com redução dos investimentos e aumento do consumo.

Em entrevista ao Estado na semana passada, o diretor do Centro de Pesquisa em Reservas Internacionais da Universidade Central de Finanças e Economia de Pequim, Li Jie, afirmou que o rebaixamento dos EUA pela S&P pôs em xeque a arquitetura econômica internacional da última década, na qual a China poupava e os EUA gastavam.

O câmbio desvalorizado era um dos elementos da equação, que permitia aos chineses exportar aos americanos, acumular reservas e usar esses recursos para financiar o déficit de Washington. "Esse modelo podia ser mantido enquanto os Estados Unidos provessem o mundo com débito seguro, mas isso deixou de existir", disse Li, para quem a valorização do yuan é essencial para a mudança desse cenário.

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