Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Como anda a produção de algodão no Brasil?

Quando adquirimos uma roupa ou qualquer outro artigo oriundo da indústria têxtil e confeccionista, pouco paramos para pensar na sua origem e processo produtivo.

 

Contudo cada produto proveniente desta indústria passa por uma série de etapas, algumas até geograficamente bastante distantes, até chegar ao consumidor final.

Fonte: RECH, S. R. “Estrutura da Cadeia Produtiva da Moda”. In Modapalavra e periódico, Ano 1, n.1, pp. 7-20, jan-jul 2008.

Analisando a cadeia produtiva da moda vemos que o seu ponto de partida encontra-se na fornecimento de fibras, que podem ser sintéticas ou naturais. As fibras sintéticas são produzidas quimicamente através de processos industriais específicos, ao passo que as fibras naturais são produzidas pela agroindústria, quase sempre através da produção e beneficiamento do algodão, que pode ser arbóreo ou herbáceo.

 

No Brasil, a produção de algodão em sua maioria ocorre através do cultivo da espécie herbácea, ou seja, aquele algodão que é plantado e colhido anualmente. A preferência por este tipo de algodão existe por esta ser uma espécie não perene, cujo tempo de vida se restringe a uma safra, e portanto apresenta menor complexidade no controle de pragas. Já a espécie arbórea, por ser semiperene, apresenta maior dificuldade neste controle, já que você não se pode cortar cada árvore ao sinal de um infestação.

 

Diante da importância desta cultura para o desenvolvimento da indústria têxtil e confeccionista, nós vamos aqui discutir um pouco sobre o cenário atual da produção de algodão no Brasil e lançar alguns questionamentos a respeito das políticas públicas a ela destinadas.

 

Vamos começar apresentando alguns dados importantes sobre o algodão no Brasil...

Você sabia que o Brasil é o 5º maior produtor de algodão do mundo? Ficando atrás apenas da China, Índia, Estados Unidos e Paquistão.

 

Que em 2012 o Brasil foi o 3º maior exportador de algodão no mundo? Só perdeu para os Estados Unidos (1º) e a Índia (2º).

 

No cenário interno o Brasil também se destaca: é o quinto maior consumidor, com o consumo de quase 1 milhão toneladas/ano.

 

Tendo como base uma cultura temporária, cujo cultivo é feito em grande escala de forma mecanizada, a produção de algodão no Brasil apresenta uma elevada produtividade.

Área plantada

Em mil hectares

Produção de pluma

Em mil toneladas

Produtividade de pluma

Em kg/ha

Esta produção concentra-se nas regiões Centro-Oeste e Nordeste, com maior participação dos estados de Mato Grosso e Bahia (extremo oeste).

Produção em toneladas.

Esta produção apresenta uma alto grau de profissionalização e articulação política nacional e internacional. Os produtores brasileiros, em sua maioria, fazem parte de associações estaduais de produtores de algodão e da Associação Brasileira de Produtores de Algodão (ABRAPA), e se beneficiam de apoios técnico e financeiro de instituições como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), associação civil sem fins lucrativos fundada em junho de 2010, para gerir os recursos financeiros oriundos do Commodity Credit Corporation, órgão pertencente ao governo americano, como solução parcial do contencioso do algodão na Organização Mundial do Comércio – OMC (WT/DS267). O IBA tem como objetivo promover o desenvolvimento e fortalecimento da cotonicultura brasileira, observando as melhores práticas de gestão, governança e transparência. Além disso, o Brasil é um dos fundadores do Comitê Consultivo Internacional do Algodão (ICAC, na sigla em inglês).

 

Com isso, ao longo da última década, o Brasil deixou a condição de importador e passou a atender o mercado interno com excedentes para ocupar o terceiro lugar na lista de maiores exportadores.

Todavia esta não é uma posição segura, uma vez que a área plantada oscila conforme o preço da commodity no mercado internacional e os números da produção variam bastante.

 

Exemplo disso são os dados da ABRAPA divulgados no dia 05/07/2013 que estimam que o Brasil precisará importar cerca de 200 mil toneladas de algodão entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014 visando atender à indústria têxtil, uma vez que a oferta interna não será suficiente para cobrir a necessidade do setor.

 

Isso porque, uma prática comum dos produtores brasileiros consiste em atrelar uma parte da sua produção, no momento antes do plantio, aos compromissos de exportação como adiantamento sobre contrato de câmbio. Segundo a ABRAPA a produção de 2012-2013 foi estimada em 1,25 milhão de toneladas, mas deste total 450 mil toneladas já estavam comprometidas para exportação. Sendo a demanda da indústria têxtil estimada em cerca de 1 milhão de toneladas, não haverá outra solução que importar algodão para atender à demanda esperada pelo setor.

SAFRA 2011-2012 - 3º MAIOR EXPORTADOR

SAFRA 2012-2013 - NECESSIDADE DE IMPORTAR

Confira dados e números gerais da indústria da moda brasileira referentes ao ano de 2012:

* Faturamento: US$ 56,7 bilhões

* Número de empresas: 32.600 (com mais de 5 funcionários)

* 5º maior produtor têxtil do mundo

* 4º maior produtor de confeccionados do mundo

* Exportações (sem fibra de algodão): US$ 1,28 bilhão

* Importações (sem fibra de algodão): US$ 6,60 bilhões

* Saldo da balança comercial (sem fibra de algodão): US$ 5,32 bilhões negativos

* Investimentos de US$ 10 bilhões nos últimos 5 anos

* Produção média de confecção: 9,8 bilhões de peças por ano

* Trabalhadores: 1,658 milhão de empregados diretos, dos quais 75% são mão de obra feminina

* 2º maior empregador da indústria de transformação brasileira

* 2º maior produtor e 3º maior consumidor de denim do mundo

* Representa 16,4% dos empregos da indústria de transformação e cerca de 5,5% do PIB industrial brasileiro.

 

FONTE: Texbrasil e Fashion Bubble

 

Com base nos dados aqui apresentados, vamos passar a alguns questionamentos...

 

Tendo como base esta sensibilidade do algodão aos preços internacionais, qual o impacto na indústria têxtil brasileira? Qual o impacto na cadeia produtiva da Moda no Brasil e no mundo?

 

As políticas nacionais de incentivo à produção de algodão alinham-se às políticas de incentivo e apoio à indústria têxtil brasileira?

 

Estes setores precisam de uma maior articulação?!

 

Precisamos pensar mais sobre isso!

 

Mariana Lammas

Mestre em Geografia em Ênfase em Análise Ambiental e Dinâmica Territorial pela Unicamp


Tendere - Pesquisa de Tendências e Consultoria em Moda, Beleza e Design

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Comentário de Everton Viana C. Neves em 3 agosto 2013 às 19:53

É preciso que tenhamos preços para que o consumo de peças do vestuário e promocional voltem em demanda, já que o poliéster tomou uma boa fatia, em virtude dos preços mais atrativos, porém um artigo menos, gostoso, de se usar!

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