Abafar conversas sobre o tema nas empresas tem se tornado prática comum no mundo corporativo.
Em um país polarizado politicamente, declarar os próprios posicionamentos pode ser perigoso e uma atitude desaconselhada – a depender do ambiente. Nas corporações, a preocupação com as conversas sobre o assunto entre os funcionários tomou uma proporção ainda maior por estarmos em ano de uma eleição em que os ânimos estão à flor da pele. Mas, até que ponto as empresas devem interferir nesse tipo de interação entre os colaboradores?
Para mim, o ponto de partida dessa discussão deve considerar que a vida já é um ato político. O que quero dizer com isso é que, assim que nascemos, com nossas características físicas, sociais e culturais, já estamos inseridos em várias intersecções da sociedade, que fazem com que tenhamos um lado para o qual lutar. Então, como separar a política – que tange a vida social – e a convivência no trabalho?
Aqui, vale lembrar que política não se refere apenas a candidatos ou partidos, mas a todos os temas que permeiam as nossas vidas, como o preço dos alimentos básicos, a mobilidade social, a equidade de gênero e o emprego, por exemplo. Por isso, se basta nascer para ter que lutar para ter seus direitos e interesses defendidos, não acredito que a pauta política deve ser silenciada nos corredores do escritório ou até no bate-papo final das reuniões online.
Na sigla ESG, o S de “social” também envolve a promoção de um ambiente agradável e confortável para que os colaboradores interajam. Nesse sentido, garantir que os funcionários possam manifestar seus posicionamentos políticos e estejam livres para suscitar discussões em prol de uma empresa que acolha e equipare diferentes tipos de pessoas é um aspecto essencial para se enquadrar nos parâmetros medidos pelo indicador corporativo.
Nesse contexto, destaco que a população negra ainda é minoria nos cargos de liderança, segundo dados da Pnad, do IBGE. Além disso, também não alcançamos a equidade de gênero e há uma série de mudanças a serem feitas para que as minorias passem a ser mais representadas no mercado de trabalho. Transformar esse panorama faz parte da política e exige discussão.
Dito isso, reafirmo que falar sobre política não deve ser sinônimo de embates com os outros funcionários, mas sim uma porta aberta ao diálogo considerando outros pontos de vista. Não existe mudança e mobilização sem a abertura para o questionamento. Então, por que em vez de tentarmos abafar os temas que permeiam toda a nossa existência, não damos espaço para que eles deixem de ser tabus, e, consequentemente, deixem de gerar medo e ódio entre diferentes grupos de pessoas? Afinal, somos nós, essas mesmas pessoas atravessadas, que seguimos construindo estratégias de negócios e para as marcas.
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