Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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De insolvência em insolvência, a fábrica das camisas Victor Emmanuel fechou

A Califa, em São João da Madeira, chegou a produzir 3000 camisas por dia, a empregar 300 operários. O patrão está preso por fuga ao fisco e a confecção deverá continuar em Luanda

Foi com a passagem do século que a têxtil Califa, da zona industrial de São João da Madeira e com as requintadas camisas Victor Emmanuel no currículo, começou a perder o fôlego. A facturação diminuía, os lucros emagreciam, o Estado batia-lhe à porta exigindo os pagamentos devidos. Hoje, a fábrica inaugurada em 1966 pelo então Presidente da República Américo Tomaz está fechada e nas mãos da banca. O patrão está preso por fuga ao fisco com uma pena de três anos. Os cerca de 120 ex-trabalhadores aguardam as indemnizações.

No último processo de insolvência, um investidor angolano do sector têxtil comprou as marcas da Califa, equipamentos, produtos acabados - onde estão mais de 10 mil camisas Victor Emmanuel - que serão levados para Luanda, juntamente com pessoal técnico que assegure a produção. Esta compra de 1,2 milhões de euros está prestes a ser concluída.

2012 foi o ano negro para a Carlos Teixeira da Silva & Filho, empresa que nasceu em 1965 em São João da Madeira para produzir e vender as camisas Califa - nome da marca que se confundia com o nome da firma - e que mais tarde viria a criar, produzir, comercializar e exportar as camisas Victor Emmanuel pela Europa e Estados Unidos. Em Maio de 2012, os cerca de 120 trabalhadores rescindiram os contratos com dois salários e quatro subsídios em atraso, depois de um processo de pré-avisos de greve, ordenados em falta, vigílias para impedir a saída de material.

Em Julho desse ano, o empresário Joaquim José Teixeira da Silva, filho do fundador da Califa e criador da Victor Emmanuel, foi condenado a três anos de prisão por dívidas ao Estado. Em Setembro, a decisão transitou em julgado. Nesse mês, os trabalhadores votaram a liquidação da empresa, no âmbito de mais uma insolvência. Em Outubro, o recurso do empresário deu entrada no tribunal uma semana depois do prazo. Aos 73 anos, o dono da Califa está preso em Custóias desde Janeiro de 2013 e responde por mais um processo de fuga ao fisco e à Segurança Social no valor de 332 mil euros. O julgamento começou no final do mês passado e o arguido não compareceu na audiência.

Nada era deixado ao acaso na produção das camisas Victor Emmanuel. A matéria-prima era escolhida a dedo. O metro de tecido chegava a custar 300 escudos. Muito material passou pelas mãos de Mário Moreira, que entrou para a fábrica com 13 anos e ali ficou 42. “Uma camisa clássica tinha quatro qualidades de botões que eram lavados com lixívia para ficarem todos da mesma cor”, recorda o ex-operário. Entrou como empregado de embalagem. Referenciava camisas, metia-as dentro das caixas, tratava dos despachos. O patrão percebeu o desenrasque e Mário foi transferido para o sector de exportação, onde ficou 12 anos, antes de passar para o armazém e ficar responsável pelas encomendas. Às sextas-feiras, o trabalho prolongava-se até às três da manhã para colocar as camisas nos cinco ou seis camiões que estacionavam na empresa. “Gostava muito do que fazia, ainda hoje sonho com isso”, confessa.

Arlinda Oliveira, sua esposa, perdeu a conta às vezes que bordou à máquina o VE de Victor Emmanuel. Entrou na Califa com 14 anos e começou por bordar o símbolo dessa marca em lenços masculinos para assoar o nariz. “A camisa Victor Emmanuel era uma camisa de prestígio”, garante. As costureiras sabiam que o produto era de alta qualidade. “Naquela altura, ganhava-se benzinho e erámos uma grande família. Era a nossa casa”. O fim da fábrica desassossegou-lhe o coração. O casal ficou sem trabalho.

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