Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Dilma não mudou – parte 2. Ou: Contradição no BNDES mostra que o discurso é novo, mas a prática é velha

Levy e Barbosa: um está só fazendo o trabalho sujo para o outro

Acabo de escrever um longo texto argumentando que a presidente Dilma não mudou de verdade, que apenas adotou um novo discurso para ganhar tempo, para ludibriar o mercado e sobreviver, e leio logo depois a coluna de Demétrio Magnoli no GLOBO que vai exatamente na mesma linha. O sociólogo cita inclusive o caso de Lenin e sua Nova Política Econômica, ou seja, estamos alinhados na interpretação do que está em curso no Brasil.

Demétrio usa declarações dos próprios petistas do alto escalão para mostrar como a escolha de Joaquim Levy para a Fazenda foi tática, com caráter “simbólico”, ou seja, pelo impacto que produziria no mercado, não por representar efetivamente uma mudança de curso. Uma “inflexão temporária”, enfim. Ou “um passo atrás para dar dois passos à frente”.

Levy é o “banqueiro” ortodoxo necessário no momento para limpar a sujeira deixada pelos desenvolvimentistas com sua “nova matriz macroeconômica”. Como já fiz alusão aqui, trata-se de uma espécie de “the cleaner” do filme “Pulp Fiction”, aquele sujeito que chega para limpar o rastro de sangue deixado pelas trapalhadas da máfia. Demétrio conclui:

O lulopetismo não é um movimento de ruptura, como o chavismo. Essencialmente conservador, sua película ideológica circunscreve-se, na esfera da política econômica, à expansão dos investimentos das estatais, do gasto público, do crédito ao consumo e dos subsídios para o alto empresariado. A receita populista, mal denominada “keynesiana” por seus arautos, não é sustentável ao longo da fase de baixa do ciclo econômico — e, por isso, precisa ser corrigida periodicamente por ajustes recessivos. É aí que entra o “banqueiro”, convocado para salvar os “companheiros” das consequências de seus alegres folguedos.

A equipe econômica anunciada pela presidente é uma síntese, produzida na hora da crise, da alma dúplice do lulopetismo. De certa forma, Gilberto Carvalho tem razão. Tanto Joaquim quanto Barbosa fazem parte “desse projeto” de reiteração pendular de nossa mediocridade. O “mercado” pode celebrar; o Brasil, não.

Não concordo com o uso do termo “conservador” para descrever o PT de forma alguma. Acho que é um partido de ruptura sim, disposto a caminhar na direção bolivariana, de levar o Brasil rumo ao modelo autoritário existente na Venezuela. Como já disse o próprio Lula, ele dirige na mesma direção que Chávez, mas usando um carro mais lento.

Mas concordo quando Demétrio diz que a síntese desse modelo, por enquanto, é o “capitalismo de estado”, ou seja, a expansão dos investimentos das estatais e do gasto público em uma simbiose com grandes empresas. E para perpetuar esse “projeto”, foi preciso engolir um “fiscalista” ortodoxo no “comando” da economia por algum tempo.

Uma evidência disso está disponível na reportagem de capa do caderno de Economia do GLOBO de hoje. O BNDES vai receber novo aporte de R$ 30 bilhões, contrariando o discurso novo e deixando claro que as “mudanças” são falsas. As práticas são as mesmas de antes, nada mudou de fato.

“É o tipo de coisa que a gente não esperava mais que fosse acontecer. É mais um repasse que vai aumentar a dívida bruta e que põe em dúvida aquilo que falou Levy sobre parar de fazer os aportes”, afirma a professora Margarida Gutierrez, do Coppead/UFRJ. “Muito estranho, porque não confere com o que vem sendo dito, e de forma correta, pela nova equipe econômica”, diz José Roberto Afonso, do Ibre. “É mais do mesmo. É exatamente o que o ministro Levy disse que não faria”, disse Alexandre Espírito Santo, professor do Ibmec.

Quem quiser acreditar que Dilma realmente mudou é livre para tanto. Mas recomendo cautela. A decepção será diretamente proporcional ao otimismo de agora. Escorpiões não mudam. Picam a rã, mesmo que isso os afunde junto na travessia…

Rodrigo Constantino

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