Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Dinâmica das Exportações - Abismo da Competitividade

Autor(es): Otaviano Canuto, Matheus Cavallari e José G. Reis
Valor Econômico - 17/01/2013
 

 

O saldo da balança comercial brasileira atingiu em 2012 o menor valor em muitos anos. Embora esse resultado chame a atenção para os problemas do comércio exterior brasileiro, muito mais preocupante - e relevante para a condução da política economica - nos parece ser a dinâmica recente das exportações brasileiras. Em artigo publicado recentemente na Revista Brasileira de Comércio Exterior, da Funcex, fizemos um detalhado exame do desempenho das exportações brasileiras nos últimos 15 anos, explorando comparações internacionais, bem como novas bases de dados. Os resultados parecem reafirmar a presença de sérios problemas de competitividade no país.

Não que a economia brasileira tenha problemas de capacidade para expandir ou diversificar suas exportações. Na esteira do forte crescimento econômico mundial com consequente expansão do comércio internacional e contando com preços de commodities extremamente favoráveis, as exportações brasileiras de bens e serviços cresceram nada menos que 262% entre 2000 e 2010, praticamente o dobro da média mundial (135%). Ademais, ao contrário do que possa parecer, o problema das exportações brasileiras não é a falta de diversificação.

Reconhecido como "global trader" e ostentando uma ampla disponibilidade de recursos naturais, além de uma estrutura industrial bastante diversificada, o Brasil mostra uma significativa diversificação tanto de destinos, quanto de produtos, sendo superado apenas por países desenvolvidos e algumas economias emergentes da Ásia, como a China. Isso sugere a existência de um considerável potencial em termos de ampliação das exportações, dado que os custos fixos impostos para entrar em novos mercados já foram em larga medida superados.

Nossas vendas ao exterior foram mais "puxadas" do que propriamente "impulsionadas"

A despeito do bom desempenho agregado, um olhar mais atento sugere uma dinâmica recente preocupante. Primeiro, fica claro que as exportações brasileiras se beneficiaram de efeitos de composição setoriais e geográficos. Em outras palavras, as exportações foram mais "puxadas" pelo crescimento acentuado de nossos produtos e do mercado exterior do que propriamente "impulsionadas" por ganhos locais de competitividade. Excluídos esses efeitos de composição, o crescimento das exportações brasileiras associado mais diretamente à competitividade se reduz para pouco menos de 2% por ano em média, ainda significativo, mas inferior ao observado na China, Índia, México e Turquia, por exemplo. No período pós-crise, excluídos esses mesmos efeitos, o crescimento das exportações brasileiras associado mais diretamente à competitividade foi de apenas 1,1%, o menor entre os países em desenvolvimento.

Chama ainda mais a atenção a baixa e decrescente entrada de firmas no mercado exportador. A taxa de entrada de exportadores já era baixa no Brasil e reduziu-se para apenas 22% nos últimos anos (ou seja, a proporção de novos exportadores é de 22% - firmas que exportam em um determinado ano sem tê-lo feito no ano anterior). Além de ser muito inferior aos valores observados nos 44 países disponíveis para comparação na base de dados do Banco Mundial (em torno de 35% a 40%), o Brasil mostra a mais baixa taxa de entrada. Esse resultado é corroborado por indicadores recentes apresentados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, sendo bastante preocupante.

Afinal, diversos estudos apresentam evidência convincente de que novos exportadores são mais produtivos em média do que os não exportadores. O baixo e decrescente ritmo de entrada de exportadores pode estar associado a níveis baixos de produtividade das firmas, ou a elevados custos para exportar, ou a ambos.

De qualquer forma, trata-se de um "sinal amarelo" que requer um diagnóstico mais detalhado para orientar ações de política econômica.

Nos anos recentes houve uma tendência à menor diversificação de produtos exportados, além de uma clara redução da parcela de maior conteúdo tecnológico nas exportações brasileiras. Os produtos primários e os derivados de recursos naturais ganharam significativa participação entre 2000 e 2010. Contudo, a queda da parcela de produtos de maior conteúdo tecnológico não foi reflexo apenas de um sucesso exacerbado das commodities na pauta brasileira, mas de um desempenho insuficiente em termos absolutos comparativamente às economias emergentes.

Em particular, merece atenção o reduzido grau de abertura comercial no Brasil e nossa limitada conexão com as cadeias de produção global. Mesmo quando considerado o nível de renda per capita e o tamanho do mercado interno, a participação dos fluxos de comércio exterior no Produto Interno Bruto (PIB) segue entre as menores do mundo. O incipiente comércio intra-industrial, além de seu pouco dinamismo recente, atesta esta baixa integração com as cadeias globais. Perseguir maior integração internacional da economia brasileira segue sendo um desafio que pode propiciar amplos benefícios no médio prazo.

O desempenho exportador brasileiro examinado em detalhe parece refletir os conhecidos problemas de competitividade. A agenda é ampla: o ambiente de negócios no Brasil não pode ser considerado favorável - especialmente quando comparado aos demais países - sendo a carga tributária elevada e os custos logísticos de exportação altos.

O governo tem se mobilizado para enfrentar alguns desses pontos, mas parece clara a necessidade de retomar as reformas microeconômicas e reduzir o custo Brasil, inclusive almejando maior produtividade no setor de serviços.

Otaviano Canuto, Matheus Cavallari e José Guilherme Reis são, respectivamente, vice-presidente, consultor e economista-líder no Banco Mundial

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