Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Por Naercio Menezes Filho

De tempos em tempos a sociedade brasileira retoma as discussões sobre o ensino técnico. A preocupação com a educação do jovem para o trabalho eleva-se em épocas de eleições e de baixa produtividade na economia, como atualmente. Programas de expansão de ensino técnico, como o Pronatec, deverão ser amplamente debatidos pelos candidatos a presidente. Alguns analistas argumentam que o brasileiro é obcecado pelo ensino superior e defendem que a expansão do ensino técnico seria suficiente para aumentar a produtividade da nossa economia. Afinal o que dizem os dados?

Não há dúvidas de que o ensino técnico é uma boa complementação para o ensino médio tradicional para os jovens que querem entrar diretamente no mercado de trabalho. Além disso, pode ser um instrumento importante para diminuir a evasão no ensino médio, que chega a atingir 50% em alguns Estados. Na medida em que o ensino técnico é mais voltado para o mercado de trabalho, pode fazer com que o jovem sinta-se mais interessado e estimulado a continuar na escola.

Além disso, em termos salariais, cursar o ensino médio técnico vale a pena. Dados de 2007 (os últimos disponíveis) mostram que fazer o ensino técnico aumenta em 13% o salário mensal do jovem no mercado de trabalho. O retorno econômico também é elevado, desde que os custos não sejam muito maiores do que os do ensino médio comum. Entretanto, esse diferencial só existe para os jovens que vão diretamente para o mercado de trabalho após o ensino técnico. Entre os jovens que cursaram o ensino superior, ter feito ensino técnico não faz diferença. O que conta é a faculdade.

Não há diferença significativa de salário entre os tecnólogos e os formados nos demais cursos de ensino superior

Mas, até que ponto o ensino técnico pode ser considerado como uma alternativa para o ensino superior? Para o aluno médio, pensando em cursar uma faculdade típica, também vale a pena fazer faculdade. O diferencial de salário médio associado ao ensino superior é de 180% atualmente, ou seja, as pessoas com ensino superior completo ganham em média quase três vezes mais do que as pessoas com ensino médio completo. Mesmo quando levamos em conta os custos diretos e indiretos incorridos para cursar uma faculdade, o retorno econômico ainda é bastante elevado.

Pode-se argumentar que esse retorno deve ser muito menor para as faculdades de baixa qualidade. Entretanto, como cerca de 70% das matrículas no ensino superior são no setor privado, é pouco provável que um diferencial de salários dessa magnitude venha apenas das melhores universidades públicas. Mesmo quando olhamos as carreiras com retorno salarial mais baixo, como Filosofia, por exemplo, o diferencial ainda é de 70% com relação ao ensino médio. Além disso, há pesquisas mostrando que esses diferenciais não refletem apenas as melhores características socioeconômicas de quem cursa ensino superior.

Vale notar também que grande parte das pessoas que fizeram ensino técnico acaba trabalhando em ocupações não técnicas. Na verdade, mais da metade das pessoas que cursaram ensino técnico atuam no setor de comércio ou serviços, da mesma forma que aquelas que fizeram somente o ensino médio regular. Somente 20% dos jovens técnicos estão empregados na indústria, por exemplo. Isso não surpreende, pois a maior parte dos empregos gerados atualmente está no setor de comércio e serviços. Será que a formação técnica é necessária nesses casos?

Uma alternativa importante para o jovem que terminou o ensino médio e quer continuar estudando é a graduação tecnológica. Esses cursos duram de dois a três anos, geralmente em áreas técnicas específicas e também conferem o diploma de graduação, formando o que chamamos de tecnólogos. Esse é um tipo de curso ainda pouco avaliado no Brasil. Os dados disponíveis mostram que não há diferença significativa de salário entre os tecnólogos e os formados nos demais cursos de ensino superior. Em outras palavras, para o mercado de trabalho não existe muita diferença entre cursar o ensino superior normal ou tecnológico. Desde que seja ensino superior.

Quando pensamos no que queremos para a educação dos nossos jovens, não devemos nos deixar levar por demandas de setores específicos, mas sim pensar na melhor alternativa para a sociedade. No Brasil apenas 13% de pessoas de 25 a 34 anos tem ensino superior. Quando comparamos com os 64% na Coreia, 43% nos EUA e 42% no Chile, vemos que ainda temos um longo caminho a percorrer, especialmente nas áreas de ciências exatas e tecnologia, que trazem os maiores retornos.

Obviamente, isso não significa que devemos abrir mão da expansão dos cursos técnicos de qualidade, como uma alternativa para a formação dos jovens que não querem cursar uma faculdade. A questão é que devemos levar mais a sério o processo de avaliação de impacto e retorno econômico desses cursos. No caso do Pronatec, por exemplo, dados recentes mostram que estamos chegando a quase 6 milhões de matrículas, que envolvem diversos cursos de formação em várias áreas. Os retornos econômicos dos diferentes tipos de curso devem ser muito diferentes. Alguns provavelmente não valem a pena.

É necessário, portanto, que tenhamos no Brasil uma agência nacional de avaliação, independente do governo, que faça avaliações do impacto desses cursos (e de todas as demais políticas públicas), analisando seus custos e benefícios, para ajudar a sociedade a decidir que tipos de programas vale a pena expandir e quais deveriam fechar. Não basta divulgar o número de pessoas que passaram pelo Pronatec. Temos que saber que diferença ele faz na vida dessas pessoas.

Naercio Menezes Filho, professor titular - cátedra IFB e coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper e professor associado da FEA-USP, escreve mensalmente às sextas-feiras: naercioamf@insper.edu.br)




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