Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Quase dois séculos depois desta gravura de Debret, pintor que veio com a Missão Francesa de 1816 ao Brasil, pouco mudou na vida dos subalternos, dos que nos prestam serviços.

Quase dois séculos depois desta gravura de Debret, pintor que veio com a Missão Francesa de 1816 ao Brasil, pouco mudou no tratamento que se dá aos subalternos ou aos que nos prestam serviços.

1. A torcedora do Grêmio chamou o goleiro Aranha de “macaco”. Noves fora a cor da pele, o nosso cotidiano é polvilhado de agressões. São agredidos todos os que prestam serviços: garçons, motoristas, empregados domésticos. São vilipendiados todos os que executam algum tipo de função considerada subalterna. Destratados. Basta a alguém ter algum dinheiro na mão, para compor uma hierarquia mental de tirar ainda mais daqueles que pouco possuem. Os ricos brasileiros tem um comportamento exatamente oposto aos ainda mais ricos americanos.

2. Lá, o fundador do Duty Free, Chuck Fenney, doou 99% de sua fortuna (calculada em U$$7,5 bilhões) a uma instituição filantrópica que criou. Para si, deixou US$ 2 milhões no banco. Billl Gates, o mais rico do mundo, já transferiu US$ 37 bilhões para a filantropia, sempre mais voltada à ciência e ao aprimoramento da qualidade da educação.

3. Nos últimos anos, mais de uma centena de bilionários americanos resolveram participar do Giving Pledge, uma proposta voltada a doar, ao menos metade de suas fortunas, ainda em vida. Aqui, onde não há impostos sobre fortunas e nem impostos sobre grandes heranças (o que permitiu ao governo francês, por exemplo, a criação do Museu Picasso, em Paris), continuamos com o mesmo vagar na “construção” de nossa pirâmide, onde os que tem sempre terão mais.

4. Lembro-me de um encontro com empresários poderosos, quando exercia função pública, visando motivá-los a apoiar nossos projetos. Ao final, disse-me um deles: “Ótimo, vamos ver como conseguimos lhe ajudar a tomar mais dinheiro do Governo!”.

5. Cinquenta anos antes (tal qual aparece no filme Getúlio), a última frase pronunciada pelo então presidente à sua filha, antes de dar o tiro no coração, é: “Minha filha, nunca em toda a minha vida pública, recebi uma única pessoa que tivesse pedido alguma coisa para o país; sempre se pediu algo para alguém.”

6. Tratar mal os despossuídos é parte de uma mentalidade escravocrata que ainda nos domina. Somos preconceituosos em tudo; até contra os que tudo tem. Vejamos bem o recente episódio de crítica da candidata-presidente à sua oponente Marina, por esta ser apoiada por uma banqueira. Ora, Neca Setúbal – a quem não conheço – é herdeira de uma fração de 0,5% do Itaú, mas nunca participou da gestão do banco. Dedica sua vida à causa da educação. No entanto, por puro preconceito, é discriminada, “rebaixada”, desqualificada pela presidente por ser o que não é: banqueira.

7. De outro modo, se desqualifica quem é: empregados domésticos continuam comendo em pratos e copos separados; a segregação social das entradas separadas de edifícios são cada vez mais evidentes. É patético continuar vendo, em festinhas infantis, a presença das babás que são conduzidas pelo cabresto por seus patrões para demonstrar alguma forma de poder.

8. Neste fim de semana, vi uma babá, em meio à areia branca da praia, a serviço do filho de um jovem casal, sem ter o direito de usar maiô e sem ter direito a sequer tomar um sorvete, quando todos tomaram. A babá estava no sol e a criança, no colo da mãe, à sombra. Ou seja, a babá era um objeto de mostruário dos pertences do casal, legitimando uma pretensa superioridade financeira. Aliás, cena do cotidiano brasileiro.

9. Já publiquei neste blog umas três vezes (mas aí vai de novo!) a frase que foi dita por Joaquim Nabuco, ainda no Império: ”O Brasil levará séculos para se libertar do estigma da escravidão”.

10. Perpetuamos os erros. Vivemos pouco para nós e vivemos mais para a exibição de nossos “dotes” aos outros. Mas não vamos generalizar, mesmo porque há magníficos exemplos como o de Antonio Ermirio de Moraes, que nos deixou há pouco, com seu trabalho em prol da Beneficência Portuguesa, em São Paulo. Lanço aqui uma boa proposta a nossos banqueiros, milionários ou bilionários (inclusive ao jovem casal da praia) : o que cada um de vocês, de verdade e com grana de verdade, têm desejo e o realizarão em prol da educação pública de qualidade no Brasil? Como a educação poderá contribuir para mudar estes (maus) usos e costumes?

http://veja.abril.com.br/blog/leonel-kaz/sem-categoria/escravidao-a...

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