Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Exportador brasileiro teme vender para Argentina

Com entraves burocráticos e insegurança jurídica, fabricantes brasileiros veem vendas cair e estoques aumentar. Chineses aproveitam momento para ganhar espaço

Bandeira argentina (Foto: Reprodução Internet)

O governo de Cristina Kirchner já criava restrições burocráticas para dificultar as compras de produtos brasileiros com uma meta específica: evitar a saída de dólares. Os números explicam. Argentina tem reservas para pagar cinco meses de importações. A título de comparação, o fôlego do Brasil é de 20 meses. Com o calote, o cenário de escassez piora. O argentino Leandro Gonzalez, sócio da empresa de importação e exportação Sandler & Travis, diz que já há falta de dólares. "Havia a expectativa de que no segundo semestre a situação melhoraria. Com o default não creio que vá piorar, mas não vai melhorar."

As exportações de automóveis caíram mais de 30% neste ano e a expectativa é de que caiam mais. Mas os executivos do setor lembram que este já era um cenário difícil antes do anúncio do calote na quarta-feira. Os preços dos automóveis vinham subindo na Argentina cerca de 35% e enfraquecendo a demanda interna.

Com o calote, a situação piora. A indústria de máquinas, por exemplo, sofria menos. As vendas para a Argentina caíram pouco, menos de 2%. A expectativa agora é que a queda chegue a 4% até o fim do ano, segundo o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq), José Velloso Dias Cardoso. Isso fará com que a queda na produção brasileira, antes prevista para 13%, aumente para 15%. A indústria têxtil, que tem a Argentina como principal destino das exportações, redobra a cautela. "Os fabricantes têm uma dúvida: mesmo que o importador tenha dinheiro, quem garante que, após o calote, o BC não vai segurar os dólares?", pergunta Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil.

O dilema mexeu com as regras na Savyon, fabricante de malhas especiais. Historicamente, a empresa pede um sinal para iniciar a fabricação dos produtos, não importa se para os Estados Unidos, o Canadá ou a França. A mercadoria é embarcada após o banco do cliente enviar o comprovante de pagamento da segunda parcela.

"Com a Argentina também era assim, mas de um ano para cá, começamos a ter problemas", diz o diretor da Savyon, Renato Bitter. "O cliente mandava o seu banco pagar, mas o Banco Central da Argentina atrasava o envio - uma vez, esperamos uma semana. Após o calote, não vamos enviar os produtos enquanto o dinheiro não cair na nossa conta no Brasil." Em condições normais, o Banco Central argentino precisa de no máximo 48 horas para enviar o dinheiro, mas os atrasos se tornaram constantes.
 

As indústrias de calçados vão pelo mesmo caminho. A Argentina é o segundo mercado, após Estados Unidos, mas os negócios mínguam. "Vamos embarcar neste ano menos da metade que no ano passado", diz Heitor Klein, presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados. Os calçadistas endureceram. A Bibi, fabricante de calçados infantis, pela primeira vez, em 25 anos, recusa pedidos da Argentina. Dos 120 mil pares encomendados em 2013, 8 mil ainda não tiveram autorização para cruzar a fronteira. "Calculamos e assumimos o risco de não receber, mas chegamos no limite", diz Rosnei da Silva, diretor administrativo da Bibi. "Vender agora, nas atuais condições, vai além do aceitável - seria como acelerar o carro numa estrada molhada, à noite, sob neblina.".

Chineses de olho
A queda nas exportações brasileiras para a Argentina deve se acentuar ainda mais até o fim do ano em função do estado de calote que o país vive. Até julho, as vendas caíram 22,6% e, nas estimativas da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), esse porcentual pode chegar a 27%. Em contrapartida, teme-se que a competição com a China, que já não é fácil, se acirre.

Os chineses vinham aproveitando o momento de crise para ganhar espaço. No mês passado, durante a visita do presidente chinês, Xi Jinping, ao país, os chineses se comprometeram a investir US$ 7,5 bilhões em hidrelétricas e liberar a compra de US$ 11,5 bilhões em produtos chineses com pagamentos a serem feitos em yuan, a moeda chinesa.

Após o calote, o crédito deve ficar mais escasso, e os chineses podem aproveitar o momento para oferecer financiamento aos argentinos sob a condição de vender mais produtos ao país. "Eles têm reservas de trilhões de dólares e não teriam o menor problema para dar financiamento", diz o presidente da AEB, José Augusto de Castro. O avanço chinês já prejudica setores como o de calçados. O Brasil, colega de Mercosul, já exportou US$ 200 milhões em calçados para a Argentina. Neste ano, porém, deve vender pouco mais de US$ 50 milhões. No primeiro semestre, as vendas caíram 39%. No entanto, as importações de outros países fora do bloco, em especial da China, cresceram 11,4% em receitas, chegando a US$ 79,5 milhões.

Restrição
A redução do comércio entre os dois países se deu, em boa parte, pelas dificuldades que o próprio governo argentino impôs. Uma série de formulários passaram a ser exigidos. Entre eles, a Declaração Juramentada Antecipada de Importação, que nem é prevista nas regulamentações da Organização Mundial do Comércio (OMC) e visa a garantir a política do "uno por uno" - para cada dólar importado, um deve ser exportado. No mês passado, novos documentos da Receita Federal foram acrescentados à lista de exigências, tornando o processo ainda mais moroso.

"As restrições impostas pelo governo argentino levaram muitas empresas a suspender os negócios, mas agora o problema também é macroeconômico: a demanda vai cair", diz o diretor de negociações internacionais da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo(Fiesp), Mario Marconini. O presidente da Câmara de Comércio Argentino-Brasileira de São Paulo, Alberto Alzueta, diz que o fluxo financeiro para o país deve cair e, com isso, o governo argentino tende a eleger a importação de itens mais essenciais, como energia e insumos, deixando importações dos manufaturados de lado.

Para o Brasil, neste momento em que a economia patina, a perda de espaço no mercado argentino piora o cenário do lado de cá da fronteira. A Argentina é o terceiro parceiro comercial do país e 90% das vendas são de bens manufaturados, como automóveis, máquinas e equipamentos, calçados e vestuário. A queda na demanda afeta, portanto, diretamente a indústria, que não vive um bom momento. A produção industrial brasileira caiu 1,4% em junho em relação a maio. Foi o quarto mês seguido de retração e o pior resultado no ano, segundo o IBGE.

http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Dilemas/noticia/2014/08/e...

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