Fonte:|economia.ig.com.br|
Tecidos Carlos Renaux, criada em 1892, suspendeu produção de fio e começará a distribuir tecidos chineses
Dois anos depois que se aposentou da presidência da Tecidos Carlos Renaux, a indústria têxtil mais antiga do polo de Brusque, Rolf Bückmann, de 70 anos, reassumiu a gestão da companhia em dezembro do ano passado para evitar o seu colapso.
Com a crise do algodão, a empresa ficou sem caixa para comprar matéria-prima e pagar os salários e por pouco não quebrou. No plano de salvamento da companhia, Bückmann apostou em duas medidas polêmicas: a venda da unidade de fiação e importação de tecidos prontos, para distribuição no Brasil.
Rolf Bückmann, presidente e acionista da Tecidos Carlos Renaux
O primeiro contêiner com 55 mil metros de tecidos chineses chegará ao Brasil em 30 dias. Eles serão revendidos com a marca Renaux para atacadistas de tecido e confeccionistas que abastecem as grandes redes de varejo do Brasil. “Não comprávamos nada dos chineses, mas agora esse é meu desenho estratégico. É mais barato e eles têm condições melhores para produzir”, diz Bückmann, que junto com seu irmão detém metade das ações da companhia.
A decisão da Renaux é um exemplo do processo de desindustrialização pelo qual passa a cadeia têxtil brasileira. Em vez de produzir no país e enfrentar a competição com a China, as indústrias optam por importar e distribuir produtos asiáticos. “É uma desindustrialização. Mas, hoje, os casos de empresas bem-sucedidas no setor têxtil são os de empresas que fazem isso”, afirma Marcos Schlösser, presidente do sindicato das indústrias têxteis da região de Brusque.
O processo ainda é lento no setor de fios e tecidos de alto valor agregado, um dos pontos fortes do polo de Brusque. Mas, em regiões onde o principal segmento da indústria têxtil é formado por confecções, o nível de desindustrialização é maior. “Em Jaraguá do Sul, cerca de metade das indústrias distribui produtos chineses”, afirma Schlösser.
Dinheiro rápido
A Renaux quer conseguir 30% do seu faturamento com a distribuição de produtos chineses. A empresa já fabricou tecidos populares até o final da década de 90, mas saiu do mercado justamente por não conseguir competir com os importados asiáticos. O foco atual da empresa são os tecidos de alta costura que atendem grifes como Richards, Le Lis Blanc e Brooksfield.
A distribuição de produtos importados é uma das iniciativas da Tecidos Carlos Renaux para tentar obter uma geração de caixa mias rápida. Outra decisão neste sentido foi a venda da unidade de fiação, acertada há duas semanas.
Até janeiro, a Renaux produzia 95% dos fios usados nos seus tecidos. Mas, além de a operação de fiação ser deficitária, o sistema aumentava os prazos do fluxo de caixa da companhia. O ciclo formado entre comprar algodão, fabricar fios, transformá-los em tecidos, vender e receber os pagamentos levava cerca de 180 dias. Esse prazo vai cair pela metade agora que a empresa vai comprar fios prontos.
Para reestruturar a empresa, Bückmann precisou deixar para trás as emoções. Engenheiro mecânico e eletricista, ele é o autor do projeto da fiação que acaba de vender. “Foi difícil. É mais difícil desaprender um negócio do que aprender”, disse. Avaliada em R$ 40 milhões, a unidade foi vendida pela metade do valor à metalúrgica Irmãos Fischer, que ocupa o terreno de frente. Procurada pelo iG, a empresa não quis comentar o negócio.
O coração também ficou de lado na hora de gerenciar a equipe. Parentes e funcionários antigos foram afastados da empresa. E os representantes comerciais agora terão que cumprir metas de vendas.
As ações visam dar continuidade à primeira indústria têxtil do polo de Brusque. Bisneto do fundador da companhia, o imigrante alemão e cônsul Carlos Renaux, Bückmann diz que não deixa mais o comando da empresa. “Só saio daqui quanto eu morrer”, diz. “Não, não é verdade. Quando eu tiver 105 anos posso pensar em me aposentar de novo”, corrige.
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Gostaria de informar que há empresas do exterior que fizeram o inverso. Montaram tecelagens aquí no Brasil, e em Brusque e considerada hoje uma referência em tecidos de qualidade para camisas.
É a Coelima, que iniciou as atividades com uma parceria com a Shlösser e hoje tem a própria tecelagem.
Eduardo,
Particularmente eu não gosto muito desta palavra "valor agregado" citada no texto. Acredito que isso é uma percepção do cliente. É ele, e somente ele que irá falar perceber, sentir se o produto tem ou não este tal valor agregado na hora da compra. Já por parte do fornecedor isso sim podemos dizer que é um "diferencial competitivo". E quanto mais na ponta da cadeia maior é este diferencial dos produtos oriundos da Ásia por diversos fatores já citados neste Blog que vão da moeda desvalorizada ao nosso terrível CUSTO BRASIL.
Infelizmente hoje a conta não fecha para o produtor nacional competir com estes dragões indomáveis. A grande maioria dos produtos chega aqui pelo nosso preço de custo. A empresa citada no artigo está entrando no bonde já nos últimos vagões. Estão trazendo 1 container. Conheço empresas que trazem dezenas, centenas e mesmo assim mantêm um parque industrial no Brasil.
É como eu volto a dizer: - Joga o jogo!! Não seja o último, porque você terá que apagar a luz...
Abraços
Mais uma vez a China ganhando mercado, fortalecendo o seu setor têxtil, sua mão de obra e sua balança comercial. Em quanto isso vamos deixando de lado o nosso crescimento e a evolução do no setor têxtil e do país. Por conta da falta de incentivo no setor e dos altos custos dos impostos internos e baixos custos dos produtos importados tornando desleal a competição.
Profa. Dra. Francisca Dantas Mendes
Eu trabalhei em Portugal com os tecidos da Carlos Renaux e de fato estão entre oa melhores produzidos no Brasil.
Mas há uma questão que, para mim, não está muito clara.
Foi a fiação que foi vendida ou a área da fiação que foi vendida? Porque se foi a fiação como é que esse novo dono conseguirá obter resultados positivos onde a antiga gestão não consegue mais?
E há os "analistas políticos e os corneteiros de plantão" que dizem que empresas centenárias como esta, que ajudaram na construção e estruturação do país (carregaram nas costas) quebram por imcompetência.
Será que uma pessoa de 70 anos, depois de gerir, e muito bem, uma industria como esta; de acompanhar o crescimento e colocá-la em um lugar de destaque no setor têxtil, tem que voltar a trabalhar à fim de salvar o que resta desta empresa?
Parabéns Sr. Rolf. Decisão acertada quanto a deixar o coração de lado e abrir mão de funcionários antigos e parentes e, também, de acompanhar a onda, ou seja, buscar na china, aquilo que o Senhor produzia aqui, e com qualidade invejável, pelo fato de não termos respaldo governamental para o controle da entrada de produtos importados que, via de regra, são mais baratos que o próprio custo dos produtos nacionais.
Abraços à todos!
Edson Machado
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