Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Fabricantes chinesas apostam em avanço tecnológico para sobreviver


A Rapoo passou a fabricar drones devido à queda em seu negócio original.ENLARGE
A Rapoo passou a fabricar drones devido à queda em seu negócio original. PHOTO:GILLIAN WONG/THE WALL STREET JOURNAL

Enquanto os investidores globais se preocupam com a saúde da enfraquecida economia chinesa, alguns combalidos fabricantes do sul da China estão apostando que a salvação é subir de nível na escada da tecnologia.

Na fabricante de eletrônicos Shenzhen Rapoo Technology Co., braços robóticos que durante anos foram usados na produção de mouses e teclados de computador estão agora dando um passo além: fabricar drones para consumidores. A expectativa é que tais produtos tragam margens maiores e atraiam novos clientes, num momento em que o negócio original perde força.

Como muitas empresas em Shenzhen — a cidade da fronteira com Hong Kong que, nos últimos 35 anos, ajudou a impulsionar a industrialização da China ao produzir em massa brinquedos, roupas e utensílios domésticos baratos para todo o mundo —, a Rapoo está correndo contra o relógio para encontrar novos mercados e voltar a crescer.

“Se você só sabe fazer uma coisa bem, você pode mesmo ser imbatível e não precisar mudar por dez anos?”, diz Xie Haibo, secretário do conselho da Rapoo. “Esse é o tipo de problema que enfrentamos, então precisamos nos transformar.”

Por toda Shenzhen, pequenos fabricantes estão cada vez mais produzindo impressoras 3-D, “hoverboards” (skates motorizados de duas rodas ) e robôs, uma visão apoiada por visitas e incentivos financeiros dos líderes chineses. O governo quer que essa modernização ajude o país a atravessar a dolorosa transição de uma economia dependente de investimentos em infraestrutura para outra baseada no consumo.

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A cidade que o ex-líder chinês Deng Xiaoping escolheu, no fim dos anos 70, para liderar as reformas de mercado da China está mostrando o caminho mais uma vez. Sua economia cresceu 8,9% no ano passado, mais do que a expansão nacional de 6,9%. As manufaturas de alta tecnologia cresceram o dobro da média nacional como fatia do PIB.

Os problemas econômicos da China são quase imperceptíveis em Shenzhen, em contraste com cidades decadentes construídas ao lado de mineradoras e siderúrgicas estatais que agora sofrem com o colapso da demanda. A cidade, que abriga a maior fabricante de drones do mundo por receita, a SZ DJI Technology Co., tem um universo ativo de empresas novatas de internet e é a sede de potências da tecnologia, como a Huawei Technologies Co., a maior fornecedora do mundo de aparelhos para redes de telecomunicações, e a gigante da internet Tencent Holdings Ltd.

A desaceleração econômica do país trouxe um benefício inesperado para os fabricantes de aparelhos e as “startups”: excesso de capacidade fabril. “Eles tinham linhas paradas, máquinas inativas, equipes que custavam à empresa, mas não eram usadas, que poderiam se deslocar para novos projetos”, diz Benjamin Joffe, sócio da aceleradora de startups HAX, que tem sedes em Shenzhen e San Francisco.

Em Huaqiangbei, o bairro comercial da cidade onde milhares de quiosques oferecem todos os componentes eletrônicos imagináveis, os compradores ainda enchem as lojas. Dentro de uma, Quenton Lee, gerente de operações da startup Dreamcubics 3D Printing Co., diz que abriu a empresa em 2013 e vende impressoras 3-D a preços entre 3 mil e 800 mil yuans (US$ 460 e US$ 122 mil) cada uma, a maioria para empresas chinesas. No ano passado, a Dreamcubics vendeu cerca de 300 impressoras, 50% a mais que em 2014, diz ele.

“As impressoras 3-D são uma boa forma de as empresas reduzirem custos de pesquisa e desenvolvimento porque é mais barato testar ideias”, diz ele.

A Rapoo está fazendo uma aposta semelhante nos drones. A receita com teclados e mouses que fabrica para marcas estrangeiras caiu cerca de 12% ao ano desde 2010, quando a Rapoo faturou 650 milhões de yuans. As margens de lucro dos produtos também recuaram, de 33% em 2011 para 26% no ano passado, segundo documentos públicos da empresa. Já os drones geram uma margem de mais de 40%.

A estratégia da Rapoo continua sendo uma aposta, mas ela pelo menos migrou para um dos principais setores da abatida economia da China. A produção de veículos e equipamentos aeroespaciais, incluindo drones, está crescendo quatro vezes mais rápido que a expansão de 7% na manufatura chinesa como um todo. Desde 2014, a firma também obteve quase 5 milhões de yuans em financiamentos do governo, segundo documentos.

O principal produto da Rapoo é a série Xiro de quadricópteros da marca “Xplorer”, que são vendidos entre US$ 330 e US$ 699 e produzidos em parceria com um desenvolvedor de drones de Pequim. Em janeiro, a joint venture fez uma parceria com a Tencent, a gigante chinesa das redes sociais e jogos, para desenvolver minidrones dobráveis que os consumidores possam carregar e integrar mais facilmente com as plataformas de redes sociais.

A demanda da China por drones equipados com câmeras deve atingir 3 milhões de unidades vendidas em 2019, segundo empresa de pesquisa de mercado IDC. Mas a concorrência é grande e a Rapoo planeja captar 1,1 bilhão de yuans de investidores privados para financiar uma expansão maior.

A empresa alertou os investidores para que esperem o primeiro prejuízo anual em 2015 — provocado, segundo ela, por investimentos malsucedidos em jogos para celulares —, mas também afirmou que espera obter lucro no primeiro trimestre deste ano com o rápido crescimento dos novos negócios. As encomendas dos sistemas robóticos da Rapoo, que testam e empacotam eletrônicos de consumo, entre outras coisas, mais que triplicaram entre 2014 e o ano passado, para 65 milhões, segundo Xie.

A falha em se adaptar pode ser fatal. A 20 quilômetros da Rapoo, uma fábrica da Shenzhen G Credit Electronics Co. está parada. A fabricante de celulares e componentes por encomenda fechou as portas de repente no Natal.

Na Rapoo, Xie continua cauteloso, citando um provérbio chinês que diz: “Quando o ninho do pássaro é revirado, nenhum ovo permanece intacto.”

“Ao contrário da China, o Brasil não avançou na produção de bens tecnológicos com valor agregado porque o Brasil nunca teve uma política industrial nem educacional voltada para tecnologia”, diz o economista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura. Preso à exportação de commodities, principalmente agrícolas, a descoberta das reservas do Pré-Sal apenas incentivou a acomodação do governo e a visão de que o petróleo iria bastar e que o Brasil não precisaria investir em inovação e em empreendedorismo para crescer, ressalta Pires. Para o economista, países como China e Coreia do Sul que investiram em educação e tecnologia estão economicamente muito mais avançados que o Brasil na produção de bens com valor agregado.

(Colaborou Yang Jie, Eva Dou e Eduardo Magossi.)


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