Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Fibra natural tem novos usos, mas preço ainda é desafio | Valor online |

Vanessa Jurgenfeld, de Frankfurt
Produtores e pesquisadores do segmento de fibras têxteis naturais, como algodão, lã e linho, pretendem aumentar o uso dessas matérias-primas em produtos variados, de roupas a carros e móveis. A busca é por nichos de mercado que avancem na produção com esse tipo de fibra não só por questões de sustentabilidade e pela conquista do consumidor ecologicamente correto, mas também por benefícios de custos de produção, possibilidade de ganhos com reciclagem do material e melhoras técnicas, como maior leveza e resistência do que outros insumos.

Estudos recentes tentam fazer com que o desenvolvimento de tecnologia na produção desde o campo até a fábrica permita, no longo prazo, que essas fibras sejam tão competitivas em preços e nas suas aplicações técnicas quanto as fibras sintéticas.

Brian Moir, economista sênior da Food and Agriculture Organization of the United Nations, acredita que o desafio hoje para pesquisadores e indústrias que desenvolvem tecnologia para fibras naturais é encontrar os nichos nos quais de fato elas possuem vantagens em relação aos sintéticos. "Há muitos estudos sendo feitos neste sentido, mas ainda é preciso avançar mais para alinhar eficiência com sustentabilidade", disse.

Segundo pesquisas apresentadas na Techtextil, feira de tecnologia têxtil encerrada na quinta-feira em Frankfurt, na Alemanha, houve avanços relativos à leveza e resistência das fibras naturais na comparação com algumas sintéticas. Em um projeto desenvolvido para a Australian Wool Innovation, a pesquisadora Olga Troynikov, mostrou a maior resistência a balas de coletes de policiais feitos também com lã, além de sintéticos como o náilon ou o kevlar (fibra derivada de poliamida). Outro exemplo de nova aplicação das fibras naturais foi o projeto "ichange", da empresa alemã Schoeller, que desenvolveu toda a parte interna de um veículo à base de lã (bancos, encostos de cabeça e cintos), a fim de convencer a indústria automotiva das novas possibilidades de aplicações desse insumo, com um carro de apelo ecológico.

As fibras naturais estão sendo reestudadas desde os anos 80. Há 40 anos, elas eram comuns no interior dos veículos, mas foram substituídas por fibras petroquímicas (sintéticas) nos anos 70, que apresentavam maior homogeneidade, não dependiam de fatores climáticos e tinham custos menores de produção. Hoje estão presentes em alguns componentes internos de carros de marcas como Citroën, Renault e Mercedes Benz. O desafio, segundo os pesquisadores, é ampliar sua participação em produtos de outros segmentos, como cordões de raquetes de tênis, móveis e até na construção civil.

Na França, a Confederação para Linho e Hemp (fibra que pertence à mesma família da canabis sativa) criou, no ano passado, o Paris Linen Dream Lab (laboratório para mostrar ao público produtos feitos com fibras naturais), que deverá ter este ano unidades em Milão e Nova York. É nesse laboratório que podem ser vistos os primeiros blocos para construção feitos com hemp, raquetes feitas com linho, além de decks, portas e armários.

Para Moir, além do apelo ecológico desse tipo de produto, ainda tem grande peso o efeito da moda. "É fashion as pessoas valorizarem as boas coisas do mundo como um dia ele foi. Muitos consumidores não estão mais preocupados apenas com o design, mas em como o produto foi feito", diz.

Holger Fischer, pesquisador do Faserinstitut, de Bremen (Alemanha), acredita em incremento do uso das fibras naturais, principalmente em componentes automotivos, como moldes para injeção eletrônica, portas e painéis. Seus estudos mostraram que, em alguns casos, elas têm peso menor do que outros materiais e até custos mais baixos que os das fibras de vidro. Além disso, afirma que elas não dependem do mercado de petróleo. "Os sintéticos triplicaram de preço nos últimos três anos. Já o preço da fibra natural, que depende apenas de circunstâncias da agricultura, registrou estabilidade nos últimos 10 anos e não picos."

Segundo Fischer, apesar de conhecidas há séculos, as fibras naturais não tiveram seu uso ampliado até agora por falta de investimento tecnológico. Ele conta que por anos não houve também dados históricos sobre esses materiais nas indústrias e não foi possível construir softwares para desenvolvimento dos produtos, o que começou a ser feito mais recentemente em parceria com universidades.

Para alguns especialistas, a fragilidade dessas aplicações está no preço. As fibras naturais ainda não são tão competitivas quanto as sintéticas nesse quesito. De acordo com Michiel Scheffer, pesquisador da escola Saxion Hochschule, a fibra de linho, por exemplo, custa cerca de € 3 o quilo na Europa, enquanto o similar sintético pode ser adquirido por € 1 a € 2.

Fischer, contudo, destaca que a indústria está usando as fibras naturais hoje em alguns componentes prioritariamente por razões técnicas, mais do que por preço ou apelo fashion, tanto que não são vistos anúncios de marketing chamando a atenção para elas a ponto de atrair o consumidor interessado em adquirir um produto ecologicamente correto. Ele comentou sobre estudos para aeronaves "verdes" pela Airbus, além de veículos com câmbio e volante que deixam à mostra as fibras naturais incorporadas na sua fabricação.

Para outros pesquisadores, falta avanço no marketing para que essas fibras voltem a ter espaço no mercado. Moir diz que alguns erros do passado, quando esses insumos eram usados e não os sintéticos, precisam ser superados - e não apenas com desenvolvimento tecnológico. Ele lembra que as fábricas de processamento de lã, por exemplo, não investiram em marketing para que os consumidores soubessem o que estavam produzindo, e defende que isso não se repita agora, em um retorno do uso mais robusto da lã.

Na Austrália, país de referência na produção de lã e algodão, Jo-Ann Kellock, da Associação de Empresas Têxteis e de Moda, diz que para avançar com esse tipo de fibra, o país investiu em inovação e colaboração, tendo feito seis acordos comerciais de livre comércio com a Ásia, berço da produção têxtil mundial. Na área de inovação, destacou investimentos em pesquisas nas universidades e prêmios para jovens designers, como incentivo para criarem produtos com fibras naturais.

A repórter viajou à convite da Câmara Brasil-Alemanha

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