Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Figurino e movimento: a moda e a dança

A moda e a dança dão passos juntas: dos ballets russes da década de 1920 à Comme des Garçons.

 

Isadora Duncan (1877-1927) - inovadora na dança e no figurino. Foto: Isadora Duncan Foundation

 

 

Não se dança sem roupa (aliás, mesmo se dançar, quer dizer que a nudez faz parte do figurino). A verdade é que entre a dança e a roupa há uma relação muito estreita. Ao lado da cenografia, iluminação, trilha sonora e interpretação, o figurino é elemento chave do espetáculo.

 

O figurino ajuda a definir a narrativa, em questão de atmosfera, local e tempo, e as características da personagem.  Ao lado do conceito, a ergonomia é fator essencial para se elaborar um figurino para dança. Lembrando que ergonomia é a adaptação do produto às características humanas, ela deve dar segurança, conforto e usabilidade para o corpo do bailarino, que muitas vezes chega aos limites do corpo humano.

 

ballet clássico, por exemplo, tem suas regras indumentárias muito precisas, algumas definidas desde o início dessa modalidade de dança (na época da Renascença, entre as cortes italiana e francesa) e outras adquiridas ao longo do tempo - como a saia "simbólica" de tutu (completamente aberta e sustentada por um aro de metal, ela não "cumpre a função" de cobrir as pernas da bailarina, mas apenas funciona como elemento estético do espetáculo).

 

A peça de ballet Giselle, interpretada pela Royal Opera House, de Londres. A peça, original de meados do século XIX, é uma das últimas que usam "tutu romântico", ou o tutu que vai até a altura da panturrilha - o tutu atual é totalmente aberto e sustentado por um aro de metal. Foto: The Guardian

 

Os cabelos são usados impecavelmente presos em coque, para a precisão da bailarina e a não distração do público - a não ser que uma cena excepcional peça cabelos soltos. Meias brancas, e tingir a pele de pó branco também são características desse tipo de dança, que deve manter a imagem etérea da bailarina. O surgimento das sapatilhas de ponta permitiram novos movimentos e melhoria da performance da dança - ainda que de forma um tanto dolorosa.

Já na dança contemporânea, a liberdade da escolha do figurino é tão grande quanto a liberdade de escolha do tema proposto para a peça. Como figurino desenvolvido pela Comme des Garçons, em 1997, para a peça Scenario de Merce Cunningham, com pelas acolchoadas que "deformavam"  os corpos dos bailarinos (em paralelo, foi desenvolvida a coleção primavera-verão da marca de Rei Kawakubo). O figurino é parte essencial de outros tipos de dança também. Dançarinos de hip hop precisam afirmar de forma coerente sua origem das ruas e usar roupas resistentes.

Cena de Scenario (1997), de Merce Cunningham com figurino da Comme des Garçons. Foto: Walker Art

 

A maior sinergia entre moda e dança talvez tenha sido os ballets russes em Paris, inaugurados em 1909. A empreitada de Serge Diaghilev, que duraria até 1929, trouxe bailarinos do ballet imperial de São Petersburgo e agitou o cenário cultural parisiense. Foram muitos os artistas, compositores, coreógrafos e costureiros que colaboraram com o ballets russes.

Tamara Karsavina e Adolph Bolm no espetáculo The Firebird (1910), do ballets russes. Foto: Met

De um lado, a moda entrou na dança, como quando Coco Chanel foi responsável pelo figurino do espetáculo Le Train Bleu, em 1924. De outro, foi a vez da dança entrar na moda - entre as mudanças na moda dos grandes costureiros entre as décadas de 1910 e 1920, o orientalismo e suas formas soltas e cores fortes invadiram uma estética que mudaria a inocência campestre típica da belle époque. A figura do bailarino Ninjinsky também foi forte nesse período, trazendo novos padrões masculinos de beleza. À mesma época, Isadora Duncan foi inovadora da dança em si (deu a ela novos valores culturais) e também do figurino, trocando a sisudez das roupas originais de ballet para peças de tecidos flutuantes - o que também influenciou a moda fora dos palcos.

 

O figurino de Jum Nakao para Os Duplos, da São Paulo Companhia de Dança. Foto: Jum Nakao

 Muitas são as incursões da moda no figurino de dança. A Comme des Garçons para Cunningham é só um dos exemplos. Outros designers que colaboraram com espetáculos de dança foram Christian Lacroix e Jean-Paul Gaultier. No Brasil, estilistas e dança também se unem: Samuel Cirnansck fez figurinos para o espetáculo Cruel, da Cia de Dança Deborah Colker. Já Jum Nakao foi responsável pelo figurino da pela pela Os Duplos (2010), da São Paulo Companhia de Dança.

A moda entra na dança e a dança entra na moda, e as duas só ganham passos adiante.

 

Vivian Berto


Tendere - Pesquisa de Tendências e Consultoria para Moda, Beleza e Design

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