Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Fracasso E Sucesso São Dois Lados Do Mesmo Disco

Nem tudo foi sempre fácil para artistas bem sucedidos cujas carreiras levaram um tempo até engrenar.


A
conteceu em 1992: a cantora canadense Alanis Morissette, então uma jovem de 18 anos, lançava seu segundo disco com o sugestivo título de Now Is the Time. Curiosamente, embora tenha emplacado 3 músicas no "top 40" de seu país, o álbum foi duramente criticado, vendeu pouco e foi chamado de "sem inspiração" pela influente revista Time. Em resumo, um fracasso.

Dois anos depois, já sem contrato com qualquer gravadora, quando vivia em Los Angeles, nos EUA, Alanis tentava recomeçar sua carreira. Sua ideia era escrever letras mais reflexivas, que tratassem de suas próprias experiências e fazer músicas da forma como ela acreditava. Ela foi trabalhando com diferentes colaboradores, sem muito resultado, até que conheceu um produtor que também acreditava em seu trabalho e foi junto.

O ano era 1995 e o resultado foi um dos discos mais vendidos e importantes daquela década, Jagged Little Pill, que é reconhecido pela revista Rolling Stone como um dos "500 maiores discos de todos os tempos" e pela Billboard como o "número 1 dos álbuns mais vendidos dos anos 90", entre inúmeros outros prêmios (como um Grammy!). E que este ano completou 20 anos.

E que, agora, me motivou a escrever este texto, quando me peguei ouvindo uma de suas músicas há alguns dias, num típico momento que o filósofo Domenico de Masi reconheceria como uma espécie de "ócio criativo". Foi quando me lembrei de uma história sobre a carreira dessa cantora, que é uma das minhas favoritas, e me toquei que valia a pena escrever sobre falhar na carreira mas, sobretudo, sobre dar a volta por cima e ir adiante. É que há tempos olho com certa curiosidade para o fato de que por trás de cada história de sucesso há quase sempre um primeiro esforço constrangedor, um tropeço, um retrocesso ou uma mudança radical de direção.

Para mim, observar o que aconteceu na carreira de artistas hoje estabelecidos, cujos trabalhos sempre me tocam de alguma forma, é algo muito inspirador. De certa forma, dá um certo "consolo" saber que figuras famosas também tiveram que superar seus obstáculos. O motivo é simples: são histórias de luta, afirmação, determinação e persistência que têm muita relação com o que acontece todos os dias, meses e anos com pessoas que estão apenas atrás de seus sonhos. Como todos nós. A diferença é a perseverança, mas acredito em algo mais: um certo esforço pra levantar a cabeça, uma mentalidade firme pra seguir em frente contra todas as negativas e acreditar que tem coisa boa por surgir em seu próprio caminho.

Seja como for, no momento sombrio pelo qual passamos neste país, acredito que é um exercício de observação válido para inspirar, fortalecer a mente e tirar-nos da nossa zona de conforto e da nossa angústia de “esperar o melhor momento” para que algo aconteça. Chacoalhar as ideias, enfim. Na verdade, o que planejamos só vai acontecer se soubermos canalizar nossa energia pra funcionar nisso — nada mais.

Assim, você vai em frente, praticando, fazendo aquilo que acredita e, com o tempo, vai acabar fazendo cada vez melhor e até alcançando seus objetivos. Isso certamente não será o suficiente, mas de alguma forma que nem a ciência sabe bem, poderá ajudar. Um estudo de 2013 da Universidade Estadual de Michigan, nos Estados Unidos, concluiu que a prática não leva à perfeição e corresponde a apenas um terço do sucesso alcançado por uma pessoa. Ao mesmo tempo, esse estudo acabou com a teoria do livro Fora de Série, de Malcolm Gladwell, publicado em 2008, que afirmava que um mínimo de 10.000 horas de prática seriam suficientes para tornar alguém um gênio. Mas na dúvida, é melhor manter-se em atividade naquilo que você acredita e faz bem.

A história de fracasso e o posterior sucesso de Alanis Morissette, que contei no início deste texto, não é única. Muitos artistas que hoje são "ícones" da música, do cinema e da literatura mostraram que não existem fórmulas fáceis pra se chegar a um objetivo: o que vale é a disposição para tropeçar, ficar de pé, cair novamente e se levantar. Mas, tenho a convicção que o mundo da música, em especial, com seu fascínio, um certo glamour e suas histórias de falhas, reveses e sucessos, se assemelha muito ao mundo corporativo no ambiente das empresas. Ambos são complexos, cheios de altos e baixos e reviravoltas. Nisso, conhecer o passado de falhas de alguns astros e estrelas — algo que pode desiludir alguns fãs—serve bem pra saber que começos difíceis não são coisas incomuns. Lembra, inclusive, a Jornada do Herói, conceito do antropólogo americano Joseph Campbell no qual os heróis/mitos das narrativas têm sua história dividida em etapas como "partida", "iniciação" e "retorno". É um artifício narrativo usado nos roteiros de muitos filmes de Hollywood, como os da Disney, os da série Star Wars, Matrix, Karate Kid, Rocky etc. Em resumo: falha, queda, retorno, volta por cima, sucesso. Assim como na vida real.

Quer outros exemplos? Olha só esta lista:

Garota Material / QuandoMadonna decidiu começar sua carreira solo em Nova York, no início dos anos 80, ela enviou uma fita demopara a gravadora de um poderoso produtor da época, responsável por sucessos como as trilhas dos filmesDirty Dancing e Mudança de Hábito. Foi rejeitada e na carta ele escreveu que gostou de ouvir suas músicas, mas que iria "passá-las adiante naquele momento". No ano seguinte, Madonna assinou seu primeiro contrato — em outra gravadora — e se tornou o que já conhecemos.

Robôs / A dupla francesa Daft Punk, que é uma das mais reconhecidas do mundo por quem curte música eletrônica, começou como uma banda de rock chamada Darlin no início dos anos 90. No entanto, o único disco lançado pela banda foi tão massacrado pela crítica que os músicos se separaram, com exceção de dois amigos que seguiram juntos experimentando com baterias eletrônicas e sintetizadores. Daí surgiu o Daft Punk, que vendeu muitos discos, ganhou um Grammy em 2014 e até participou do filme Tron: O Legado — inclusive criando a trilha sonora. Se você não ligou o nome a nenhuma música, escuta essa aqui.

Marte Ataca! / Um dos cantores mais badalados do momento, Bruno Mars começou sua carreira profissional há pouco mais de 10 anos, quando assinou um contrato com a gravadora Motown. Em menos de um ano, foi demitido. Mas Bruno seguiu em frente e foi conhecendo outros produtores, até que, seguindo e trabalhando por outros caminhos profissionais, foi contratado pela Warner e se tornou o artista que hoje já ganhou dois prêmios Grammy, foi escolhido pela revista Time uma das "100 pessoas mais influentes do mundo" em 2011 e pela Billboard como "artista do ano" em 2013. E outros reconhecimentos mais…

Chefão / O hoje poderoso e reconhecido rapper Jay Z, que criou o Tidal, concorrente do Spotify, começou de forma independente, vendendo seus próprios CDs no porta-malas do seu carro, já que nenhuma gravadora se interessara por seu trabalho. Ele então criou seu próprio selo e foi à luta. Hoje, milionário e empreendedor, reconhecido pela Forbes, com diversas empresas, já ganhou 21 prêmios Grammy (!), é um dos artistas que mais vende no mundo e 3 de seus discos foram incluídos pela Rolling Stone entre os "500 maiores álbuns de todos os tempos".

Olhar 43 / Uma das bandas mais bem sucedidas do rock nacional, oRPM quebrou recordes da industria fonográfica brasileira nos anos 80 e teve sua primeira fita demo recusada pela gravadora para a qual a enviaram (CBS). Insistiram na carreira e, em seguida, conseguiram um contrato com a Sony Music para por fim vender mais de 5 milhões de discos na carreira.

Maluco Beleza? / Resumiria a carreira de Raul Seixas em uma frase: "tente outra vez", que é também um dos versos de uma música homônima desse baiano que é um dos maiores nomes do rock nacional. Mesmo sendo genial, simplesmente não aconteceu logo de cara, com seu primeiro disco por uma grande gravadora (EMI) tendo sido um fracasso de público e crítica. Raul, então, passou por algumas dificuldades, até que conheceu um produtor de outra gravadora na qual ele começou a trabalhar produzindo discos— inclusive anonimamente. Sua biografia é longa e muito interessante, cheia de altos e baixos, mas ele seguiu firme e lançou muitos discos antes de finalmente ser chamado de “pai do rock brasileiro”. Em 2008, a revista Rolling Stone o incluiu na lista de "100 maiores artistas da música brasileira".

E alguns outros cantores, escritores e atores brilhantes valem ser mencionados também: Stephen King, Walt Disney, J. K. Rowling, Beatles, Charlie Chaplin, Harrison Ford, Elvis Presley… A lista de gente boa, esforçada e persistente — com inícios de carreira nada fáceis — segue. Se tiver curiosidade, use o Google para saber mais sobre suas histórias.

Em resumo, todos esses artistas parecem ter uma consciência muito profunda sobre o motivo pelo qual saem da cama todos os dias, em busca de suas realizações — coisa que a maioria de nós não consegue responder, sequer seguir insistindo. Ou, de acordo com o conceito de "mentalidade de crescimento" criado por Carol Dweck, professora de psicologia na Universidade Stanford, em seu livro Mindset: The New Psychology of Success, têm uma visão muito mais flexível em caso de sucesso. Eles não vêem o fracasso como um reflexo de sua capacidade, mas como um ponto de partida para experimentação e teste de novas ideias. Uma observação que serve no mínimo de reflexão, mas é inegável que o fracasso pode ser um rito de passagem.

Além disso, sempre que tentamos fazer alguma coisa e não conseguimos, acabamos fazendo outra coisa ou produzindo algo mais — ao menos sempre foi assim na minha carreira e nas experiências profissionais pelas quais venho passando. Ou seja, o fracasso é só uma palavra que nós, seres humanos, usamos para julgar determinada situação. E se parar pra refletir, a gente conclui que falhas, enganos e erros são a nossa forma de aprender e também de crescer. E nessas horas, as duas questões mais importantes a se fazer são: “o que eu aprendi?” e “o que eu fiz?”.

Pois então, deixa a música tocar. Busque informação. Observe os outros, mesmo que não sejam seus artistas favoritos — e não apenas seus erros e acertos. Quem você admira? Quem teve persistência, visão, criatividade? Quem chegou ? Observe. Guarde a sabedoria, as lições e até as loucuras dessas pessoas como se fossem suas. 

E lembra que um disco tem sempre dois lados! ✔

* Publicado originalmente no site Dezbloqueio *

https://www.linkedin.com/pulse/escuta-essa-fracasso-e-sucesso-s%C3%...

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