Geração Z - Parte 1

[Romildo de Paula Leite]

O mundo que se acautele, a Geração Z está determinada a mudá-lo. Nascida a par da revolução tecnológica, esta nova geração pretende transformar o mundo à sua volta, criando um novo modo de vida, orientado por paradigmas que se distinguem daqueles que nortearam as gerações anteriores. 

A população tsunami
Enquanto se trava uma disputa sobre os parâmetros que a caracterizam, a geração pós-milénio inclui vagamente aqueles nascidos em meados dos anos 1990 a 2010. Por vezes referidos como iGens, Nativos Digitais ou a Geração de Conflito, a denominação mais utilizada e, reconhecida mundialmente, é Geração Z.
 
Enquanto o debate sobre as suas múltiplas denominações decorre, retalhistas, investigadores e analistas concordam que a Geração Z é «antes de mais, uma população tsunami», com as estimativas atuais a calcularem um total de 2 milhões de membros desta geração a nível mundial.

O estudo “2011 Strategy Briefing”, elaborado pelo Euromonitor International, detalha o crescimento recorde desta geração em ambas as economias emergentes e desenvolvidas: mais de um quarto da população do continente americano pertence à Geração Z, 25,9% em comparação com 24,5% de membros da Geração Y, nascidos nas duas últimas décadas do século XX; até 2009, a Índia e a China contabilizaram o maior número de adolescentes e pré-adolescentes, com 286 milhões e 215 milhões, respetivamente, e o Brasil soma 41 milhões de jovens Z. Nas Filipinas, Egito, Arábia Saudita e África do Sul, a faixa etária dos 8 aos 19 anos de idade representa um quarto ou mais da população, tornando-os «consumidores potencialmente muito importantes no futuro».
 
As estimativas atuais da Fitch Media sugerem que a Geração Z irá aumentar, tornando-se o maior grupo de consumidores em todo o mundo nos próximos 5 a 7 anos.

Pluralistas
As infâncias enraizadas no pós-11 de setembro e na recessão global, às quais se somam uma existência inteira de conexão tecnológica, tornaram a Geração Z um grupo demográfico mais tolerante, dentro de uma nova era de identidades mistas onde a raça, o género, as crenças religiosas, o estatuto socioeconómico e a etnia são cada vez mais ténues. À medida que os identificadores tradicionais colapsam a ritmo acelerado, muitos membros da Geração Z identificam-se como pluralistas: «uma pessoa que acredita que a existência de diferentes tipos de pessoas, crenças e opiniões dentro de uma sociedade é uma coisa boa».
 
O aumento das uniões multirraciais nos EUA é impressionante e a população de jovens multirraciais aumento 50% desde 2000.
 
A Geração Z acredita firmemente na igualdade. Setenta e três por cento creem na igualdade do casamento nos EUA, 74% defendem a igualdade de direitos para os transexuais e quase dois terços dizem que a sua geração está a desafiar os limites do que significa ser do género feminino e masculino.

Ativista através de um clique
Inspirada por livros juvenis e movimentos de protesto infantis, a Geração Z está altamente motivada a mudar o mundo: segundo um estudo realizado pela agência de marketing Sparks & Honey, 60% afirmam querer ter um impacto no mundo, em comparação com 39% dos jovens pertencentes à geração anterior. Estão a superar outras gerações no trabalho voluntário, com cerca de um em cada quatro (26%) atualmente envolvidos em ações de voluntariado.
 
Conforme destacado no The Vision S/S 17 - Digital Wave, ativistas da Geração Z são especialmente conhecedores da tecnologia, utilizando canais de media sociais para potenciar a atenção em torno das suas causas. Em acréscimo, os media social permitem acelerar os tempos de resposta na organização de protestos, manifestações e marchas. Considerando que, há 10 anos, seriam necessárias várias semanas de antecipação para a organização de protestos, a Geração Z é capaz de se reunir através de um mero deslizar de dedo no visor de um smartphone.
 
Entre os emergentes ativistas da Geração Z que vale a pena seguir incluem-se Sophie Houser, de 17 anos, e Andrea Gonzales, de 16, criadores e programadores do popular jogo Tampon Run, concebido para ajudar a quebrar os tabus que envolvem a menstruação, e Logan LaPlante, 15 anos, um defensor da educação autodidata, cuja participação nas conferências  TED Talk, em 2013, com o comunicado “Hackschooling Makes me Happy”, superou 5 milhões de visualizações.

Filtro de 8 segundos
Um mito comum sobre a Geração Z diz respeito ao seu tempo de atenção reduzido. A realidade, porém, é que os membros desta geração têm «filtros altamente evoluídos de oito segundos». Sendo a primeira geração criada a par da tecnologia, a pesquisa sugere que seus cérebros evoluíram, processando mais informação a uma velocidade superior e, por isso, são capazes de lidar com desafios cognitivos maiores.
 
No entanto, o mesmo estudo constata que esta geração carece severamente de consciência espacial, devido ao desempenho extremo de multitarefas através do ecrã. Enquanto os membros da Geração Y gerem diversas tarefas em três ecrãs, a Geração Z manipula uma média de cinco: televisão, telefone, laptop, desktop e, por vezes, um tablet ou jogos.
 
A Geração Z é o principal consumidor de dados e de comunicação – os emojis são um atalho de linguagem imensamente popular, o Snapchat, Secret e Whisper são ferramentas permanentes de comunicação e o Facebook foi decretado fora-de-moda. Embora continue a ser a maior rede de media social, a Geração Z está a abandoná-la em números recorde (3 milhões de adolescentes, em três anos), preferindo o Tumblr, que foi a plataforma de media social de mais rápido crescimento em 2014, ampliando em 120% a sua presença – o Facebook registou um crescimento de apenas 2%. Os consumidores da Geração Z preferem plataformas expressamente visuais, como o Tumblr, que também permitem a autoexpressão e privacidade – duas prioridades essenciais a esta geração.

Na segunda parte deste artigo serão abordadas as particularidades desta jovem geração, que amadurece mais depressa do que as suas antecessoras, privilegia o progresso e satisfação laboral e um estilo de vida saudável, tudo ao ritmo dos meios tecnológicos e de comunicação.

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