Para o diretor de estratégia e tecnologia, Raymundo Barros, computação em nuvem revoluciona transmissões e avançam a experiências em segunda tela e a hiper segmentação de anúncios.
Taís Farias
Hologramas, metaverso, experiências sensoriais, realidade virtual – as apostas para o futuro da comunicação e do entretenimento são grandes e, com a chegada e consolidação do 5G, os planos das empresas de mídia e tecnologia vêm ganhando forma e escala. No entanto, muito além das mudanças na forma como o conteúdo será entregue e no salto em experiência, o 5G vai permitir uma transformação na operação das companhias com a computação em nuvem. O avanço do big data também promete entregar uma segmentação cada vez mais apurada e eficiente para os parceiros. Desde abril do ano passado, a Globo já vem experimentando como a tecnologia pode transformar seus negócios. Desde abril do ano passado, a gigante de comunicação brasileira já vem experimentando como a tecnologia pode transformar a operação de seus negócios. Na época, o grupo anunciou uma parceria com o Google Cloud que passou a ser seu principal provedor de soluções em nuvem. Com o 5G, a emissora mira as transmissões por cloud computing, ou computação em nuvem, que elimina hardwares e aumenta a efetividade. Hoje, já é possível, por exemplo, que as transmissões esportivas aconteçam sem a necessidade de que a equipe, com narrador, comentarista, câmeras e unidade móvel, estejam presentes no estádio. Essa alternativa também foi utilizada, em fevereiro, na cobertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, em Pequim.
A meta da emissora é migrar 100% dos centros de dados para a nuvem do Google, o que vai permitir maior escala na produção e distribuição de mídia. “Nesse processo, a chegada do 5G vai ser revolucionária”, descreve Raymundo Barros, diretor de estratégia e tecnologia da Globo. Em entrevista, ele descreve como a companhia pretende usar o 5G para alavancar seus planos.
Meio & Mensagem – Para além das implicações óbvias (IoT, carros e cidades inteligentes, IA, agrobusiness e automação industrial), que ecossistema você acredita que o 5G será capaz de criar?
Raymundo Barros – O 5G, com suas conexões de baixa latência e alta velocidade, tem potencial para revolucionar todo o ecossistema de mídia. Com uma melhor qualidade da internet, a comunicação vai ganhar mais fluidez e ser ainda mais eficiente. Para o público, estamos falando de uma era de conteúdos cada vez mais customizados, flexíveis e interativos. E, na outra ponta dessa cadeia, os anunciantes serão beneficiados com soluções adtech mais robustas para suas estratégias de comunicação.
Para as empresas de mídia, o 5G trará impactos positivos na operação. Serão impulsionadas, por exemplo, as transmissões por cloud computing. Esse, aliás, é um movimento que a Globo vem liderando graças à parceria com o Google Cloud, firmada em abril do ano passado. A tecnologia em nuvem já impacta a captação, a produção e a distribuição de conteúdo.
Nas transmissões esportivas, por exemplo, não há mais a necessidade de a equipe (narrador, comentarista e profissionais de câmera, além da unidade móvel) estar in loco. Agora, tudo pode ser feito de forma 100% remota nas instalações da Globo. Foi exatamente o que aconteceu neste mês de fevereiro, na cobertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, realizados em Pequim, na China. As vantagens neste tipo de operação são enormes, gerando mais eficiência com a otimização dos recursos técnicos e alta qualidade para a audiência.
M&M – Em mídia, o que essa tecnologia traz de inventividade?
Raymundo – Existe hoje todo um ecossistema de soluções, que vão da operação ao negócio, e que terão possibilidades de evolução com o 5G. Eu mencionei o impacto em operações à distância, que geram mais eficiência. Com o aumento da velocidade da internet, e maior conexão entre dispositivos (a chamada Internet das Coisas), o público terá muitos benefícios na experiência de consumo. Soluções em realidade virtual e aumentada, holografia e o tão discutido metaverso estarão à disposição do setor de mídia para entregar conteúdos cada vez mais imersivos.
E a evolução do padrão digital de TV aliado ao 5G trará ainda mais interatividade. Um consumidor que estiver assistindo ao seu programa favorito e quiser comprar os itens que estão expostos na tela, será direcionado para esse ambiente de compra. Isso apenas para citar alguns exemplos.
M&M – Pensando em negócios, quais serão os possíveis impactos indiretos do 5G? Como ele movimentará as fontes de receita de mídia?
Raymundo – Com soluções que possibilitem conversão imediata e que entreguem conteúdos cada vez mais individualizados. Hoje já estamos operando, por exemplo, com a segmentação de anúncios através do simulcasting do Globoplay. A evolução do 5G propiciará um rápido avanço deste tipo de segmentação nas entregas comerciais, tanto no que diz respeito a plataformas como formatos. E a comunicação direcionada gera mais efetividade e assertividade para as marcas. Além disso, qualquer boa estratégia se baseia no conhecimento do público. E um amplo conhecimento acerca do consumidor por trás do dispositivo estará ainda mais próximo das empresas.
M&M – Como o 5G vai ajudar a Globo a criar um ecossistema em que outras marcas possam se conectar e interagir (anunciantes, parceiros, etc.)?
Raymundo – A vantagem competitiva da Globo, e temos falado bastante sobre isso, está na capacidade de gerar relevância para as marcas em múltiplas plataformas ao longo da jornada diária do público, que consome nossos conteúdos da TV aberta, dos canais por assinatura, do streaming e de plataformas digitais. E novas experiências e narrativas poderão ser exploradas neste ecossistema 360° com a operação do 5G. Temos desenvolvido soluções que, com a chegada do 5G, ganharão escalabilidade. São experiências shoppable, em um modelo last click to buy, que entregam para a marca a conversão imediata no ambiente de compras; comerciais contextualizados – que dependem de um sofisticado sistema de indexação; ferramentas que aliam o break a um push por sms para a base de clientes da marca, entre outros.
M&M – A nível de estrutura e tecnologia, como a companhia vem se preparando para isso? Já existem cases e exemplos? Quais?
Raymundo – Toda a jornada de transformação digital da Globo vem nos preparando para os desafios do futuro. E nisso, falamos também sobre modelos em desenvolvimento da radiodifusão. Através dessa jornada, com a tecnologia transversal ao negócio e decisões baseadas no conhecimento adquirido sobre o público, desenvolvemos não só soluções comerciais, operacionais e de conteúdo, como também preparamos nosso radar para novos projetos, em um ambiente propício para experimentação. O nosso MediaTech Lab cumpre esse papel ao atuar como uma incubadora para tecnologias do futuro que, ao serem prototipadas com sucesso, são aplicadas em outras áreas. Além disso, o Hub do Vale do Silício identifica startups de alta performance que tenham interesse em evoluir conosco. E muitas das ferramentas que eles nos oferecem já são aplicadas no conteúdo e a serviço das marcas. No ano passado, por exemplo, começamos a utilizar uma tecnologia, descoberta no Vale, para serem retirados, através de inteligência artificial, vídeos curtos que complementam a cobertura esportiva. Para citar um exemplo recente e muito palpável, desenvolvemos em nosso laboratório soluções como a que levou o Alok, em forma de holografia, para uma festa do BBB.
A parceria com o Google Cloud também foi decisiva para este cenário. Passamos a usar a infraestrutura global, escalável e segura do Google Cloud para apoiar nossa evolução tecnológica, passando por etapas relevantes dos processos de produção e distribuição de conteúdo. Nossa expectativa é de migrar 100% dos nossos centros de dados para a nuvem do Google, o que vai habilitar escala na produção e distribuição de mídia, entre outras frentes. Nesse processo, a chegada do 5G vai ser revolucionária.
M&M – Por fim, em mídia, que ferramentas e tendências devem ser aceleradas por um ecossistema que conte com o 5G?
Raymundo – A chegada do 5G vai desempenhar um papel fundamental na transição da publicidade de exibição tradicional para experiências imersivas. Escala e medição de performance são desafios-chave para campanhas publicitárias de hoje – desafios que o 5G vai nos ajudar a superar. Eu aposto em três grandes tendências: fortalecimento da comunicação na nuvem; comunicação altamente individualizada – o que significa que cada um vai ter sua própria TV, independentemente do device, com conteúdo e ofertas comerciais segmentadas; e recursos que coloquem o público dentro do conteúdo, sejam eles realidade aumentada, holografia, metaverso, ou outras inovações que venham por aí e ainda não conhecemos.
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