Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Herchcovitch conta tudo sobre passado, presente e futuro

Alexandre Herchcovitch foi a grande estrela convidada pela semana de moda goiana – GoFashion. Ele conversou com o diretor do evento Cleydson Silveira e respondeu perguntas da plateia durante um bate papo que durou cerca de uma hora.

Um grande apanhando da carreira de 20 anos do estilista foi comentado. Temas polêmicos como os blogs e fast fashion também tiveram resposta. Leia agora na integra esse relato do passado, presente e futuro da moda.

Qual a importância da semana de moda pro estilista e pra sua marca?
A semana de moda tem total importância porque é um espaço onde os estilistas que participam realmente, podem mostrar o seu trabalho, e que muitas vezes podem ser um pontapé inicial pra uma carreira. Eu comecei logo depois de ter aprendido os primeiros passos dentro de casa com minha mãe, eu senti a necessidade de mostrar minhas criações através de desfiles em semana de moda, e por isso eu tenho certeza da total importância da semana de moda no Brasil e no mundo.

O trabalho do estilista hoje ampliou muito. Os estilistas não estão só fazendo roupa, estão fazendo produtos, design. O que você acha disso e qual a importância disso pro estilista pra que ele não perca o DNA da marca?
Bom, primeiro eu acho que o trabalho do estilista é um designer. A palavra design é muito utilizada pra profissionais que fazem mobiliário ou objetos e tudo mais. Mas de qualquer maneira, o que eu acredito é que qualquer pessoa que crie algo, um produto, é um designer. Então, eu acredito que o estilista é um designer voltado para a moda. Mas como eu acho que esse processo criativo, que é uma coisa intensa por parte dos que criam, não precisa funcionar somente para roupa, ele pode funcionar para outros produtos que não sejam pra vestuário. E por esse motivo há mais de 12 anos atrás eu abri minha empresa pra novos contratos de licenciamento, onde a gente começou a criar produtos que não eram roupas, não eram vestuário. E eu acho que um processo criativo de criar uma roupa, uma coleção, ele não difere do processo criativo de criar uma roupa de cama, uma caneca, um móvel, um óculos, um relógio, e por aí vai. Então o processo é o mesmo, as inspirações são as mesmas, só o produto final que é diferente.

Qual foi seu primeiro produto, qual a roupa que você licenciou?
O primeiro produto, fora roupa, foi o licenciamento de cama, mesa e banho, que existe até hoje, talvez é o licenciamento mais antigo que a gente tem, com a empresa que chama Zelo, que é uma empresa de São Paulo, mas que vende pro Brasil inteiro, e é um contrato muito bem sucedido, já tem 12 anos e a gente já vendeu milhares de produtos de cama, mesa e banho com a marca de Alexandre Herchcovitch. Então esse foi o primeiro contrato que a gente fez que não era roupa.

E esses produtos são ligados diretamente ao tema da sua coleção da época ou não?
Não, tem alguns produtos que nós criamos que tem total ligação com a coleção atual. Por exemplo, os óculos, quando a gente cria coleção com a Chilli Beans, que é nosso parceiro de licenciamento de óculos, inevitavelmente tem ligação direta com os temas da coleção. Agora quando você faz, por exemplo, uma coleção de cama, mesa e banho, pode ter a ver com o tema da coleção, ou pode ter a ver com a marca, com o histórico da marca, ou com tudo o que a marca já fez. Então, não necessariamente tem que ter a ver com a coleção que tá acontecendo no momento.

Até mesmo porque, vai ficar mais tempo no mercado…
É. Por exemplo, nós temos algumas estampas na coleção de cama, mesa e banho que estão no mercado há mais de 10 anos. Essas estampas são atemporais, elas não têm nada a ver com a coleção da época que ela foi criada e são sucesso de vendas até hoje.


Como você começa uma coleção, onde você busca inspiração? Em algum lugar específico, uma viagem?
As pessoas ligam muito a profissão de estilista com viagem, mas não é um mundo tão lindo assim, as viagens não são tantas, e a gente não depende delas pra criar. Na verdade, a inspiração pode vir de qualquer lugar, ela pode vir até mesmo de algo que a gente já fez, então hoje em dia, a gente trabalha muito com o que a marca já fez. Esse ano, a marca faz 20 anos e, por coincidência, eu faço 20 anos de carreira (palmas). O processo de escolher um tema ou de começar uma coleção, não é um processo muito matemático, é um processo mais (…), onde a gente reúne informações que a gente vem pesquisando, e elas resultam em uma coleção. Daí, depois que você elege o tema da coleção, é um processo mais cronológico, onde você tem que obedecer a várias etapas e datas pra que tudo isso fique pronto na hora certa do lançamento.

Você gosta muito de brechós não é?
Eu adoro comprar e usar roupa usada. O brasileiro ainda não tem o costume e característica de comprar roupa usada. As pessoas gostam mais de comprar roupa nova, brilhante, que pareça que é uma roupa nova. Mas eu acho que existe uma parcela pequena que tá crescendo, de pessoas preocupadas com a reciclagem ou com o aproveitamento, que estão comprando roupa usada, móveis usados, e isso contribui pra produzir um pouco menos e sujar menos o meio ambiente. O que é um contraponto do que eu faço, eu não faço roupa usada, eu faço roupa nova, e tenho que vender. Então, isso é um detalhe que a moda brasileira ainda não discutiu. Os estilistas estão produzindo cada vez mais roupas, sendo que a população do mundo está cada vez mais consumindo roupas que já estão produzidas e roupas usadas.

Você pode nos adiantar alguma coisa da sua próxima coleção que você está preparando para o Inverno 2014?
Eu não costumo adiantar absolutamente nada do que eu faço, porque eu acho que o segredo e a expectativa que as pessoas têm em cima do meu trabalho é muito grande, então eu estragaria a expectativa, que vai ser lançada em outubro, na São Paulo Fashion Week.


Como lidar com a parceria com a MCD e a tradição da marca Herchcovitch?
Na verdade, eu vejo muitas similaridades entre o universo da MCD, que é uma marca de surfwear americana, e quando eu conheci essa marca e a gente recebeu essa proposta de fazer esse trabalho, eu jamais aceitaria se não tivesse nenhuma conexão. Então eu comecei a perceber que eles sempre usaram muito a caveira, eles fazem um surfwear um pouco mais dark, um pouco mais sombrio, e foi ai que eu encontrei um ponto em comum pra fazer esse licenciamento, além de ser um contrato que poderia trazer um volume de dinheiro muito importante pra empresa. Então existem vários fatores que me fizeram aceitar esse trabalho.

No início da sua carreira, qual foi sua maior dificuldade pra abertura da marca?
Eu tive as mesmas dificuldades de qualquer pessoa que abre qualquer negócio. Eu não tinha dinheiro, não sou de família de classe A, nem de classe C, então eu tive que fazer tudo com muito esforço e com muito trabalho, aceitando todo tipo de trabalho que eu conseguia, pra conseguir dinheiro, pra abrir minha primeira loja. Eu tive a ajuda dos meus pais, que liberaram nossa casa pra fazer um ateliê. Eu ganhei a primeira máquina de costura do meu pai, então eu tive um grande apoio dentro de casa. Eu tenho certeza que isso influenciou pro resto da minha vida, eu não sofri nenhum tipo de rejeição por querer ser estilista e por trabalhar com isso, eu fui sempre muito apoiado dentro de casa, e sou até hoje. No começo, eu tive a dificuldade das pessoas entenderem qual era minha proposta, porque de fato, sempre foi uma moda contestadora, uma moda que era um pouco diferente do que tava acontecendo no Brasil e em outras partes do mundo, e demorou muito para as pessoas falarem: essa é uma moda que eu posso consumir. Só que eu sempre fui muito corajoso, e sempre quis mostrar exatamente aquilo que eu gostava e acreditava e nunca cedi a nada. E isso fez com que eu construísse a marca da maneira que todo mundo conhece hoje. Então, a maior dificuldade foi de fato, me encontrar, o como me mostrar da melhor maneira possível. Depois da marca consolidada, depois do décimo ano, eu posso considerar que a marca começou a ser entendida, começou a ser consumida no Brasil inteiro e no mundo inteiro. A maior dificuldade hoje talvez seja acertar o produto, fazer o produto no preço correto, entender qual é o mercado brasileiro. E essa é uma dificuldade não só minha, mas também de vários estilistas amigos meus. Porque a gente está lá, fechado no nosso mundo, criando uma roupa que só a gente entende, e muitas vezes eu fiz uma roupa que o Brasil não entendeu, não consumiu. Então, hoje eu acredito que minha moda é madura o suficiente pra eu vender muito no Brasil e muito fora também. Então, conhecer seu principal público alvo, e o nosso maior público é o Brasil, tá sendo a maior dificuldade.


Você tem interferência do seu departamento comercial?
Pouca interferência. Na verdade, eu sou bastante respeitado dentro da empresa, por todos os departamentos, pelos donos da empresa, porque eu não sou mais dono da marca que leva o meu nome, e a criação nunca foi questionada. E departamento comercial, depois que eles conhecem a coleção comercial inteira, eles acabam opinando e pedindo, de repente, uma cor a mais no produto, modificar por exemplo, um comprimento de um vestido, de uma saia e a gente atende a todos os pedidos.  Só que, na verdade, sempre tem uma briga entre departamento de estilo e departamento comercial, porque o comercial tem várias metas a atingir e tem um número pra vender durante o ano, e eles tem que fazer de tudo pra fechar esse número e às vezes, eles enxergam que com aquela coleção que o estilista fez eles não vão conseguir. Mas eu acredito no departamento comercial que acredita na marca e acredita naquele produto que o estilista fez.

Você imaginava que seria um ícone da moda brasileira com essa projeção toda? E se você imaginava que seria uma coisa tão industrial, não tão artístico, mas essa coisa mais indústria?
Eu gosto muito do lado industrial. Na verdade, eu acho que o grande ganho que a gente tem é tentar transformar uma ideia que, vou usar suas palavras, uma ideia artística, em algo industrializado. Então, o meu maior prazer hoje é fazer uma criação, como criar um óculos, que eu criei artesanalmente pro desfile, e depois ele é reproduzido industrialmente, pra ser vendido em mais de 1.500 lojas da Chilli Beans, por exemplo. Então, eu acho que tem espaço pras duas coisas, tem espaço pra uma roupa única, uma roupa mais artística, que é apresentada no desfile, e depois uma, ou duas, ou três pessoas vão consumir, e tem muito mais espaço pra essa roupa, pra essa ideia, quando ela é industrializada.


(Sobre a primeira pergunta) Na verdade, eu não faço nenhum plano pro futuro, é uma regra na minha vida, eu não gosto de parar e ficar pensando no que vai acontecer, eu não funciono desse jeito, eu funciono com as coisas que tenho que fazer agora.  Então, quando eu comecei a trabalhar, quando eu comecei a mostrar minhas roupas, a minha primeira consumidora foi minha mãe. Eu comecei a fazer roupa, fiz uma pra ela, fiz uma pra mim, e ela queria mais. Depois veio um amigo que queria uma calça que eu tinha feito. E muitas pessoas tem a mesma história, eu já ouvi essa mesma história de umas 10 pessoas que trabalham com moda, é uma história comum. Só que eu nunca imaginei que mais pessoas foram querendo, depois viram que eu tinha uma expressão, uma personalidade muito forte que eu colocava dentro das minhas criações. E as pessoas, em geral a imprensa, quis saber minha opinião, não somente de roupa, mas sobre outros assuntos, culinária e outros. E daí, fui respondendo, fui me expondo, até o tamanho que é hoje. Mas eu nunca projetei, nunca planejei, tem gente que pensa que eu mandei fabricar meu nome e sobrenome, que é uma coisa feita por agência de publicidade. Até isso eu já tive que ouvir porque as pessoas realmente não acreditam que isso pode ter acontecido e eu acho que isso é uma bobagem porque qualquer um que mostre seu trabalho com muita seriedade, com muita propriedade e, muito particularmente, colocando sua alma e sua essência no produto, acaba sendo reconhecido por um público, por vários públicos, o que é o caso… até hoje.

Como acontece o processo do que você cria, do que você usa na passarela e depois vai pra loja?
A gente não resolve o que vai pra loja depois da passarela, é tudo simultâneo. Primeiro eu começo a criar uma coleção de oito a dez meses antes do desfile, não é uma coisa do dia pra noite. Então, quando a gente começa com uma ideia, simultaneamente, são criadas roupas que vão ser desfiladas e roupas que não vão ser desfiladas, ao mesmo tempo, com a mesma ideia. Eu trabalho com uma equipe de 6 pessoas, não trabalho sozinho. E nem sempre a melhor ideia é a minha, na verdade, eu trabalho reunindo as melhores ideias dentre aquelas pessoas que eu confio. Então, eu tenho pessoas que desenham a coleção masculina, pessoas que desenham a feminina, eu desenho o desfile, só que tudo isso acontece na mesma sala, ao mesmo tempo, então todo mundo fala a mesma língua. O que pode de repente acontecer é que, depois do desfile ser apresentado, as pessoas se interessem por comprar alguma peça que eu não imaginei serem industrializadas. Isso pode acontecer depois do desfile, mas a coleção industrial é desenhada simultaneamente com as do desfile.

Um percentual do que tá na passarela e vai pra loja? Tudo vai pra loja?
A coleção comercial inteira vai pra loja. 100%. E hoje, a gente tá falando de 150 itens entre masculino e feminino por coleção. E pra passarela a gente cria mais uns 40/50 itens. Desses, uns 20 itens são reproduzidos em série. E uns 30 ficam como peças únicas.

E você tem um acervo? Tem as peças desde o inicio?
Sim, eu tenho, por exemplo, dois vestidos que eu fiz pra minha mãe em 1986. No acervo tem um total de 3.000 peças, mais ou menos.

E você já fez exposição desse acervo, pensa em fazer?
Não, pensar em fazer a gente pensa. Na verdade, eu pretendo fazer até o final de 2014. Vários eventos vão acontecer pra comemoração de 20 anos de carreira. Então vou lançar um livro ano que vem. Mais um, porque já tenho alguns publicados, vamos fazer um documentário.


Com 20 anos de carreira, você traz alguma coisa do inicio, dos anos 90, de quando você começou a usar essas coleções de hoje?
Era bem polêmico, hoje eu consigo colocar uma travesti pra desfilar na passarela, mas há 20 anos atrás era polêmico. O que a gente tem feito, e na última coleção de verão isso estava muito presente, é refeito algumas ideias que a gente não aproveitou comercialmente há 20/15 anos atrás, então a gente tá em um momento de olhar muito a história da marca. … Pra mim, nunca foi símbolo de morte, e sim símbolo de vida, porque a caveira são os ossos que permitem que a gente fique de pé, e estejamos aqui né. Enfim, pra mim nunca foi um símbolo ligado à morte. E hoje, a gente explora a caveira, de uma maneira um pouco mais discreta, a gente já explorou muito mais. E também hoje, as pessoas aceitam muito mais esse símbolo do que há 20 anos atrás. Antes era muito difícil, na minha etiqueta tinha uma caveira, minha primeira etiqueta era minha assinatura com a caveira. E as pessoas não queriam comprar porque tinha uma caveira. Hoje não, hoje tem caveira em tudo qualquer lugar. Já tive clientes que não podiam usar a caveira por causa de religião. Acho que não existe tanto isso, mas espero que seja superado. A gente não pode ligar caveira a uma coisa com religião, mas não quero discutir isso profundamente.

Eu me lembro quando você veio há 5/7 anos atrás em Goiânia, eu estava no primeiro ou segundo ano de faculdade, naquela época você já era bastante conhecido. O que você acha hoje em dia da importância dos blogs?
Todo mundo hoje tem acesso a escrever o que quiser em qualquer lugar, e algumas tiveram mais oportunidades que outras, e os blogs de moda e também de outros assuntos, se tornaram importantes, até mais que o jornal. A minha visão disso é de ver como que a comunicação vai ser daqui há a alguns anos, não hoje. Hoje já aconteceu, hoje é isso, blog de moda, a revista de moda tem sua importância, o jornal tem a sua importância, mas só é publicado no dia seguinte, e alguns sites e blogs podem publicar simultaneamente. Essa palestra está sendo transmitida ao vivo, hoje as pessoas já ouviram. Com todo respeito aos jornalistas que vão escrever no jornal sobre a palestra, vai ser publicado amanhã, ou com dois dias. Mas esses jornais têm os seus próprios sites também, porque já entenderam que tem que escrever na hora. Então, esse que é o problema, você tem a informação muito rápida. O outro ponto, o problema dos blogs, é que você tem que saber em quem confiar, todo mundo escreve o que quiser, muitas pessoas ás vezes não entendem da história da moda, do vestuário e das próprias marcas. Então eu acho que pra escrever tem que ter muita coragem. Eu, por exemplo, não sei escrever, jamais teria um blog, ou alguma coisa, porque eu não sei fazer isso, eu sei fazer roupa. Mas é algo que acontece pela globalização, pelos meios de comunicação serem pra todos, e todo mundo poder acessar e ter um blog.

Você ainda gosta de ser polêmico?
Não, eu nunca procurei ser polêmico. Eram temas que eu abordei e gostava e tudo mais. Hoje, a transgressão e a polêmica, que foram dois assuntos muito recorrentes no inicio da minha carreira, se transformaram em outra coisa. Hoje eu procurei aprender muito mais sobre costura, sobre moda, sofistiquei minhas coleções, aprendi a fazer uma alfaiataria. Sou reconhecido por ter uma alfaiataria específica e hoje a minha transgressão ao invés de falar sobre esses temas polêmicos e fazer uma roupa de festa com tecido barato, fala de uma roupa do dia a dia com tecido mais elaborado, então hoje minhas transgressões são muito mais sutis que naquela época.

A história da sua estampa, que era de tecidos antigos, que você fez uma estampa…
Talvez, mas nem acredito que isso seja uma transgressão, mas é uma maneira de trabalhar, uma maneira de fazer diferente uma mesma coisa, o que é muito difícil. Eu acho que a profissão de estilista talvez seja uma das mais cruéis que exista, porque você sempre tem que criar algo novo. A pressão é muito grande, pra ter que ser manter na mesma posição, pra não cair, pra não fazer algo pior do que você já fez, sempre fazer melhor, melhor, melhor. E existe, nós somos seres humanos, todo mundo erra, então, nem sempre eu vi uma coleção que eu adoro, por um momento, por falta de confirmar. Então essa cobrança é muito cruel por parte da imprensa, cliente.


Quando foi escolher alguma área da moda como que você soube que você queria ser estilista?
Eu comecei a fazer roupa muito cedo. Mesmo antes de fazer a faculdade, eu fiz diversos cursos. Uma das minhas grandes influências foi de fato ter feito roupas pras pessoas da noite de São Paulo. Há 20 anos atrás, era um público gay. Então eu fazia roupas pra drag queens, pessoas que trabalhavam em boates, faziam shows, isso foi um grande laboratório e de grande liberdade eu acho, do que começar direto a fazer uma roupa que já tinha um padrão. Então eu comecei a fazer roupas pra pessoas que aceitavam tudo aquilo que eu fazia. E eu não sei, talvez tenha sido uma fase, mas hoje em dia, passou.

O que você acha do fast fashion?
Eu acho que a partir do momento que você produz tudo na China onde tudo é possível e você chega no Brasil com essa qualidade e esse preço de fato vai incomodar muita gente. O momento da moda, não sendo pessimista com quem tá estudando, mas no Brasil é um momento delicado. Você tem todas as marcas importadas chegando no Brasil, todos os shoppings dando os melhores pontos pras marcas importadas e não pras marcas nacionais, então o que eu entendo é que o shopping tem que vender ponto. Não estou criticando, só estou comentando. Então, hoje, além de você ter que ser concorrente estilista, que é seu vizinho de porta, a moda concorre com celular, com carro, com viagem, com tudo. Você pode viver mais um mês com essa jaqueta, mas você quer comprar o último celular, concorda? Hoje você tem que ser muito perspicaz e ter várias maneiras de conseguir de fato fazer dinheiro, não só com a roupa. E o processo nosso de abrir a marca pra licenciamento há 12 anos atrás, hoje tá surgindo com um efeito muito importante, porque se a gente tá desenhando venda em roupa, a gente tá ganhando em produtos mais populares. E produtos populares são os do fast fashion.

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