Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Hiato Entre Produção e Varejo Acirra Debate Sobre 'Culpa' do Câmbio

Em 2005, 12 em cada 100 produtos consumidos no país, vinham do exterior. Na mesma época, quase 19 de cada 100 peças produzidas pela indústria brasileira foram vendidas em outros países. Desde então, os coeficientes de importação e exportação inverteram a mão. No ano passado, a importação representou 20% do consumo de bens industriais no país, enquanto a participação das exportações encolheu para 15% da produção. Nesse período, o câmbio efetivo - que pondera o real pela inflação e pela moeda dos principais parceiros comerciais do Brasil - sofreu uma valorização de cerca de 40%, movimento também influenciado pelo aumento dos preços internos superior aos externos. Isso encareceu os produtos "made in Brazil" e barateou os "made in China, Alemanha, Coreia etc".

Junto com essa troca de sinais, a produção da indústria de transformação cresceu 15% ao longo dos mesmos seis anos, enquanto as vendas no comércio doméstico aumentaram 70% em volume, reforçando a ideia de que os importados abasteceram uma parcela crescente do consumo doméstico. Olhando para dados como esses, economistas que estudam a indústria dividem-se entre qual a "responsabilidade" do câmbio na perda de dinamismo e de espaço da indústria brasileira. Para alguns, ele é "o" problema. Para outros, é "uma" parte do problema.

O economista Roberto Iglesias, diretor do Centro do Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes), não aceita a transformação do câmbio em grande vilão e, consequentemente, em solução milagrosa dos problemas da indústria. "É preciso ampliar o diagnóstico, senão a solução será equivocada", diz ele, relacionando custo da mão de obra, baixo investimento e problemas sistêmicos, de infraestrutura e logística, como elementos fundamentais da história da indústria nos últimos anos.

Para Iglesias, o aumento dos custos internos é "o" problema que indústria e governo vêm postergando há anos. Em um primeiro momento, observa, quando o real começou seu processo de apreciação, a conjuntura externa era muito diferente. O mundo crescia e aceitava aumentos de preços em dólar. Para ajudar, a partir de meados da década passada, o mercado doméstico começou a crescer de forma acelerada e o produtor industrial redirecionou sua oferta para dentro do país de forma vantajosa. "O aumento dos custos deveria ter sido enfrentado muito antes, e não ter sido sempre, apenas, repassado", argumenta.

Em um detalhado trabalho em parceria com a economista Sandra Rios, Iglesias mostra que parte do menor crescimento da produção industrial está associado à decisão de atender ao mercado interno com a produção que antes ia para o exterior. Entre 2006 e 2011, por exemplo, o volume exportado pelo setor de calçados encolheu 47%, enquanto o preço em dólar do sapato brasileiro aumentou 44%.

Lívio Ribeiro, economista da JGP Investimentos, acompanha o debate da indústria desde a graduação e o mestrado na PUC-Rio, partilhando da avaliação de que outras questões fazem parte da solução. Para ele, o câmbio é um elemento desfavorável para o setor, porém a equação que vai devolver (ou trazer) competitividade ao segmento é muito mais complexa.

Ribeiro chama atenção para a heterogeneidade do setor de transformação no Brasil (que abriga desde a Embraer até centenas de fabricantes de farinha) e para situações que decorrem de transformações globais. Entre elas, o fato de que a valorização do real não foi um caso isolado, e, por mais que o governo adote medidas de defesa cambial, a cotação à qual a indústria precisa se adaptar não é a confortável taxa do passado. Nas mudanças mundiais, diz Ribeiro, 2011 foi emblemático. No ano passado, observa, o concorrente externo veio para o mercado interno e trouxe para o Brasil a "briga" que antes a indústria brasileira travava (ou evitou disputar, em alguns casos) no exterior.

Na outra ponta do debate, o professor Nelson Marconi, da Fundação Getulio Vargas em São Paulo (FGV-SP), atribui ao câmbio a principal responsabilidade pela evolução (ou quase involução) recente da indústria. A importação, calcula, absorveu 38% do crescimento da demanda doméstica em 2011, aí somados o consumo das famílias e o investimento. De cada R$ 100 extras de aumento nessa demanda, quase R$ 40 foram parar no exterior. "Não tiro a responsabilidade de outros itens, como salário e infraestrutura, mas a vantagem de preço dada ao nosso competidor externo com esse câmbio é inegável."

O diretor do Instituto de Economia da Unicamp, Fernando Sarti, também vê no câmbio um grande problema, notando que a valorização do real é "uma tendência que vem de anos". Esse câmbio persistentemente apreciado não apenas atrapalha as exportações e dificulta a vida de quem concorre com as importações, diz Sarti. Ele causa um efeito mais perverso - o de afetar decisões de investimento, ao reduzir as perspectivas de rentabilidade de quem exporta ou compete com o bem importado.

Segundo Sarti, houve um ciclo forte de investimento industrial especialmente entre 2006 e 2008, que perdeu o ímpeto após a crise global. "O ciclo de investimento industrial é portador de novas tecnologias e de ganhos de escala, que geram eficiência e aumentam a competitividade", diz ele, lamentando a oportunidade perdida.

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, também não concentra a solução dos problemas indústriais no câmbio. "Não há como mandar o dólar para R$ 2,30 sem inflação, já que a atividade hoje não está fraca como em 2008 e 2009, quando a desvalorização não pressionou os preços." Aumentos de custos, como de energia e infraestrutura, precisam ser enfrentados. Outro problema, segundo Vale, é que a inflação mais alta nos últimos anos ajudou a valorizar o câmbio em termos reais. "O que importa é o câmbio real, e a inflação brasileira tem ficado acima da dos parceiros comerciais."

Fonte:|http://www.valor.com.br/brasil/2575762/hiato-entre-producao-e-varej...

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