Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Linguagens e características fashion daqui e de acolá

 

Neste artigo sobre aspectos da moda, trago uma breve reflexão do que poderia ser entendido como identidade criativa e visual de alguns países que contribuem para o cenário internacional da moda.

 

Moda francesa

A França é o país que mais tem tradição no universo da moda no mundo. Independentemente de outros fatos históricos anteriores associados à moda, é na segunda metade do século 17 que Luís XIV, o Rei Sol, cria esta França sofisticada como nós a conhecemos (e da qual gostamos muito) e que também investe na moda.

A partir daí, essa prerrogativa passa a ser uma referência e uma identidade nacionais. As principais características, e que ainda têm validade, passam a ser refinamento, sofisticação, elegância, classe, suntuosidade e luxo, aliadas à ornamentação elaborada e à valorização do trabalho artesanal especialmente pelas técnicas do bordado e da renda, numa busca constante, e sempre renovada, da beleza visual por meio das roupas e de seus satélites, como calçados, acessórios, penteados, joalheria e, obviamente, também pelo viés da cosmética e da perfumaria, sem falar no setor da alta-costura, que é um patrimônio cultural parisiense.

 

Moda inglesa

A Inglaterra, desde a década de 1810, começa a ganhar prestígio com a moda masculina (e o mantém até hoje), rivalizando com a França, que predominantemente se posiciona com a moda feminina. O dandismo (comportamento, postura e moda masculinas) é um conceito eminentemente inglês que passa a ser uma identidade local.

Na moda em geral, incluindo a feminina, a Inglaterra projeta-se mundialmente por intermédio de uma moda jovem a partir do final dos anos 1950 e também dos anos 1960, tendo como identidade os aspectos de transgressão comportamental e visual, jovialidade inovadora, irreverência, busca de novos materiais e formas como expressão de ousadia e vanguardismo em cores vibrantes e diferentemente combinadas em padrões e estampas, normalmente associados a grupos musicais jovens.

 

Moda italiana

Com grande tradição nas artes, arquitetura, culinária, artesanato e turismo, a Itália vai se projetar mundialmente na moda somente a partir do término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), mesmo assim bebendo numa fonte estética totalmente francesa para a moda feminina. Artigos de couro e alfaiataria – sartoria – já estavam bem posicionados havia mais tempo.

Especialmente a partir das décadas de 1960 e 1970, pela aplicação dos valores e conceitos do design tanto nas formas quanto nas superfícies, é que a moda italiana se torna criativa e genuína, conseguindo grande projeção internacional. Os aspectos de apurado domínio técnico em talho, costura e acabamento em sofisticadas bases têxteis, associados, obviamente, a uma funcionalidade inteligente, passam a criar novas elegâncias contemporâneas.

 

Moda norte-americana

Como bons conhecedores e praticantes dos valores de negócios, marketing e consumo, os norte-americanos que já produziam roupas em série desde o século 19 (como também alguns países europeus) vão redimensionar essa forma de produção pós-final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e vão ter as prerrogativas de roupas de moda rapidamente produzidas, economicamente acessíveis e de boa qualidade como grande identidade.

O tal ready-to-wear (pronto para usar) ganha o mundo em roupas práticas, confortáveis, joviais e de bom preço aliadas, paradoxalmente, ora ao exagero, ora ao purismo, tanto nas formas como nas cores e complementos. A partir dos anos 1980, quando uma moda urbana em cores escuras e formas simplificadas é altamente valorizada, a moda norte-americana é redimensionada no mercado, o que inclui as roupas e calçados esportivos para jovens e adultos, que também passam a ter uma espécie de identidade de moda nacional, que desde os anos 1910, na moda masculina, já era conhecida como sportsman.

 

Moda japonesa

O Oriente sempre valorizou, bem mais que o Ocidente, os aspectos relacionados à tradição em diversas áreas e na moda não é diferente. Enquanto investem em tecnologia de ponta, os valores que remontam ao passado não são esquecidos e sim renovados e ressignificados dentro da contemporaneidade. Se roupas orientais diversas – inclusive as japonesas – já chegaram e influenciaram o mundo ocidental em formas, cores e estamparia em outros momentos, é a partir dos anos 1980 que esse diálogo ganha maior corpo por intermédio de estilistas japoneses estabelecidos em Paris (desde o fim dos anos 1960).

Esses profissionais propuseram não só o pauperismo como padrão estético, mas, especialmente, o minimalismo num purismo total de cores neutras em formas inusitadas inteligentemente elaboradas e arranjadas, além do uso de técnicas de construção têxtil baseadas em antigas tradições nipônicas. Se a moda jovem no Japão é ousada e exuberante, foi com as premissas do minimalismo que os japoneses criaram identidade internacional contemporânea e se lançaram no mundo fashion.

 

Moda brasileira

Esta é de formação bem recente, a partir dos anos 1990, como identidade de design de moda nacional. A moda no Brasil sempre referenciou a moda de outros países, principalmente a francesa para as roupas femininas, e também acompanhou a singularidade da moda jovem tanto inglesa quanto norte-americana. Apesar dessas influências internacionais, os profissionais locais sempre adaptaram essa moda à nossa realidade econômica, social e, principalmente, climática.

Por meio e apesar desse percurso de linguagem importada, as realidades do colorido, do informal, do descontraído, do uso de fibras naturais em formas muitas vezes exageradas e dramáticas da moda brasileira projetam-se e identificam-se culturalmente com o barroquismo que tanto nos é peculiar. Essa prerrogativa de valorização da nossa cultura como inspiração nas propostas de moda local só veio pós-abertura às importações no início dos anos 1990 como forma de diferenciação, identidade e valor agregado ao produto nacional para se diferenciar do importado. Mesmo com esse processo, é lógico que não se pode esquecer de três segmentos que muito projetam a moda brasileira para o mundo, que são os jeans, a moda praia e a moda surfe, que se tornaram referências para a moda internacional.

 

João Braga é estilista, escritor e professor de história da moda das faculdades Faap e Santa Marcelina e da Casa do Saber.

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Comentário de Biti Averbach em 6 fevereiro 2014 às 9:37

Como sempre, um ótimo texto, bem escrito, com informações precisas e confiáveis. Admiro João Braga de longa data. Gostaria de saber onde o texto foi publicado.

Obrigada!

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