Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Quando você pensa em “negócio”, o que vem na sua cabeça? Uma loja de roupas, de calçados? Uma indústria que produz sucos, biscoitos, enlatados? Ou uma empresa de logística, construção civil?  

E se eu te contar que existem negócios que desenvolvem outro tipo de produto? Nem sempre é algo físico, que a gente pode tocar ou precificar. Por exemplo, alfabetizar uma turma de crianças que tem idades diversas, levar atendimento médico a quem não consegue acessar o SUS, proporcionar uma alimentação nutritiva a pessoas vulneráveis, aumentar a taxa de reciclagem de lixo de um município. 

E eu não tô falando de Organizações Não-Governamentais, nem de instituições de caridade ou filantropia. O nome disso é negócio de impacto social. 

A diferença é que, enquanto o terceiro setor não tem fins lucrativos, os negócios de impacto buscam, sim, retornos financeiros e atuam de acordo com a lógica de mercado. 

Em relação aos negócios tradicionais, a diferença é que, nos de impacto, a atividade principal é resolver um problema social ou ambiental e o empreendedor tem o compromisso de monitorar o resultado da solução proposta. 

"O empreendedorismo de impacto social e ambiental representa uma evolução no modo de pensar e fazer negócios; representa usar a força e lógica do mercado para a transformação positiva da sociedade", avalia Priscila Martins, diretora de Relacionamento Institucional da Artemisia, aceleradora de negócios de impacto social. 

A Agência de Notícias da Indústria mergulhou nesse universo e descobriu diversas iniciativas desse ecossistema que você vai conhecer agora! 

 Trabalho de formiguinha 

Para fortalecer os negócios de impacto social no Brasil, os empreendedores contam com o suporte de aceleradoras e incubadoras em alguns estados. Uma delas é a Artemisia, que, desde 2005, lidera iniciativas via programas de aceleração, apoio em pilotos de inovação aberta e articulação de investimento. A organização também faz a ponte entre grandes empresas e o universo dos negócios de impacto e produz estudos e teses sobre o tema. Em quase 20 anos de existência, a Artemisia já impulsionou mais de 770 iniciativas de impacto de todo o Brasil. 

A diretora de Relacionamento Institucional da aceleradora, Priscila Martins, explica que embora a maioria dos negócios seja de pequeno porte, isso não significa que eles não tenham muito potencial. 

A Artemisia foi pioneira no apoio a negócios de impacto social, mas hoje existem outras iniciativas com o mesmo papel, como a Quintessa e a Ekloos

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 Desenhos do mangue 

Aos 17 anos, um jovem negro, morador de Santa Luzia do Itanhy, no Sergipe - uma comunidade quilombola de pescadores com aproximadamente 200 pessoas - foi convidado pela professora da escola para participar de um grupo de desenho. 

No início, Genisson Cardoso não se interessou muito pela ideia, mas depois que a diretora da escola conversou com a mãe dele, decidiu conhecer a iniciativa. Era uma oportunidade de ir ao povoado vizinho, onde ocorreriam as aulas, e ter um hobbie. 

Depois de aprender as técnicas de desenho e suas aplicações possíveis, com o professor Marco Namura, de São Paulo, Genisson entendeu que poderia tentar ganhar dinheiro com aquilo ao invés de seguir o curso natural no povoado quilombola: viver da pesca ou procurar oportunidades de emprego em cidades maiores. 

Batizado de Arte Naturalista, o projeto incentivava os alunos a ilustrar a natureza do mangue, primeiro com lápis e papel, depois de forma digital, em tablets. A iniciativa era bancada pelo então Instituto de Pesquisas em Tecnologia da Inovação (IPTI), uma instituição privada de pesquisa, sem fins lucrativos. 

Quando soube que os alunos que mais se destacassem no projeto ganhariam uma bolsa, Genisson começou a se dedicar e, alguns meses depois, não só ganhou a bolsa, como foi escolhido pelo IPTI como "reaplicador". Sua função era repassar à nova turma de alunos tudo o que tinha aprendido com o professor Namura. 

"Eu estava esperando fazer 18 anos pra sair daqui, achava que a arte não poderia me levar a lugar nenhum, mas o meu pensamento começou a mudar. Eu estava fazendo coisas que eu nunca imaginei, como sair do meu estado para trabalhar, viagens a passeio e fazer uma graduação. Agora eu estou terminando a faculdade de Artes Visuais. Minha cabeça mudou totalmente, minha percepção de vida, visão de mundo mesmo", conta Genisson. 

O jovem ficou quatro anos como reaplicador no projeto. Assumiu novas turmas, com jovens talentos da região, virou coordenador e, quando percebeu que já tinha experiência suficiente decidiu alçar novos voos. Se juntou a dois amigos ilustradores e, juntos, os três fundaram a irreverente Casa do Cacete. O nome veio da expressão muito popular no estado para designar um lugar longe, como a Mata do Crasto, onde Genisson cresceu.  

"No início era uma startup voltada para desenhos da fauna e flora do manguezal. A estética do mangue é pouco usada no ramo da moda e de modo geral. O mangue aqui é o nosso quintal. A gente aprendeu a pescar os elementos do mangue, só que o projeto me fez perceber que eu poderia continuar com outra pesca: a da estética. Foi quando entendi que eu poderia estampar alguns produtos", lembra o jovem. 

Hoje a Casa do Cacete é um negócio de impacto social que transforma os desenhos do mangue em estampas para lenços, camisetas, bolsas, papel de parede e várias outras aplicações. Genisson já conseguiu estampar coleções inteiras de marcas famosas como Morena Rosa, Osklen, Insecta Shoes e marcou presença em vários eventos como palestrante ou expositor. Além disso, a Casa tem uma loja virtual com produtos a pronta entrega. 

O lado social do negócio vem da Arte Naturalista, o projeto que deu início a tudo e que contribui com vários talentos, como explica o empreendedor. "Qual é a minha visão? Que o projeto do IPTI forme os meninos e depois que eles tenham seus traços, sua personalidade, seu jeito de desenhar, a gente, como startup, consiga dar apoio. Quando alguém quer fazer uma encomenda a gente solicita a alguns meninos que nos ajudem na produção".

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O IPTI hoje se chama The Human Project (THP), uma instituição que já desenvolveu 19 projetos de impacto social em Santa Luzia do Itanhy. O modelo é sempre o mesmo: ensinar a pescar. Cada projeto tem um profissional para dar o start e escolher um ou mais reaplicadores, que vão repassar os ensinamentos a outros colegas e assim perpetuar a iniciativa. Graças ao protocolo, alguns dos projetos desenvolvidos em Santa Luzia chegaram a mais de 70 municípios de 12 estados do país. 

O grande nome por trás do THP é Saulo Barreto, um sergipano inconformado com as desigualdades no Brasil. Graduado em engenharia civil no Sergipe, virou professor de uma universidade particular de São Paulo. Depois de algumas frustrações com a profissão, voltou ao menor estado do país com a intenção de colocar em prática o que chamou de "modelo de combate à pobreza". 

Para experimentar seus projetos, como um laboratório social, Saulo escolheu o município mais pobre do estado: Santa Luzia do Itanhy, onde 26% da população vivem em extrema pobreza, 33% são analfabetas e o IDH é um dos piores do Brasil.

O objetivo do THP é que cada tecnologia social se torne um negócio de impacto social, como o projeto Arte Naturalista se tornou a Casa do Cacete. Assim, a população de Santa Luzia do Itanhy pode sobreviver e se desenvolver a partir da própria renda ao invés de abandonar o povoado em busca de uma vida melhor em outro lugar. 

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O primeiro projeto do THP, iniciado em 2010, foi a Synapse: uma metodologia de alfabetização para crianças de 6 a 8 anos. Um dos desafios era encontrar formas de educar crianças de idades diferentes que frequentam a mesma turma, realidade comum a muitas escolas de municípios pequenos.  

Pesquisadores de neurociência e educação se juntaram a quatro professoras e desenvolveram um método de ensino em que o cotidiano dos alunos é usado para explicar os conteúdos. Quando falam do próprio dia a dia, o português e a matemática ficam mais fáceis de entender. 

Depois de 6 anos desenvolvendo e documentando a metodologia, as quatro professoras de Santa Luzia começaram a escalar o projeto. Hoje, 2 mil professores de 51 municípios, em seis estados - Pará, Maranhão, Ceará, Paraíba, Sergipe e Minas Gerais - aplicam a metodologia Synapse para mais de 40 mil estudantes. 

"É importante entender essa cadência. Você precisa trabalhar bem aquela comunidade, aquela pequena elite local. Porque esse é o grande defeito de quem faz projetos sociais no Brasil: é pensar a escala como ponto de partida. Escala é uma consequência de formar capital humano, porque transformação social só acontece de fato quando a comunidade é protagonista", explica Saulo. 

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 Quando a saúde vai até o paciente 

Sabe aquele ditado: “Se a montanha não vai a Maomé, Maomé vai até a montanha”? É mais ou menos isso o que os empresários Roberto Kikawa, Iseli Reis, Ivan Paulo e Julia Yumi pensaram ao criar a Fleximedical Soluções em Saúde. Só que nesse negócio de impacto social, “a montanha” vai a Maomé. 

Fundada em 2005, dentro da Universidade de São Paulo (USP), a Fleximedical fornece a governos e empresas privadas carretas de saúde equipadas com salas de atendimento climatizadas, equipamentos de diagnóstico de alta tecnologia, áreas de esterilização, salas de espera com recepção, banheiros e um elevador para pessoas com dificuldade de locomoção. O veículo tem 15 metros de comprimento e conta com um sistema automatizado que permite a abertura das laterais, expandindo a área de atendimento para 100 m2. 

Os centros de saúde itinerantes – que podem ser carretas ou estruturas menores, como vans, contêineres e cabines – viabilizam atendimentos de baixa complexidade, como exames oftalmológicos, de sangue, raio-x, tomografia, ultrassonografia, vacinação e outros. A Fleximedical entra com a infraestrutura, mas os profissionais em saúde devem ser contratados pelo cliente. 

“A primeira fase do processo é a definição de projeto, que é sempre customizado para a necessidade de cada cliente. Depois compramos o veículo e começamos a etapa de customização, que é 100% executado pela Fleximedical”, explica a arquiteta hospitalar e CEO da Fleximedical, Iseli Reis. “Desde o isolamento térmico, marcenaria, elétrica, hidráulica, até constituir todos os itens necessários de acordo com as normas técnicas vigentes para ambientes de saúde.” 

Iseli conta que a empresa também tem investido muito em tecnologia nos últimos anos e hoje trabalha com cabines equipadas para atendimentos via telemedicina e tem condições de oferecer serviços via IoT (Internet das Coisas). 

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Os rendimentos do negócio social vêm da venda e locação das unidades móveis e da prestação de serviços de consultoria para o desenvolvimento de projetos de saúde. “Além disso, participamos de projetos financiados por agências de desenvolvimento e fundos de investimento focados em impacto social”, conta Iseli. 

Ao longo de quase 20 anos de existência, a Fleximedical já fabricou mais de 90 unidades móveis de saúde e atendeu mais de 4 milhões de pessoas em todo o Brasil em dez especialidades médicas. 

Durante a pandemia, 90 carretas da Fleximedical reforçaram os atendimentos do SUS a pacientes com Covid-19. Nesse período, cerca de 100 mil pessoas foram atendidas pelas unidades móveis em diversas partes do país. 

“Decidimos investir neste modelo porque vimos uma oportunidade clara de fazer a diferença no acesso à saúde. A mobilidade permite levar serviços de saúde de alta qualidade para qualquer lugar, superando barreiras geográficas e de infraestrutura”, resume Iseli. 

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 Indo ainda mais longe 

Outro negócio de impacto pensado para levar a saúde até o paciente surgiu recentemente, em 2023, com o brasiliense Diógenes Firmiano. 

Cientista da computação, Diógenes desenvolvia tecnologias em saúde para o governo federal desde 2014. Entregou importantes aplicativos, como o ConecteSUS, Coronavírus SUS, e-Título, PIX, ENEM, SISU e outros. Até 2021 trabalhou para o Ministério da Saúde, ajudando na integração de dados entre estados e municípios. 

Depois criou o aplicativo IAsis: uma plataforma digital que reúne todo o prontuário dos pacientes: idade, peso, altura, tipo sanguíneo, comorbidades, medicações de uso contínuo, histórico de cirurgias, resultados de exames, caderneta de vacinação e pendências. 

Pelo aplicativo, os pacientes recebem lembretes quando existe alguma pendência de exame, vacina ou consulta médica de rotina. Também há um espaço para consultas via telemedicina ou chat direto com um médico. 

"O grande objetivo do aplicativo é ter a visão de saúde do paciente e permitir uma troca de informações entre ele e os profissionais de saúde para fazer o cuidado continuado em saúde. O paciente já tem direito de acesso à informação dele, mas se ele pedir, essa informação vem de qualquer jeito, sem padrão. Então a gente tem estrutura própria que organiza tudo e disponibiliza para o paciente", explica Diógenes.  

O sonho do empreendedor é conseguir levar esse sistema para todo o Brasil, mesmo porque existe uma portaria recente do próprio Governo Federal que busca essa unificação, o chamado SUS Digital. Mas o processo é longo e complexo. 

Em Minas Gerais a IAsis já conseguiu integrar dados de 19 hospitais, da regulação e da atenção farmacêutica. Foram 14 milhões de atendimentos e 5 milhões de pacientes mapeados. Agora a empresa está fazendo a integração com alguns municípios. "Então a gente consegue fazer uma lógica de atendimento com informações para tomada de decisões. Só que esse é um movimento contínuo, crescente e que leva tempo", resume. 

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Nasce o negócio de impacto social

Ao longo de todos esses anos trabalhando com tecnologia para saúde, Diógenes percebeu que, em muitas situações, não adiantava criar a solução tecnológica se lá na ponta o paciente não tinha nem sequer acesso a um computador. O braço social da IAsis nasceu no ano passado, por meio do projeto Kura, pensado para preencher essa lacuna: levar toda essa tecnologia em saúde para bairros ou comunidades vulneráveis. Com apoio financeiro de ONGs, o Kura consegue estruturar clínicas em saúde de uma forma que lembra muito a alternativa da Fleximedical. Uma "cápsula" pré-montada pode ser instalada em praticamente qualquer espaço cedido pela prefeitura ou pela comunidade: escolas, supermercados, presídios ou até mesmo uma oca. 

O projeto disponibiliza atendimento presencial com enfermeiros e técnicos em enfermagem, médico da família via telemedicina, e toda a estrutura mínima necessária para uma triagem em saúde e resolução de problemas básicos. Mais uma vez, a ideia é atuar na medicina preventiva. Só que aqui, como o público nem sempre tem acesso à internet, os técnicos e enfermeiros fazem o papel de monitorar e avisar os pacientes quando tem alguma pendência. 

As unidades da Kura são itinerantes, com exceção do ponto fixo que fica na Praça 7, no centro de Belo Horizonte. Esse inclusive é o único ponto que oferece os atendimentos a preços módicos para a população. Nos demais, os serviços são prestados gratuitamente, graças às parcerias com ONGs. Desde o início do projeto, 20 comunidades já foram atendidas; algumas em lugares bem remotos, como o território indígena do Xingu, no sul da Amazônia. 

"A integração dos dados é o começo da história. O final é a redução de custos, o acompanhamento em saúde, a qualidade de vida e a longevidade dessas pessoas", afirma Diógenes. "Eu acredito que o cuidado de saúde tem que estar na ponta, em tudo quanto é lugar, e não no modelo 'hospitalicentrico' que é o atual", conclui. 

Agora, a equipe de Diógenes está trabalhando em um modelo de negócio que permita à Kura ter autonomia financeira e não depender mais de recursos de ONGs. O projeto já tem nome: Kali. Mas ainda não foi completamente estruturado. 

"A ideia é criar um ambiente de tecnologia em que seja possível pegar todo o fluxo de dados dos pacientes e criar uma 'economia de dados'. Se o paciente quiser usar essas informações para conseguir um desconto em uma operadora, desconto em farmácias etc isso alimenta um fundo que pode ser reinvestido na saúde", explica o empreendedor. 

O olhar para esse tipo de empreendimento só não ganhou força ainda dentro dos governos municipais e estaduais, via incentivo fiscal, financiamento ou outra política. É o que chama atenção de Ingo Ploger, membro da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI) - um movimento coordenado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) para avançar na agenda de inovação empresarial. 

“É mais fácil falar com o Presidente da República e com o ministro e achar uma solução para o Brasil do que bater à porta de 5,6 mil prefeituras e tentar convencer, não o prefeito, mas o secretário de saúde de que isso é um bom negócio. A mentalidade da da base é mais difícil de mudar, mas quando você entra e faz, muda o conceito. Se você tiver exemplos faróis, vai ter sucesso. O político da base vai dizer ‘também quero fazer isso’. Temos de dar luz a isso”, defende Ploger. 

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 Impacto socioambiental 

Cada vez mais, a indústria brasileira tem procurado substituir as embalagens de uso único por recicláveis, mas nem sempre o que pode ser reaproveitado chega aos locais de reciclagem. Para atender essa demanda é que os sócios Adriano Ferreira, Leandro Metropolo e Rodrigo Oliveira fundaram a Green Mining, um negócio de impacto socioambiental. 

Criada em 2018 dentro do programa 100+ Accelerator, da Ambev, a startup é contratada pelas indústrias para retirar embalagens de vidro, plástico, papel ou papelão do lixo comum e dar a elas a destinação correta. 

“A gente criou uma solução tecnológica que permite executar uma logística reversa inteligente. Conseguimos mapear os locais de maior descarte de embalagens recicláveis nas cidades e implantamos sistemas de coleta de baixo custo e grande volume de recuperação”, explica Rodrigo, CEO da empresa. 

Para isso, a Green Mining conta com o trabalho de diversos catadores e carroceiros. Usando um triciclo adaptado, fornecido pela empresa, os colaboradores vão até os estabelecimentos mapeados, pegam os itens e entregam na central de recebimento mais próxima da Green Mining. Esses pontos de coleta, chamados de HUB, armazenam todo o material até que fiquem cheios e possam seguir para as usinas e empresas de reciclagem. 

Tudo o que é entregue é pesado e registrado no sistema da Green Mininig, para que a indústria contratante tenha como rastrear o processo inteiro. 

Graças ao suporte de empresas parceiras, é possível assinar a carteira dos catadores e pagar a eles um valor por hora trabalhada e não pela quantidade de material coletado. 

Além do impacto ambiental positivo, o negócio também consegue ajudar os empresários industriais a alcançar a meta, estabelecida por acordos setoriais, de comprovar o real recolhimento de suas embalagens pós-consumo em, ao menos, 22% da quantidade que foi colocada no mercado.  

Com o sistema da Green Mining o empresário controla a quantidade exata de cada material coletado para reciclagem e consegue prestar contas às autoridades. Assegura ainda o cumprimento da lei no processo de logística reversa: sem exploração de mão de obra infantil, sem trabalhadores informais e com uso dos equipamentos de proteção adequados. 

Em outra frente, a Green Mining permite que qualquer pessoa possa entregar materiais para reciclagem e receber dinheiro "na hora". É o projeto Estação Preço de Fábrica, o braço social da startup. O interessado deve baixar o aplicativo da Green Mining e se cadastrar. Depois leva o material coletado até uma das estações da empresa.  

Hoje existem unidades em São Paulo, Tocantins, Bahia ou Minas Gerais. Lá os recicláveis são pesados e, se o saldo for de mais de R$ 10, a pessoa recebe um PIX na próxima sexta-feira. Caso contrário, o valor fica como saldo e assim que atingir o mínimo de R$ 10 a pessoa recebe na próxima sexta-feira. 

O nome do projeto é Estação Preço de Fábrica porque a quantia repassada aos voluntários é maior. Isso é possível porque a transação é feita diretamente com a usina de reciclagem, sem intermediações. 

Desde novembro de 2018, o negócio já coletou e enviou para a reciclagem mais de 7,7 milhões de quilos de embalagens usadas e evitou a emissão de 1 milhão de quilos de CO2 na atmosfera. Essas cifras se referem a coletas feitas em bares, restaurantes, condomínios e com o projeto Estação Preço de Fábrica.  

Atualmente, a Green Mining atua em São Paulo, Rio de Janeiro, Tocantins, Maranhão, Goiás, Pernambuco, Bahia e Distrito Federal. O negócio conta com 28 funcionários, além dos parceiros que executam as operações fora de SP. 

“Nosso objetivo é mudar o mundo. Queremos oferecer ao mercado soluções inteligentes e eficientes de logística reversa, respeitando os trabalhadores envolvidos na cadeia e viabilizando um processo por meio do qual a indústria possa cumprir seu papel na responsabilidade compartilhada. Ou seja, atender e entregar valor de forma plena e verdadeira nos pilares ambiental, social e econômico”, completa Rodrigo. 

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 Ocupando as ruas 

Foi no dia 17 de junho de 2013, quando as ruas das principais capitais do país estavam tomadas por gente protestando contra o aumento das passagens de ônibus, que o artista plástico Roni Hirsch entendeu que os brasileiros precisavam de novas lideranças.  

Naquele dia, na maternidade, observando seu primeiro filho que havia acabado de nascer, Roni começou a pensar em como poderia ajudar a formar essas novas lideranças. Artista plástico, com grande interesse por arte política e social e vasta experiência trabalhando com o terceiro setor, Hirsch pensou que essa formação deveria começar desde cedo e a partir da experiência coletiva, da “experiência de cidade”. 

“E aí me veio uma luz, assim, que talvez playgrounds e espaços de brincar pudessem aglutinar todas essas pautas”, lembra Roni. “Porque esses lugares trazem a questão do impacto social, um trabalho artístico e criativo, trabalho coletivo, cenografia, instalações urbanas... E é um projeto que poderia ser escalado pra se tornar uma solução continental”, resume. 

Amiga de longa data de Roni, a designer Helo Paoli comprou a ideia na hora e, juntos, eles criaram o ERÊ Lab, uma empresa de mobiliário urbano lúdico com design autoral.  

“A gente cria espaços de brincar para a infância, para a convivência das crianças e das famílias nas cidades. E o que está intrínseco no ERÊ Lab é esse olhar para a primeira infância, voltado para as políticas públicas e para a sociedade”, explica Helo. 

Hoje com 10 anos de existência, o ERÊ Lab já entregou mais de 200 projetos em 19 estados brasileiros, conseguindo impactar cerca de 50 mil crianças. Ao todo são 55 funcionários na fábrica, em São Paulo. 

“Uma das coisas que a gente escolheu fazer e que dificulta o processo industrial, apesar de somar, é a quantidade de matérias primas que a gente trabalha. Pelo lado pedagógico do nosso projeto, nossos materiais são diversos. A gente mistura muita coisa: madeira, aço, cordas, e a gente não trabalha com plástico”, explica Roni. 

A empresa vende ou aluga tanto os mobiliários avulsos quanto projetos de playgroud completos para escolas particulares, shoppings, condomínios e até clínicas pediátricas. Em outra frente, Roni e Helo conseguem levar os espaços de brincar a crianças de periferia. 

Um dos cases de sucesso foi em 2019, quando o ERÊ Lab entregou um playground para a comunidade de Paraisópolis, uma das maiores favelas da capital paulista. A ação foi possível por meio do Coop-erê, um modelo em que os empreendedores se associam a financiadores interessados em apoiar a infância no Brasil. No caso de Paraisópolis, a parceria foi com a Prefeitura de São Paulo e a TV Globo. 

Em 2021, o Coop-erê viabilizou a entrega de um espaço na comunidade de pescadores Ilha de Deus, no Recife, conhecida pelos altos índices de violência. No ano seguinte mais três projetos foram entregues nas periferias de Porto Alegre e São Paulo. De lá pra cá, foram mais de 10 entregas por meio do Coop-erê e cerca de 560 mil pessoas impactadas. 

Olhando em perspectiva para tudo o que conquistou até aqui, Roni lembra das dificuldades para se estabelecer lá no começo. Por ser um negócio que visa o lucro, nunca foi possível conseguir apoio do terceiro setor e também era difícil ser visto pelos governos. Então os primeiros clientes foram empresas privadas que tinham interesse em instalar os parquinhos dentro de seus espaços, o que não era exatamente a pegada do negócio, já que um dos principais objetivos dos sócios sempre foi atender as periferias. Hoje isso está sendo possível graças ao Coop-erê. 

Apesar de todas as dificuldades, os sócios lembram da trajetória da empresa com muito orgulho. Hoje crescem de 15 a 20% ao ano e agora estão focados em começar a exportar o mobiliário para países do Mercosul e da África. 

“O que motiva a gente é ser uma empresa líder de mercado em termos de inovação e referência. O ERÊ Lab não é só uma indústria de equipamentos, é um lugar de pesquisa. A gente se inspira na cultura brasileira, nos biomas, nos bichos, na nossa fauna e na nossa flora para criar o mobiliário. Então esse olhar nos inspira a seguir”, comenta Roni. “O que nos faz seguir é ver que o nosso projeto lá de trás, 10 anos depois, tá dando certo, super funciona e existe uma relevância na nossa entrega. A gente tá a um passo de chegar aonde a gente gostaria mesmo, que são os espaços públicos em escala”, completa. 

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