Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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A descoberta de que a rede Pão de Açúcar estava de namoro com o Carrefour irritou o marido traído, o Casino

 

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No domingo 22, o semanário “Journal du Dimanche”, da França, publicou uma notícia surpreendente, que produziu ruídos dos dois lados do Atlântico: há cerca de um mês, o Carrefour e o empresário Abilio Diniz teriam iniciado uma aproximação que poderia resultar na venda da operação brasileira da rede de supermercados francesa  para o grupo Pão de Açúcar. Entre os pegos de surpresa pela informação estava Jean-Charles Naouri, CEO e principal acionista do varejista Casino, a segunda maior rede de super e hipermercados da França e concorrente ferrenho do Carrefour, líder europeu do setor. 
 
A surpresa de Naouri se justifica. Desde 2005, sua empresa é sócia de Diniz no Pão de Açúcar. Seria de bom tom – ou pelo menos era de se esperar – que o parceiro brasileiro o informasse da aproximação. Naouri, no entanto, soube das conversas entre ambos pelos jornais. E não gostou nem um pouco do que leu. Na segunda-feira 23, despachou uma carta endereçada ao executivo Lars Olofsson, CEO do Carrefour, e outra para o sócio brasileiro.  Elegante no tom e duro no conteúdo, Naouri lembrou aos dois destinatários que nada se vende e nada se compra no Brasil sem que ele dê a última palavra. 
 
O que se seguiu ao episódio foi uma sucessão de informações desencontradas. O “Le Figaro”, diário  de maior circulação na França, reproduziu a informação do “Journal du Dimanche”, acrescentando que Diniz e Olofsson haviam conversado. Na terça-feira 24, Olofsson não confirmou, mas também não negou a informação. Apenas mandou a diretora de comunicação do Carrefour Group, Florence Baranes Cohen, dizer à DINHEIRO que não faria qualquer comentário sobre o tema. 
 
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No dia seguinte, foi a vez de Diniz enviar uma carta à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), negando as negociações. “Face às reportagens publicadas nas mídias brasileira e francesa acerca de negociações com o Carrefour, a Companhia Brasileira de Distribuição vem a público comunicar que não é parte em qualquer negociação com o Carrefour e não contratou qualquer assessor financeiro com esse fim”, dizia o comunicado enviado à CVM. “O acionista Abilio Diniz informou que está sempre em busca de alternativas para o crescimento da companhia e que não há nenhum fato ou ato que justificasse uma divulgação ao mercado”. 
 
Desmentidos à parte, o certo é que, conforme apurou a DINHEIRO junto a fontes familiarizadas com o assunto, as negociações existiram, sim.  Inicialmente, as conversas ocorreram em Paris, sem a presença de Diniz.  Na verdade, tratou-se do que se poderia definir como uma operação defensiva do empresário brasileiro, diante de informações de que o Carrefour estaria sendo novamente assediado pela rede americana Walmart, a número 1 do setor no mundo, e teria retomado as discussões sobre a venda de seus negócios no Brasil, interrompidas no final de 2009. 
 
“Caso esse negócio se concretizasse, a vida do Pão de Açúcar ficaria muito complicada no País”, diz a fonte. “Seria mortal deixar a concorrência ganhar tanta musculatura.” Segundo ela, com o alarido provocado pelo vazamento das tratativas, os dois lados recuaram, pelo menos temporariamente. “É uma briga de cachorro grande”, afirma a fonte. Explica-se por que o Carrefour brasileiro é tão cobiçado. No Brasil desde 1975, a rede conta hoje com 644 pontos de vendas no País, com as marcas Carrefour, Atacadão e Dia%. Segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), o grupo ocupa a segunda colocação no ranking do setor, com receitas de R$ 29 bilhões, no ano passado. 
 
O Walmart aportou por aqui 30 anos depois e já é a terceira maior rede, com faturamento de R$ 22,3 bilhões. Com 479 lojas espalhadas por oito Estados, o Walmart há muito lançou mão da política de aquisições para ganhar terreno. Recursos, por sinal, não faltam:  a gigante de Bentonville faturou US$ 405 bilhões no ano passado. Hoje, o Walmart administra nada menos que nove marcas no mercado nacional. Comprar a operação brasileira do Carrefour seria o caminho mais curto para o Walmart ultrapassar o líder Pão de Açúcar. Considerando-se os números de 2010, a união entre franceses e americanos resultaria numa companhia com receita de R$ 51,3 bilhões. 
 
O Pão de Açúcar – que tem 615 lojas, em 19 Estados, vendeu R$ 36,1 bilhões,  em 2010. Diante de tal quadro, não é de se estranhar que Diniz tenha apertado o passo e também se apresentado  como candidato à compra do Carrefour Brasil. No varejo brasileiro, a notícia de uma possível aproximação entre Pão de Açúcar e Carrefour  gerou uma série de especulações. Da indústria ao comércio, não faltou quem evocasse a concentração que tal união provocaria no varejo, especialmente de eletroeletrônicos no Brasil – a empresa resultante da fusão deteria algo ao redor de 30% do mercado nacional. “Acho pouco provável que uma fusão desse tipo seja aprovada pelo Cade”, afirmou o executivo de uma rede de supermercados com sede em São Paulo, em referência ao órgão que regula a concorrência no Brasil. 
 
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Ao longo da semana, porém, as informações começaram a ser digeridas. Uma das leituras do episódio, além da intenção do Pão de Açúcar de reforçar-se e barrar um eventual inchaço do Walmart,  aponta para o ano de 2012. Nessa data, segundo contrato firmado em maio de 2005, quando o Casino adicionou, por US$ 900 milhões, 36% das ações do Grupo Pão de Açúcar ao lote de 24% que já detinha, os franceses passariam a ter uma ação a mais do que Diniz na holding que controla a operação brasileira, aumentando seu poder de veto e de decisão. Acostumado a dar a última palavra, Diniz não estaria exatamente confortável com a perspectiva de diminuição de seu papel. 
 
“Arriscaria a dizer que o Abílio está buscando alternativas para quando deixar de reinar no império que construiu”, diz um empresário que conhece bem o sócio do Casino. “Comprar a operação brasileira do Carrefour faz todo o sentido, mas não da forma como se iniciou a conversa”, afirma um empresário francês, com negócios no Brasil. “Informar o Casino era o mínimo que os brasileiros poderiam ter feito.” Para outro conhecido de Diniz, esse tipo de explicação não faz sentido. “Pelo acordo de acionistas, ele será o responsável pelos negócios aqui, enquanto estiver saudável física e mentalmente”, diz esse amigo. 
 
Há tempos que circulam rumores sobre a venda dos ativos franceses no Brasil. O empresário Bernard Arnault, o homem mais rico da França, e o fundo de investimentos Colony Capital, são hoje os principais acionistas do Carrefour. Desde que compraram ações da varejista, elas não param de cair. Em 2007, valiam € 52. Na quarta-feira 25, € 30. A fim de recuperar o dinheiro perdido, há dois anos, ambos deram sinal verde para que o Carrefour se desfizesse de suas operações em países emergentes, como China e Brasil – no final do ano passado, inclusive, a subsidiária da Tailândia foi vendida para o Casino, que hoje posa de marido traído na história. Como se viu pela novela da semana passada, interessados não faltam. 

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