José Alencar Gomes da Silva entrou para a história política do Brasil como aquele que deveria calar, mas preferiu falar, e, na maioria das vezes, para apontar os erros do Palácio do Planalto.
Crítico número 1 da política de juros altos do governo, o vice-presidente foi o fator de equilíbrio de uma gestão que conseguiu agradar tanto ao setor financeiro quanto às camadas mais pobres.
"Se eu tivesse conhecido o Zé Alencar antes, não teria perdido tantas eleições"
Lula, sobre a importância de seu vice
Alencar assumiu a Presidência durante 477 dias, o bastante para se tornar o vice que mais governou o País – durante um sexto do mandato de Lula –, mas as maiores contribuições do empresário ao governo passaram longe da assinatura de decretos durante viagens presidenciais.
Fundador em 1967 da Coteminas, hoje uma das maiores empresas do setor têxtil do País, com unidades no Brasil e no Exterior, Alencar também havia sido presidente da Federação de Indústrias de Minas Gerais e vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria.
Foi essa conexão com o setor produtivo que ele levou para perto de Lula. “Não conseguíamos enxergar que o Lula seria capaz de fazer um governo como esse que ele fez. Foi o Alencar que nos fez ver isso”, lembra Fuad Mattar, presidente da Paramount Têxteis.
O presidente assina embaixo. “Se eu tivesse conhecido o Zé Alencar antes, quem sabe não teria perdido tantas eleições”, disse Lula durante discurso de homenagem a Alencar, no fim de 2009.
O papel de avalista de Lula no setor produtivo – e de representante do setor no governo – ganhava força cada vez que o vice-presidente criticava a política econômica. Era uma espécie de “consciência” do presidente.
No fim de 2005, disse que o discurso de crescimento e desenvolvimento que ajudara a vencer a eleição em 2002 não fora posto em prática e criticou a política de austeridade realizada pelo então ministro da Fazenda António Palocci.
O vice ecoava a insatisfação dos empresários e cobrava crescimento para a economia. Em março de 2009, voltou a atacar: “A situação relativamente boa da economia brasileira é apesar da política econômica praticada, não é por causa dela.”
Também criticou a autonomia do Banco Central, qualificada por ele como “balela”, mas sempre manteve uma convivência amigável com o presidente do BC, Henrique Meirelles. O olhar crítico não perdeu a força nem durante o segundo mandato, quando o vice lutou contra um câncer no abdômen que lhe valeu internações e várias cirurgias.
No primeiro mandato, passou 15 meses à frente do Ministério da Defesa e pediu para sair quando a relação com o presidente ficou tensa. Não foi a primeira opção de Lula para vice na reeleição, e cogitou sair ele próprio candidato à Pre-sidência.
Mas a dupla foi reeditada e, de tão bem-sucedida, a relação se transformou em amizade. “Duvido que no mundo alguém tenha encontrado um vice-presidente da magnitude do companheiro José Alencar. Para mim é mais que um irmão, é um companheiro em quem eu tive a mais absoluta confiança”, disse.
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