Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

"Por que destruímos tantos ônibus, prejudicando o já tão maltratado povo? O que haverá por trás disso?" (Foto: Edison Temoteo / Futura Press)

“Por que destruímos tantos ônibus, prejudicando o já tão maltratado povo? O que haverá por trás disso?” (Foto: Edison Temoteo / Futura Press)

Artigo publicado em edição impressa de VEJA

NÃO PODEMOS SER UMA NAU SEM RUMO

Lya LuftUm amigo me telefonou para elogiar um artigo desta coluna porque era “um tom mais otimista do que o habitual”. Agradeci, mas na verdade esta não é uma coluna simpática, boazinha: é o meu depoimento sobre o que vejo e sinto no país ou nesta humanidade que somos.

Sou sujeita a erros, enganos, cegueiras momentâneas, porque afinal somos todos apenas humanos. Minha preocupação com o que acontece por aqui é intensa, e me esforço para que não sombreie minha vida e meu convívio com as pessoas.

Não sou pessimista: tento ser realista. E faço aqui, num jogo não muito bom de palavras, uma breve “lista” de acontecimentos e atitudes que me assustam.

Por toda parte pipocam manifestações, e não me digam que resultam da felicidade do povo com melhorias de vida, que agora quer mais benefícios… não é permitido neste momento grave tapar o sol com nenhuma peneira, nem mesmo dourada.

Descobrimos que podemos nos manifestar, e nos manifestamos, o que é ótimo, é democrático (nem sempre pacífico…).

Protestar é questão de respeito próprio. Muitos desses protestos terminam em violência, e não é meia dúzia de vândalos: boa parte deles participa desde o começo, abertamente mascarada e bem preparada para o que virá. Vidraças de lojas, bancos, invasão de hotel, farmácias, nada escapa à destruição.

Temos reais punições para isso? Ingenuidade, inocência ou desviar os olhos neste momento é ruim. Os protestos se multiplicam, junto com tantas greves, que parece que tudo vai parar.

Diálogos não funcionam, exigências são incorretas ou excessivas, autoridades ignoradas ou atônitas, ordens judiciais descumpridas.

A democracia, nosso fundamento, é difícil. Vivemos num estado de anarquia, pronunciou-se uma desembargadora.

E queimam-se ônibus a torto e a direito: porque falta luz, água; porque as inundações são rotina e novamente perdemos tudo; porque esperamos horas com filho febril no colo e não somos atendidos; porque a condução é péssima; porque alguém foi morto; porque alguém foi preso; ou simplesmente porque perdemos a paciência.

Fica a indagação: por que destruímos tantos ônibus, prejudicando o já tão maltratado povo? O que haverá por trás disso?

Um bando de torcedores de um clube de futebol invade a sede, os jogadores conseguem se esconder, um deles quase é surrado mas ainda escapa para junto dos colegas. Os bandidos, pois são bandidos, rendem um funcionário, quebram, roubam. Reação do clube?

Apenas, que eu visse, no primeiro momento, o treinador explicando: “Os jogadores se esforçaram muito…” Claro que no jogo seguinte o time perdeu. Imagine-se a condição psicológica dos atletas, que até em casa recebem telefonemas ameaçadores.

Se não tomarmos cuidado, se não houver punição rápida, e concreta, vira mais uma moda e perdeu-se o sentido do esporte.

Destruir bens públicos ou privados ou machucar pessoas raramente dá punição: os criminosos são logo soltos, ou tratados como vítimas (menores quase são pegos no colo, e policiais crucificados).

Quadrilhas de bandidos comandam as cidades, a população está desamparada. Por que ninguém se interessa? Não! Porque as leis são anacrônicas ou descumpridas, na leniência geral, e a Justiça acaba favorecendo o criminoso.

Mensaleiros condenados, se presos, continuam em redes sociais, atuam, aparecem na mídia, quase heróis.

Na saúde, de situação surreal, trazer médicos estrangeiros é ficção: o que falta são condições mínimas para um médico sério trabalhar. Muitas vezes não há leito, água, uma aspirina para dar aos pacientes. Na economia, nem me atrevo a falar. Vejam os dados reais.

Na educação estamos entre os piores do mundo: creio obstinadamente que investir em educação (que é sempre a médio prazo) é essencial para sair desse atoleiro.

Mas precisamos melhorar logo, sem comissões inúteis, sem projetos impossíveis — a fim de que o país não lembre uma grande estrutura desconjuntada, com passageiros inertes ou alegrinhos, apavorados, aproveitadores ou descrentes, numa nau sem rumo sobre um mar de naufrágio.

http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/

Exibições: 98

Comentar

Você precisa ser um membro de Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI para adicionar comentários!

Entrar em Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Comentário de enio candido em 20 fevereiro 2014 às 10:41

quer protestar?

nas proximas eleiçoes vote com consciência tire todos os crapulas que estao no poder , e não coloque os aceclas dos mesmos.

Comentário de Romildo de Paula Leite em 18 fevereiro 2014 às 14:09

Na educação estamos entre os piores do mundo: creio obstinadamente que investir em educação (que é sempre a médio prazo) é essencial para sair desse atoleiro.

Comentário de Romildo de Paula Leite em 17 fevereiro 2014 às 11:15

Mensaleiros condenados, se presos, continuam em redes sociais, atuam, aparecem na mídia, quase heróis.

© 2024   Criado por Textile Industry.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço