Maria Antonieta: provocações e a morte na guilhotina
Com o passar dos anos, as extravagâncias de Maria Antonieta e os boatos criados pelos inimigos políticos de Luis 16 e do regime criaram uma imagem antipática da rainha junto à população. Ela passou a ser denominada pejorativamente como "a austríaca" ou "Madame Déficit" - este último em alusão a sua gastança que teria contribuído para a ruína econômica do país, o que não é verdade, já que o principal motivo da crise econômica francesa no fim do século 18 era a inaptidão do rei e seus ministros em conduzir a economia nacional. A vilanificação de Maria Antonieta, no entanto, era de interesse dos inimigos do regime e até mesmo um suposto caso dela com um cardeal foi inventado para aumentar a antipatia popular pela monarca.
![Vila próxima a Versalhes construída para a rainha Maria Antonieta encenar seus papéis teatrais como camponesa](http://static.hsw.com.br/gif/maria-antonieta-3.jpg) © iStockphoto.com /Alice_yeo Vila próxima a Versalhes construída para a rainha Maria Antonieta, que ali levava uma vida fictícia como camponesa
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Os seguidos escândalos desacreditaram o já frágil governo de Luis 16 e até mesmo a nobreza e a burguesia começaram a opor-se a ele vigorosamente, exigindo reformas financeiras. Foi durante essas crises que Maria Antonieta mostrou ser bem mais corajosa e decidida do que o rei. Nos meses que se seguiram ao início da
Revolução Francesa, foi ela quem resistiu à restrição das prerrogativas reais exigidas pelos revolucionários. Ela também negociou secretamente com os membros mais proeminentes da Assembléia Nacional a restauração dos poderes da monarquia. No entanto, seus apelos para que o irmão, o imperador austríaco Leopoldo 2.°, do Sacro Império Romano-Germânico, conduzisse um movimento contrarrevolucionário e a guerra entre a França e a Áustria a partir de 1792 minaram suas pretensões e aumentaram a fúria popular contra ela, que foi considerada uma traidora.
Essas intervenções políticas de Maria Antonieta foram, no entanto, esporádicas já que suas preocupações principais voltavam-se para seus divertimentos. A reclusão da vida na corte e uma mistura de alienação, ingenuidade e teimosia, tanto dela como do rei, contribuíram decisivamente para eles não perceberem que a vontade dos súditos, influenciados pelas ideias do
Iluminismo, era a de não aceitar mais o argumento do poder e direito divino dos reis. Os episódios em que Maria Antonieta envolveu-se politicamente defendendo a todo custo a monarquia serviram para aumentar o ódio popular contra ela, que passou a ser o melhor símbolo que os revolucionários puderam usar para mostrar a degradação que o regime monárquico representava.
Em 10 de agosto de 1792, pouco mais de um ano após uma fracassada tentativa de fuga de Maria Antonieta e Luis 16 para fora da França, uma insurreição popular derrubou a monarquia francesa. Luis 16 foi executado na guilhotina por ordem da Convenção Nacional em janeiro de 1793. Quando foi levada a julgamento, após passar mais de um ano na prisão, em 14 de outubro de 1793, Maria Antonieta não lembrava em nada a rainha exuberante e provocativa que havia sido. Ela estava extremamente magra, pálida e com a aparência de uma sexagenária, apesar de ter somente 38 anos de idade. Seu julgamento durou dois dias e as testemunhas narraram orgias comandadas pela rainha, uma suposta relação incestuosa com o filho e um caso homossexual dela com a condessa de Polignac, entre outras histórias. Considerada culpada em todas as acusações, ela foi levada a Praça da Concórdia, em Paris, em 16 de outubro de 1793, onde um público exultante a viu ser executada na guilhotina. Para este evento final, ela vestiu-se intencionalmente de branco para simbolizar sua lealdade à monarquia.
Casos e brioches
As pesquisas feitas pelas historiadoras Antonia Fraser e Evelyne Lever mostraram que muitos dos escândalos e absurdos atribuídos a Maria Antonieta não passaram de propaganda revolucionária e distorções de fatos bem menos escandalosos. Um deles é a atribuição a ela da famosa e debochada frase "Que comam brioches", que a rainha teria dito ao ser acossada por uma multidão faminta que protestava contra a falta de alimentos e a má qualidade do pão. No entanto, essa mesma frase já havia sido atribuída a outras monarcas e nobres europeias antes mesmo de Maria Antonieta ter nascido. Seus casos extraconjugais e as acusações de lesbianismo e incesto também mostraram-se mais folclóricos do que reais. A única situação que pode ter se aproximado de um "caso" foi o relacionamento que ela teria mantido com o conde sueco Fersen. Ainda assim, ele foi tão discreto para os padrões da corte francesa da época que é difícil afirmar se ele culminou em um envolvimento sexual. Assim, as cenas de amor entre a rainha e o conde sueco, que são mostradas no filme "Maria Antonieta" (2006), de Sofia Coppola, não teriam chegado a acontecer de fato, segundo a historiadora francesa Simone Bertière, autora do livro "Maria Antonieta, a insubmissa".
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