Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Mas por que os petistas fazem jogo tão bruto e são tão truculentos se têm tanta certeza de que Dilma vence com facilidade a eleição no ano que vem?

A sempre atilada colunista Dora Kramer — gosto de lê-la mesmo quando discordo — escreveu nesta quinta um artigo no Estadão que me levou a fazer cá algumas considerações. Dora pergunta por que os petistas, que têm tanta certeza da vitória e que consideram o governo Dilma exitoso a mais não poder e desprezíveis os adversários, se dedicam ao jogo bruto para aprovar uma lei que inibe a criação de novos partidos e vivem em permanente campanha. Dora parece flertar com uma resposta que é, sem dúvida, coerente e lógica, embora eu discorde dela. Direi por quê. Reproduzo em azul trecho de sua coluna. Volto em seguida.
*
Se o governo é tão popular, tão forte política e eleitoralmente falando, tão bom, eficiente e detentor do monopólio da justiça social; se a presidente Dilma Rousseff está com a reeleição garantida, se os pretendentes à Presidência estão, em verdade, jogando para 2018 como se diz por aí, por que cargas d’água emprega toda sua energia, canaliza todos os seus esforços, ocupa todo o seu tempo com artimanhas eleitorais?
O governo não precisaria cometer a irresponsabilidade de abusar de suas prerrogativas para ficar em campanha diuturnamente, muito menos teria para isso necessidade de flertar com o crime de responsabilidade ao apropriar-se indevidamente da máquina pertencente ao público.
(…)
Tampouco haveria motivo para o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, lançar mão de cinismo em estado sólido dizendo não enxergar oportunismo no projeto que nega a novos partidos as benesses concedidas pela Justiça ao PSD, depois entronizado no altar do governismo.
(…)
Isso a despeito das digitais e do registro da voz da ministra da Articulação Política, Ideli Salvatti, ao telefone orientando as bancadas para a votação. Mas, se havia alguma dúvida, o fechamento de questão do PT em torno do tema a ser agora examinado pelo Senado cuidou de dissipá-la.
(…)
Tudo isso para criar obstáculos a possíveis oponentes oficialmente tratados com menosprezo. Por essa visão, Marina Silva é frágil, Eduardo Campos não vai adiante com seus planos e Aécio Neves padecerá dos males da divisão do PSDB.
O que leva tão poderosos chefões a usar tiros de canhão para matar mosquitos? Difícil saber, mas vai ver não os consideram tão inofensivos assim, ou talvez seja um caso de ambição desmedida pelo poder eterno.
(…)

Voltei
A truculência no trato com os adversários — e até com os aliados — leva a gente a pensar que o Planalto talvez guarde números que não temos. Terá detectado risco de corrosão da popularidade de Dilma? Teme que essa inflação acima da meta desgaste a presidente? Tem receio de que alguma onda de opinião antigovernista acabe varrendo o país?

Pois é… Eu endosso o espanto de Dora Kramer, mas minha hipótese é outra. Eu realmente acredito que os petistas acreditam que o governo é do balacobaco. Eu realmente acredito que os petistas acreditam que Dilma dará um passeio em 2014. Eu realmente acredito que os petistas acreditam que seus adversários são desprezíveis, são “mosquitos”, para citar a imagem empregada pela colunista.

Mais ainda: o governo tem pela frente um estoque de bondades. Mal começaram as inaugurações para a Copa do Mundo de 2014, que vai manter Dilma na cabeça do noticiário. A equação econômica é perversa no médio prazo, mas não desanda de maneira significativa até 2014. Dilma mantém uma popularidade enorme com 0,9% de crescimento. Se a economia de expandir 2,5% ou 3% neste ano, melhor… Não acho, como querem os petistas, que os adversários do partido sejam mosquitos, mas é fato que, até agora (e falarei a respeito do programa de Eduardo Campos na TV), eles não descobriram um eixo, uma agenda. São, de fato, fracos para enfrentar a máquina de propaganda federal.

Assim, num primeiro momento, é de espantar que o Planalto meta as suas digitais no que pode ser considerado, sem nenhum exagero, jogo sujo pré-eleitoral. O governo passou a patrocinar a lei que teve tramitação suspensa pelo Supremo. Rui Falcão, presidente do PT, fechou questão no Senado. Por quê?

A minha resposta
Eles mais são autoritários do que têm medo de perder a eleição em 2014. Estão certos de que vencem. Sem Marina Silva e Eduardo Campos, claro!, aumentam as chances de vitória no primeiro turno. Mas os petistas também sabem que, numa eventual segunda rodada, boa parte dos “marineiros” migra para o PT. Caso Campos vá para a disputa e não chegue ao segundo turno, seu caminho natural, é bom ficar claro, é o apoio a Dilma.

Os petistas, de fato, acham impossível perder a eleição em 2014. E, se querem saber, o cenário lhes é realmente muito favorável. Já expus aqui os motivos por que acho isso. O principal: o Brasil é a única democracia do mundo que não tem uma alternativa conservadora viável de poder. “Progressista” por “progressista”, leva quem tem a maior máquina. Enquanto as oposições ao PT forem, na verdade, alas do próprio petismo — ligeiramente mais à direita —, é difícil haver qualquer mudança no statu quo. Ou, então, que algum estudioso tente provar que o Brasil inventou uma jabuticaba da política e criou uma democracia sem contraditório na esfera dos valores. NOTA – Os partidos que, em tese, professam valores mais à direita foram comprados pelo petismo. A exceção é o DEM — e a outra não-exceção é o DEM que virou PSD… Mas saio do atalho (é que acho esse aspecto da política brasileira verdadeiramente fascinante).

Na verdade…
Na verdade, minha cara Dora, o petismo não precisaria dessa truculência toda para vencer as eleições se estivesse conformado com a democracia. E aqui vai o núcleo duro da minha resposta. Mas não está! Socialista, obviamente, à maneira do socialismo do século passado ou do século 21 (de Chávez), o partido não é. Lula vive desfilando para cima e para baixo com potentados da indústria e dos bancos. Mobilizou o BNDES para ser a vaca leiteira de alguns “ganhadores”, o que lhe rende e ao partido gratidões (assim mesmo, no plural…). Quando o petismo veio ao mundo, o socialismo ele-mesmo já estava morto; só faltava enterrar. E foi enterrado. Esquerdistas de verdade só restaram no Complexo Pucusp — a China anda pensando em importar a Marilena Chaui e o Emir Sader para expô-los num museu; assim, os chineses da nova geração saberiam a cara que tinham esquerdistas “autênticos”…

Também o socialismo do PT, aquele à moda antiga, está morto. Mas o autoritarismo está mais vivo do que nunca. COMO DESAPARECERAM OS SEUS PREDADORES NATURAIS DA POLÍTICA (para falar, assim, uma linguagem mais naturalista) e até Paulo Maluf canta “Lula-lá”, então o partido avança quase sem resistência. Ora, é só no projeto que tenta impedir a formação de novos partidos que se revela a vocação autoritária? De jeito nenhum! Qual era — e é ainda — um dos pilares da reforma política pretendida pelo PT? O financiamento público de campanha. Que partido seria o principal beneficiário dessa medida se adotada fosse? Proibir o financiamento privado — e legal! — de campanhas eleitorais corresponderia a impedir que partidos malsucedidos em pleitos anteriores tentassem vencer as dificuldades com campanhas melhores, mais estruturadas, o que requer, obviamente, recursos. A proposta do petismo é transformar a vantagem que tem hoje (o partido repudiaria esse modelo quando tinha oito deputados) num fator inercial da política, que reproduziria eternamente a sua vantagem. Entendam: isso é uma tentativa clara de agredir a possibilidade de haver alternância no poder. Mais: o financiamento privado seria vetado às demais legendas, mas não ao próprio PT, que continuaria a utilizar livremente os recursos estimáveis em dinheiro de sindicatos, ONGs, movimentos sociais etc.

É bom ter isto muito claro: os petistas não desistiram de agredir a democracia. Ninguém precisa socializar os meios de produção para ser autoritário. Mudou o conteúdo, a agenda, das esquerdas. “E por que chamar isso de esquerda, então, Reinaldo? Por fetiche?” Não! Porque, efetivamente, essa gente é herdeira do pensamento que se queria a vanguarda da humanidade e a expressão dos reais interesses dos ditos “oprimidos”. Porque essa gente é a herdeira do pensamento que não vê mal nenhum em fraudar o estado de direito para produzir o que considera ser a “justiça social”. É irrelevante saber se, no comando dessa suposta vanguarda, estão assassinos (como no passado) ou  ladrões. O que interessa é saber os sentimentos que mobilizam na sociedade.

Esses novos esquerdistas têm em comum com os velhos o ódio à democracia, ainda que aqueles buscassem falar ao “proletariado”, e estes,  aos ditos movimentos sociais e minorias. O desprezo pelas liberdades individuais e a tentativa de submeter a sociedade a um ente de razão permanecem.

De resto, o PT não está sozinho no continente, não é? A PEC bolivariana que tenta submeter decisões do Supremo ao Legislativo e ao crivo publicitário já tem história na América Latina. E vai no mesmo fluxo do partido que pretende sufocar a formação de novas legendas, impedir os adversários de conseguir recursos para fazer campanha e, não custa lembrar, censurar a imprensa. Isso não é uma invenção de paranoicos. Está devidamente registrado na mais recente resolução do Diretório Nacional do partido. A proposta que o PT citou como norte da “regulamentação da mídia” prevê controle de conteúdo. Entrevista recente de José Genoino não deixa a menor dúvida a respeito — o mesmo Genoino, condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha que votou na CCJ a favor do controle também do STF!

Assim, minha cara Dora, eu realmente acredito que os petistas acham que vai ser fácil ganhar a eleição. Seus arreganhos autoritários derivam do fato de que eles seguem odiando a democracia, a exemplo dos pterodáctilos do leninismo, seus ancestrais.

 

Por Reinaldo Azevedo

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Comentário de Romildo de Paula Leite em 27 abril 2013 às 7:52

Lula vive desfilando para cima e para baixo com potentados da indústria e dos bancos. Mobilizou o BNDES para ser a vaca leiteira de alguns “ganhadores”, o que lhe rende e ao partido gratidões (assim mesmo, no plural…). Quando o petismo veio ao mundo, o socialismo ele-mesmo já estava morto; só faltava enterrar.

Comentário de SERGIO COELHO BASTOS em 26 abril 2013 às 19:44

PREZADO REINALDO,

PERFEITO O SEU TEXTO, COMO SEMPRE E MUITO CLARA A SUA ANÁLISE.  A QUESTÃO É A SEGUINTE.

QUANTOS BRASILEIROS TERÃO ACESSO A UM TEXTO COMO ESSES E PERGUNTO TAMBEM, QUANTOS BRASILEIROS ELEITORES TEM CONHECIMENTO E CAPACIDADE DE ANALISE PARA INTERPRETA-LO

VEJO A NOSSA FRENTE UMA GRANDE VENEZUEKA PINTADA DE VERDE / AMARELO E DO ALTO DO ESTANDARTE OS GENUINOS E OS DIECEUS E OS RUI FALCÃO DA VIDA, DANDO GRANDES GARGALHADAS....TIRANDO UM SARRO DE QUEM LÊ E COMPREENDE UM TEXTO DESSES.

 

 

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