Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Menos transparência na área fiscal

Fonte: Valor Econômico

Na  semana passada, o Tribunal de Contas da União (TCU) decidiu que o  governo está obrigado a compensar, por meio do aumento de receita, as  desonerações tributárias que vier a fazer. Até agora, a compensação era  feita com um alegado "excesso de arrecadação" e com ajustes na  programação orçamentária e financeira do ano. O TCU concluiu que o  artigo 14 da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) não permite esses dois  mecanismos.

Por causa da decisão do TCU, o ministro da Fazenda,  Guido Mantega, pediu, nessa terça-feira, que o Congresso Nacional  incluísse na lei orçamentária de 2013 uma estimativa de perda de receita  de R$ 9,796 bilhões por causa da redução de alíquotas do PIS/Cofins,  que será feita no próximo ano e beneficiará setores a serem definidos.  Isso significa que a previsão da arrecadação desses dois tributos em  2013 será reduzida em R$ 9,796 bilhões.

Mantega solicitou também  que fosse incluída na lei orçamentária uma perda adicional de receita de  R$ 800 milhões da Previdência Social, por conta da ampliação da  desoneração da folha de salários. Na proposta orçamentária, enviada pelo  governo em agosto, havia apenas uma previsão do impacto da desoneração  da folha de salário, no valor de R$ 15,2 bilhões. Com os R$ 800 milhões,  esse valor subirá para R$ 16 bilhões, que, somados aos R$ 9,796 bilhões  do PIS/Cofins, totaliza uma renúncia de receita de R$ 25,796 bilhões  com as desonerações em 2013.

Desonerações tornam mais difícil avaliar receitas

Para  compensar essa perda, o governo elevou em R$ 6 bilhões sua estimativa  para a receita com dividendos das empresas estatais no próximo ano e em  R$ 4,596 bilhões a previsão para a receita de concessões e permissões de  serviços públicos. Ou seja, para compensar a perda da arrecadação de  três contribuições (PIS, Cofins e contribuição patronal ao INSS), ele  aumentou duas receitas não tributárias, que podem ou não ocorrer.

Há  várias questões a serem discutidas na compensação da desoneração  tributária com o aumento da receita. A primeira delas é saber como foi  estimada a renúncia da receita, se foi usado um modelo que considera o  efeito positivo da diminuição dos tributos. É de fácil compreensão que  muitas vezes uma queda da carga tributária aumenta as vendas do setor  beneficiado e, com isso, a arrecadação sobe.

O cálculo da renúncia  não é trivial, pois não é possível prever quantos contribuintes dos  tributos deixarão o setor beneficiado com a desoneração durante o prazo  de vigência da medida e quantos ingressarão. Além disso, o peso dos  tributos é suportado mais por uns do que por outros, dentro do mesmo  setor.

O nível da arrecadação de cada ano está muito mais  relacionado com o ritmo da atividade econômica do que a qualquer outra  coisa. Se a economia está desacelerando, nada garante que a receita de  um determinado tributo continuará em expansão, mesmo que não ocorra  desoneração. Portanto, é necessário, antes de mais nada, saber com qual  previsão de crescimento da economia foi feita a projeção da perda com a  desoneração.

A previsão de perda de receita com a desoneração é,  portanto, difícil ou quase impossível de ser verificada. Ela não é um  dado empírico. Em 2012, o governo diz que realizou desonerações  tributárias no montante de R$ 43,4 bilhões. Esse dado consta de várias  apresentações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, a empresários  brasileiros e estrangeiros. Não está claro como o governo chegou a esse  valor e se elas foram feitas quando o governo trabalhava com uma  perspectiva de crescimento da economia de 4,5% neste ano.

De  qualquer forma, é difícil acreditar que se as desonerações não tivessem  sido feitas, a receita tributária do governo federal neste ano teria  sido maior em R$ 43,4 bilhões. A arrecadação de tributos neste ano não  foi bem, mas o fraco desempenho está muito mais relacionado com a  desaceleração da economia e com a redução da lucratividade das empresas  do que com as desonerações feitas pelo governo federal.

O governo  estimou que a receita da Previdência Social será de R$ 314 bilhões em  2013, considerando as regras anteriores à desoneração da folha de  salários. Se a arrecadação ficar abaixo desse valor, o Tesouro cobrirá a  diferença, até o limite de R$ 16 bilhões, pois essa é a estimativa  oficial para o custo desta desoneração.

Mas não está claro, por  exemplo, o que acontecerá se a receita previdenciária superar os R$ 314  bilhões. Muitos poderão entender que não houve perda de receita com a  desoneração da folha. Mas é claro que essa avaliação não considera que o  crescimento da arrecadação previdenciária depende de outros fatores,  como o aumento da formalização da força de trabalho.

Na verdade,  não é possível prever com algum grau de precisão o impacto da troca da  contribuição patronal ao INSS pela contribuição sobre o faturamento, com  alíquotas de 1% ou 2%, dependendo do setor. Se o crescimento da  economia for muito forte, como espera o ministro Guido Mantega, o  faturamento das empresas beneficiadas com a desoneração aumentará muito,  o que reduzirá a perda da Previdência Social com a mudança.

Existe  outra dificuldade nessa discussão. O governo não é obrigado a prever  compensação na lei orçamentária para as desonerações dos chamados  impostos regulatórios, de acordo com a LRF. Nessa relação estão o  Imposto sobre Importação (II), o Imposto sobre Exportação (IE), o  Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e o Imposto sobre  Operações Financeiras (IOF). Por isso, políticas como a de redução do  IPI para automóveis ou produtos da linha branca não exigem compensação  de aumento de receitas. Assim, nem todos os impactos das desonerações  são identificáveis no Orçamento.

As desonerações tributárias, comcompensação exigida pelo TCU, tornam ainda menos transparentes as  estatísticas das receitas e despesas do Tesouro Nacional e mais difícil  de prever a execução orçamentária e financeira do próximo ano.

 

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