Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Mudança de ventos

Por Talita Moreira e Aline Oyamada | De São Paulo

Foi preciso muita habilidade para navegar no mercado internacional em 2013, quando bancos e empresas tiveram de agir com rapidez para se adaptar a um novo cenário, bem mais desafiador. O ano começou com águas calmas, mas a tempestade se armou no fim de maio, diante dos primeiros sinais de normalização monetária nos Estados Unidos.

Os novos ventos deixaram para trás os anos de dinheiro farto e barato. Os investidores ficaram mais seletivos e os custos de captação subiram, atingindo sobretudo operações de países emergentes. Saiu-se melhor quem recolheu as velas e soube esperar, mas o mau tempo fez estragos generalizados. O total de US$ 53,4 bilhões levantado no ano passado por companhias, instituições financeiras e governos ficou 20,7% abaixo do volume levantado em 2012, que foi recorde.

O impacto foi maior nas emissões de bônus, embora esse tipo de operação continue a dominar com folga as captações externas. As ofertas de títulos de dívida recuaram 23%, para US$ 39,2 bilhões. A queda teria sido ainda mais profunda se não fosse a megaoferta de US$ 11 bilhões da Petrobras - a maior colocação de bônus já feita por uma empresa de país emergente. A operação foi tão grande que teve papel decisivo na definição das primeiras colocações no "Ranking Valor de Captações Externas".

Elaborado pelo Valor Data, o ranking leva em conta captações externas de dívida por meio de emissões de bônus e de e empréstimos sindicalizados. Na edição atual, foram consideradas operações realizadas no ano passado. (Veja a metodologia em www.valor.com.br)

Mais da metade das emissões de bônus de 2013 foi feita nos cinco primeiros meses do ano, ainda em condições favoráveis, o que também ajudou a evitar que o tombo fosse maior.

Os empréstimos em moeda estrangeira tiveram trajetória diferente. As operações ganharam atratividade a partir da segunda metade de 2013, à medida que o mercado de capitais ficou mais caro e que os bancos europeus, saneados, voltaram a emprestar. Os US$ 14,2 bilhões captados nessa modalidade recuaram 13,4% frente ao ano anterior. No entanto, a participação dos empréstimos nas captações externas subiu de 24,4% para 26,6% do total.

"As mudanças no cenário externo levaram a um rebalanceamento das remunerações dos investidores, o que afetou o mercado de bônus e abriu espaço para os empréstimos sindicalizados", afirma Alexandre Guião, chefe da área de atacado do HSBC. Em 2013, o banco voltou ao topo do ranking, posição que havia perdido para o J.P. Morgan no ano anterior.

O novo cenário a que se refere Guião foi delineado no fim de maio. Ben Bernanke, então presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), afirmou que a economia dos estados Unidos começava a dar mostras de recuperação e, diante disso, já se poderia pensar na retirada dos estímulos monetários adotados após a crise. O mercado, que esperava um período mais longo de liquidez farta, foi surpreendido.

O resultado foi uma corrida dos investidores rumo à segurança representada pelos títulos do Tesouro americano. As taxas dos Treasuries, que estavam em níveis historicamente baixos, começaram a subir. Como esses papéis servem de parâmetro para as ofertas de bônus, as operações naturalmente ficaram mais caras.

O apetite por risco, que havia dado o tom nos três anos anteriores, se dissipou, com consequências negativas para ativos de países emergentes. Além da alta dos Treasuries, subiram os spreads cobrados pelos investidores.

Não que se esperasse uma eterna calmaria. "O mundo já estava imaginando mais ou menos que em algum momento isso ia acontecer", diz Cristina Schulman, chefe da área de mercado de capitais do Santander. Porém, as nuvens negras chegaram antes do previsto, deixando um rastro de volatilidade. O mercado para ofertas de bônus fechou e só começou a reabrir no fim de julho - ainda assim, de forma moderada.

Para tornar o cenário mais complexo, quando as condições externas melhoraram, o humor em relação ao Brasil havia se deteriorado. Os investidores endureceram as críticas à política econômica e o país passou a conviver com a ameaça de rebaixamento pelas agências de classificação de risco - concretizada nesta semana pela Standard & Poor's, que cortou de "BBB" para "BBB-" a nota brasileira.

"As condições pioraram, o Brasil deixou de ser o queridinho", afirma Felipe Wilberg, diretor de mercado de capitais responsável pela área de renda fixa e produtos estruturados do Itaú BBA. "O lado positivo é que as empresas brasileiras estavam capitalizadas, não precisavam ir a mercado a qualquer preço."

Nos anos anteriores, dezenas de companhias do país aproveitaram a maré favorável para captar recursos no exterior. Quando os preços mudaram de patamar, as empresas não tinham urgência em se financiar.

Com menos operações, o Brasil perdeu representatividade. O país, que historicamente costumava representar 45% das captações da América Latina, gerou um terço do volume em 2013.

Os custos mais altos afastaram do mercado externo empresas que planejavam emitir bônus pela primeira vez, movimento que vinha acontecendo nos anos anteriores. "Até o começo de 2013, as condições estavam ideais para novos emissores. Agora, tem liquidez e custo apenas para boas histórias", ressalta o diretor-executivo de dívida no mercado de capitais do J.P. Morgan na América Latina, Roberto D'Avola.

Mesmo com a alta nas taxas, algumas companhias - como os frigoríficos Marfrig e JBS - foram ao mercado para refinanciar passivos. A tendência é que surjam mais operações desse tipo conforme se aproximar o vencimento das emissões feitas por empresas brasileiras nos últimos anos.

"Os custos subiram, mas vale lembrar que o Brasil já pagou [cupom de] 14% por bônus com prazo de dez anos", diz Sandy Severino, diretor responsável pela área de captações externas do BTG Pactual.

O país atingiu esse patamar em 1999, quando enfrentava forte desconfiança dos investidores internacionais. Desde então, os custos despencaram. A alta de agora está longe de anular essa trajetória. Em março, na sua mais recente emissão de bônus, a Petrobras pagou cupom de 6,25% na tranche de dez anos.

"Os emissores vão se acostumar com o novo patamar de preços", diz Wilberg, do Itaú BBA. A tendência, portanto, é que as companhias voltem a aproveitar as janelas para captar no exterior.

Essas "janelas" - jargão usado para os intervalos adequados ao lançamento das operações - tendem a ser mais estreitas em 2014. A previsão dos banqueiros é que boa parte das emissões de bônus será feita até junho, antes da Copa e das eleições. Bancos e empresas terão de aproveitar os momentos mais favoráveis, já que os investidores continuam seletivos.

Não por acaso, os bancos têm dedicado mais tempo à fase preparatória das operações e reduzido o período em que uma oferta fica no mercado. A ideia é evitar que algum fator mude a disposição dos investidores e ponha tudo a perder. "Sempre que possível, o ideal tem sido lançar e fechar uma operação no mesmo dia", ressalta Pedro Bianchi, diretor da área de renda fixa do Bank of America Merrill Lynch (BofA).

Ter presença global, por um lado, e conhecer bem as empresas brasileiras, por outro, têm sido qualidades decisivas em um ambiente mais hostil. O ranking de 2013 mostra claramente isso. Três dos cinco primeiros colocados são bancos com atuação em todo o mundo: HSBC (1º), J.P. Morgan (2º) e BofA (4º).

Se olhadas apenas as emissões de bônus do setor privado, quem deu as cartas foram os bancos brasileiros e o Santander. O relacionamento comercial e o esforço para se aproximar dos investidores globais têm ajudado os maiores bancos do país a avançar nas captações externas.

"O mercado está mais volátil, com momentos de mau e bom humor. Tem que respeitar", diz Eduardo do Nascimento, gerente-executivo da diretoria de mercado de capitais e investimentos do Banco do Brasil.



© 2000 – 2014. Todos os direitos reservados ao Valor Econômico S.A. . Verifique nossos Termos de Uso em http://www.valor.com.br/termos-de-uso. Este material não pode ser publicado, reescrito, redistribuído ou transmitido por broadcast sem autorização do Valor Econômico.

Leia mais em:

http://www.valor.com.br/financas/3497576/mudanca-de-ventos#ixzz2xG1...

Exibições: 46

Comentar

Você precisa ser um membro de Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI para adicionar comentários!

Entrar em Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

© 2024   Criado por Textile Industry.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço