Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Mudar a perspectiva do “Made in Bangladesh

Mudar a perspectiva do “Made in Bangladesh”

De operária em Daca a presidente do Sindicato da Indústria Têxtil do Bangladesh. Lovely Yesmin conheceu por dentro a realidade dos trabalhadores, ouviu e denunciou abusos e luta agora, no mundo inteiro, por ver implementados no seu país, direitos laborais e de protecção social de quem fabrica “Made in Bagladesh”. Uma etiqueta que encontra em todos os países ocidentais que visita para conseguir apoio internacional e que desperta em si um duplo sentimento de orgulho e revolta.

Ana Geraldes
Jornalista

Lovely Yesmin, presidente do Sindicato da Indústria Têxtil do Bangladesh

Tem 38 anos, mas mesmo quando o assunto sério, Lovely Yesmin não consegue evitar uma expressão quase infantil. É uma mulher pequena, de grandes olhos negros, tez morena a contrastar com o traje tradicional, verde e vermelho. “As cores da bandeira do meu país”, justifica. Feito numa das muitas fábricas de um país que têm na industria têxtil a maior fonte de rendimento.

Lovely tinha 16 anos quando começou a fazer roupa. Como milhares de adolescentes do Bangladesh, raparigas e rapazes, sem condições de trabalho legalizadas. “É assim que funciona”, diz numa entrevista à SIC, durante os Dias Europeus do Desenvolvimento de Bruxelas, onde participa numa mesa redonda sobre discriminação laboral. Patrões que vão buscar mão-de-obra a bairros pobres das aldeias, salários regateados e que, no final do dia, em muitos casos, nem correspondem ao valor combinado, mulheres que trabalham mais horas e recebem menos que os homens.

Uma realidade que agitava a consciência de Lovely e de outras operárias que decidiram criar um sindicato e, mais tarde, uma organização para os direitos das mulheres, a PaWa (Partnership for Women in Action), plataforma da ONG One World Action.

Responsabilidade internacional

“Made in Bangladesh is good”, afirma determinada num inglês que foi aprendendo em campanhas pelos Estados Unidos, Canadá e Europa, além da Índia, Paquistão e Hong Kong. A activista, que diz que gostaria de continuar na fábrica, não fosse a necessidade de tentar mudar a vida de quem lá trabalha, atribui grande parte da culpa à ganância ocidental para conseguir preços muito baixos. Para Lovely Yesmin, os países importadores devem assumir responsabilidades e garantir o comércio justo.
“A roupa feita no Bangladesh tem qualidade”. É com orgulho, aliás, que se depara com a etiqueta pelo mundo inteiro. Um orgulho “triste” porque a produção desumana persiste.

Em quatro anos, a acção da PaWa permitiu já transformar os Shalish, tribunais tradicionais das aldeias, num sistema mais equilibrado e justo do ponto de vista das mulheres, condenadas em zonas rurais, com critérios aleatórios, sem defesa nem legitimidade.

Em Daca, Lovely tem procurado as mulheres mais pobres do país. O trabalho é o mesmo: combater a etiqueta de mão-de-obra barata e de uso descartável.

(por Ana Geraldes, enviada da SIC a Bruxelas)

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