Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Nem a zona de comércio mais rica de São Paulo escapa da crise

Na rua Oscar Freire e arredores, lojas não resistem ao fraco movimento e fecham as portas. Na tradicional galeria Ouro Fino (foto), há 70 pontos comerciais vagos

Quem circula pelo comércio de áreas nobres de São Paulo vai se surpreender: a crise chegou com tudo à rua Oscar Freire e arredores, no coração dos Jardins.

Em uma das regiões onde os pontos comerciais sempre foram fortemente disputados, mesmo em períodos de fraca atividade econômica, o primeiro sinal de que os negócios não andam bem é a profusão de placas de “Aluga-se”, em alguns casos uma ao lado da outra.

Grifes famosas que já foram vizinhas, como a Louis Vuitton e a Dior, saíram da rua Haddock Lobo em 2014. Na semana passada, a vizinha delas, a Brooksfield, também fechou as portas.

O letreiro com o nome da Brooksfield e a placa, que anuncia uma liquidação de 70%, ainda continuam por lá. Agora, três pontos comerciais, um ao lado do outro, estão vazios, uma cena rara de se ver por ali.

Outras lojas, em consequência, avaliam deixar a rua, como a Benedixt, que comercializa peças para a casa e artigos de decoração. É que os pontos comerciais vazios, especialmente quando eles estão tão próximos, causam a sensação de local abandonado, o que afugenta clientes que já não estão nada entusiasmados com as compras.

O problema maior ocorre à noite, quando os trechos das ruas com pontos comerciais vagos ficam totalmente escuros, tornando-se áreas propícias para os assaltos. Ao Diário do Comércio, uma vendedora disse que se sentiu envergonhada quando uma cliente assídua, que reside fora de São Paulo, foi assaltada assim que saiu da sua loja.

Um pouco mais acima, na alameda Lorena, as lojas Puket, Guaraná e  Louloux também fecharam as portas neste ano. Como elas eram praticamente vizinhas, quem passa no trecho entre as ruas Haddock Lobo e Augusta sente claramente que a crise bateu por ali.

“Nunca vimos nada igual por aqui. As pessoas simplesmente não compram. Há um clima de insegurança muito forte no país. O psicológico está falando mais alto”, afirma Rosangela Lyra, presidente da Associação dos Lojistas dos Jardins, fundada em 2004, que reúne 112 lojas.

“Eu também nunca vi tantas lojas fechadas, especialmente na rua Haddock Lobo”, diz Nelson Kheirallah, coordenador-geral do Conselho de Varejo da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

Quem poderia imaginar que, em uma região dos Jardins, sempre muito visitada por turistas de fora de São Paulo e estrangeiros, lojas pudessem ficar dias sem vender uma única peça,  nem sequer um cinto ou uma echarpe. É o que se constata agora na zona de comércio mais nobre do país.

A reportagem do Diário do Comércio percorreu durante dois dias (terça,23 e quarta,24), as ruas Oscar Freire, Augusta, Haddock Lobo e Alameda Lorena, e ouviu de boa parte de vendedores e gerentes de lojas que, nem mesmo o corte de preços pela metade tem sido capaz de movimentar a região. As lojas anteciparam em duas semanas a liquidação de inverno.

Com 11 lojas no país, a Fit, especializada em moda feminina, localizada na rua Oscar Freire, está, desde a  semana passada, vendendo a coleção de inverno com 40% de desconto. “Se as vendas melhoram com a liquidação? Não, não melhoraram, pelo menos até agora”, afirma a vendedora Juliana Benachio.

O preço médio das roupas da Fit é de cerca de R$ 800. Para tentar atrair consumidores, a loja fotografa peças e envia os “looks” para as clientes pelo Whatsapp. “Tentamos fidelizar a clientela de alguma forma”, diz Juliana.

Outro depoimento que não se ouvia há anos por ali: “O comércio está parado. Com a liquidação, as vendas melhoraram, mas ainda estão menores do que as do ano passado”, afirma Valéria Rodrigues, vendedora da Zeferino, loja de calçados femininos feitos à mão, que custam, na liquidação, a partir de R$ 688.

Assim como a Fit e boa parte do comércio da região, a Zeferino também tem encaminhado por What´s up fotos de sapatos para a clientela, inclusive de fora de São Paulo. É essa ação, diz Valéria, que tem dado algum resultado para a loja.

Pertinho dali, na mesma rua, a Princess, especializada em roupas femininas, sente falta dos clientes que estavam toda a semana na loja em busca de alguma novidade.

Bruna Thomaz, gerente da loja, conta que, de outubro a dezembro do ano passado, pelo menos sete clientes visitavam a loja toda a semana. Hoje não passam de três.

E essas sete clientes, diz ela, não compravam só uma peça ou outra. “Algumas delas chegavam a gastar até R$ 2 mil numa única compra. Hoje, quem vem compra uma peça e, às vezes, nenhuma. A crise chegou à rua Oscar Freire neste ano”, afirma Bruna.

É o cliente de fora do país que tem “salvado” as lojas. Maytê Camargo, gerente da Espaço Havaianas, localizado na rua Oscar Freire, diz que a loja tem vendido mais do que o ano passado.

Ela explica a razão: neste ano um evento do Rotary Clube trouxe muitos estrangeiros para o Brasil. Como a marca é conhecida fora do país, os clientes fizeram a festa na loja. “Os estrangeiros estão fazendo a diferença. Os brasileiros vêm na loja mais no final de semana”, diz Maytê.

FALTA CONFIANÇA

O fato é que consumidores com maior poder aquisitivo estão menos confiantes com a economia do que aqueles de menor renda. Veja o que mostra pesquisa feita em maio último pela Ipsos, com 1.200 consumidores no país.

Numa escala de zero a 200, o índice de confiança dos mais ricos é de 84 pontos; da classe C, de 108 pontos e, da D e E, de 116 pontos. Quanto mais próximo de zero, maior o pessimismo.

“A classe alta é bem mais bem informada, porela está mais pessimista. As classes C, D e E só vão se dar conta do que está acontecendo, quando houver perda de emprego, o que já começou a acontecer. Estamos no caminho de perder 20 anos de conquistas”, diz Rosângela Lyra.

“Este ano está impossível de trabalhar”, diz Karina Pereira Bonfim, sub-gerente da Carmim, localizada na Oscar Freire. A loja acaba de dar início à liquidação de inverno. Na compra de três peças, o preço cai 50%. “As vendas melhoraram nos últimos dias, mas ainda estão bem menores do que as do ano passado”, diz ela. Como o dono é proprietário do ponto, diz, fica um pouco mais fácil enfrentar a crise.

GALERIA OURO FINO

Uma das galerias mais famosas de São Paulo, a Ouro Fino, localizada na rua Augusta, no trecho entre a rua Oscar Freire e a alameda Lorena, também expõe o momento complicado enfrentado pelo comércio neste ano. Nos dois dias visitados pela reportagem, as lojas estavam às moscas.

Conhecida pela venda de roupas alternativas e alusivas ao rock, a galeria, com 70 anos, e cerca de cem pontos comerciais, possui hoje apenas 30 lojas abertas. Nos bons tempos,ocorria o oposto: 30 pontos fechados e 70 abertos, de acordo com Alessandro Gobbi, síndico da galeria.

Com seis anos no local, a Cherry Pie, especializada em roupas estilo retrô, não resistiu. Fechou as portas recentemente, partindo somente para a venda online.

A vendedora Bruna Gabriel foi para a loja de bijuterias que fica bem na frente, a VirginAgain, que após 11 anos no local, já anuncia para os cliente, em uma placa na vitrine, que também vai fechar.

“O movimento caiu cerca de 40%”, diz Bruna, que ainda tem a esperança de manter o emprego. A dona do ponto da VirginAgain diz que fará uma reforma no local para trabalhar com peças de arte e de decoração.

Na mesma galeria, Bruno D’ Errico, dono da Fockstore, com duas lojas no local e uma na rua Augusta, diz que está pensando em ficar somente com o ponto da rua Augusta.

GALERIA OURO FINO: 70 PONTOS ESTÃO FECHADOS

A Fockstore está abrigada há 12 anos na galeria Ouro Fino. “Só mantive a loja porque consegui reduzir o valor do aluguel em cerca de 30%. O faturamento caiu cerca de 40% este ano, na comparação com o ano passado. É um baque”, diz Bruno. O que tem dado um gás para o seu negócio, segundo ele, são os show de rock que acontecem na cidade. Os roqueiros sempre correm atrás de algum look para esses eventos.

Especializada em roupas alternativas, a Ima Mix, que fica ao lado da Fokstore, já chegou a vender apenas três peças em uma semana, e, ainda assim, com 70% de desconto. “As vendas estão paradíssimas desde dezembro do ano passado”, diz Andressa Cardoso, vendedora da loja.

Uma das mais tradicionais imobiliárias da região, a Moises Gomes, informa que existem mais ou menos 15 pontos comerciais disponíveis para aluguel no trecho que vai das ruas Melo Alves até a Peixoto Gomide e entre a alameda Lorena e a rua Estados Unidos. A oferta de pontos vagos é de 20% e 30% superior ao registrado em períodos de bom desempenho da economia.

“Há uma crise geral no país, mas senti algum sinal de melhora muito recentemente nos Jardins”, afirma Adriano Gomes, sócio-diretor da Moises Gomes. Alguns pontos comerciais que estão com placas de “Aluga-se”, afirma ele, acabam de ser alugados neste mês.

Muitos pontos ficaram fechados na região, segundo ele, porque está havendo dificuldade para negociar preços entre inquilinos e proprietários. “As pessoas não são bobas. Se o preço do imóvel não estiver dentro da realidade do mercado, ele fica vazio.”

Fonte: Diário do Comércio

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Comentário de Romildo de Paula Leite em 29 junho 2015 às 15:43

“Nunca vimos nada igual por aqui. As pessoas simplesmente não compram. Há um clima de insegurança muito forte no país.

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