Fonte:|istoedinheiro.com.br|
Uma tendência invade os escritórios: é o casual business, que contém excessos e pode até libertar os executivos da gravata. Saiba como usar sem errar
"Você dá uma mão e logo se quer o braço.” O ditado aplica-se a muitas situações, mas no ambiente corporativo ele serviu para, recentemente, exemplificar o uso indiscriminado e inconsequente do código de conduta
descontraído das sextas-feiras. O abuso de trajes inadequados para o
ambiente corporativo fez algumas empresas recuarem nas regras do famoso
casual day.
Foram feitas pesquisas recentes para averiguar o quanto se abusou e, portanto, o quanto foi preciso cortar as asinhas dos executivos descolados demais. Por conta dos exageros, algumas empresas passaram a
incorporar à sexta a mesma rotina dos outros dias da semana, que pede o
uso do terno e da gravata.
O certo: a calça jeans é permitida, desde que acompanhada de blazer, sapato e camisa social
Outras estão trazendo para o Brasil uma tendência, que já foi batizada de casual business. Esse novo código permite a mistura de estilos, desde que sejam preservados o decoro corporativo e a elegância.
Pode-se usar uma calça jeans, por exemplo, se ela for acompanhada de um
blazer, uma camisa e um sapato social.
E isso de segunda a sexta, libertando os executivos da gravata. “É perfeitamente possível estar elegante sem a gravata. Até mesmo com uma camisa polo”, disse à DINHEIRO Ermenegildo Zegna, CEO da grife italiana
que leva seu nome. “Não acredito que vá acontecer um enrijecimento total
das regras do casual day.
Busca-se, em alguns lugares, o extremo do figurino clássico, para combater a falta de decoro nos escritórios e se evitar deslizes. O que já está acontecendo é uma opção pelo casual elegante ou casual business,
com calça e camisa sociais e sem gravata. Percebi isso ao visitar Nova
York recentemente”, completa Gildo.
O errado: a calça jeans clara, tênis esportivo e camiseta são terminantemente proibidos
De fato, pesquisas internacionais constataram abusos. Nos Estados Unidos, uma sondagem feita pela Sociedade Americana de Gestão de Recursos Humanos revelou que 60% dos endereços corporativos já não
permitem o casual day. E os que permitem estão contratando profissionais
para orientar seus funcionários sobre o que se pode e não se pode usar,
atesta o Instituto Gallup.
Esse aprimoramento do código de conduta nas empresas pode até vir a ser libertador. Quem usá-lo bem, sem exageros, poderá se beneficiar e se livrar da opressora gravata de segunda a sexta-feira. Esse movimento
já é notado, por exemplo, nas corretoras de valores. “Na nossa empresa,
não existe a obrigação do uso da gravata.
Inclusive quando temos reuniões fora, com alguns clientes”, disse Antonio Milano, diretor-geral da Fator Corretora, de São Paulo, a bordo de um figurino composto de calça jeans, camisa clara, blazer de camurça e
sapato de couro. Sua diretora de RH, Vanessa Haba, atenta para o fato
de que, como não se tem uma rigidez em relação à vestimenta, na empresa,
ninguém se incomoda, por exemplo, se um diretor faz questão de usar o
terno e a gravata todos os dias.
“Alguns executivos preferem, mas somos adeptos do casual business. A maioria dos diretores usa terno com camisa e sem gravata. O figurino fica a critério do funcionário, porém, claro, dentro do bom senso”,
afirma Vanessa. Ela é taxativa só em relação a duas peças de roupa: “Não
permitimos tênis e camisetas.”
Ricardo Almeida, um dos estilistas masculinos mais cultuados do Brasil, responsável pela construção do visual terno e gravata do presidente Lula, não acredita que um aperto nas regras frouxas do casual
day ocorra só pelo abuso de trajes inapropriados. “Num momento de crise
econômica, como acontece nos EUA, tudo conta ponto. Estar bem
apresentado, nessa hora, ajuda a reverter o jogo.
O terno e a gravata passam uma imagem de solidez. Em momentos de instabilidade, a roupa pode ajudar a passar uma imagem de seriedade”, comenta. Ele acredita que toda vez que o mercado se desestabiliza é
preciso resgatar valores. “O homem externa sinais de quem é, como é e o
que faz pela roupa.
E quando se usa uma bermuda, uma camiseta, está se destruindo essa imagem de seriedade do homem de negócios, construída através do uso do terno.” Assim como Gildo Zegna, Ricardo Almeida também acredita na
mistura dos estilos para resolver essa questão. Tanto que ele está
lançando uma linha casual, com camisas polo, calças jeans e sapatos de
couro e camurça, subprodutos da sua linha Office (leia boxe). “Devem ser
usados no dia a dia corporativo, misturando com peças de alfaiataria.”
A consultora de imagem Silvana Bianchini diz que as dúvidas sobre o estilo casual são quase um tormento para executivos. “No Brasil, quando você fala formal todo mundo sabe o que é. Quando fala
casual, eles fazem o que querem, porque as empresas, em geral, não têm
uma política de vestuário por escrito. Fica a dúvida. Vale jeans?
Chinelo, sandália? O guarda-roupa casual é amplo e não tem padrão”,
afirma Silvana.
Sua empresa de consultoria, Dress Code, desenvolve manuais de etiqueta e imagem corporativa (que incluem linguagem corporal e vestuário) para os mais diversos segmentos: de indústrias a instituições
financeiras, como Itaú Unibanco, BV Financeira e Grupo Pão de Açúcar.
“Desde que começou a febre do casual, sou chamada para identificar como
as corporações querem ser percebidas e desenhar políticas de vestimenta.
O que costumo indicar é casual business, que traduzo como um estilo
casual profissional.”
No País, por causa principalmente do clima, o casual business realmente é uma solução que começa a ser empregada por muitas empresas. “Aqui no Bic não há uma norma por escrito sobre o vestuário dos
funcionários. Delegamos aos gestores de cada área a incumbência de
orientar as pessoas sobre o traje a vestir, em função da atividade que
cada um exerce.
Mas todo mundo que tem relação com público externo tem que usar terno e gravata. E, claro, nas solenidades”, diz Edenio Nobre, diretor-executivo de administração e RH do Bicbanco. “Porém, existe a
questão regional climática. Em cidades do Nordeste, Sudeste e
Centro-Oeste nas quais o clima não ajuda no uso do terno, como Cuiabá,
Ribeirão Preto e Aracaju, entre outras, não exigimos o uso dessa peça.
Até porque também, nessas cidades, por serem mais informais, o cliente
não gosta de ser recebido por pessoas de terno e gravata. É uma coisa
cultural e respeitamos”, diz Nobre.
A coleção casual de Ricardo Almeida
O estilista que ficou famoso por seus ternos bem-cortados e por ter conquistado o presidente Lula rendeu-se, após 25 anos, ao estilo casual. “Percebi que muitos brasileiros estavam comprando lá fora
produtos de muito boa qualidade e com preço competitivo. Resolvi fazer
isso na minha grife.
Agora posso oferecer a mesma camisa polo que o consumidor classe A procura lá fora, só que aqui, nas minhas lojas”, explica Ricardo Almeida. O estilista-empresário mantém sete endereços próprios (entre
São Paulo, Rio e Brasília) e vende peças em mais 33 lojas de
multimarcas.
“Na nova linha teremos 14 modelos de calças jeans, camisas polo de 12 cores, cintos e oito modelos de sapatos de couro e camurça costurados a mão”, diz. Os preços vão variar de R$ 180 (camisa polo lisa) a R$ 390
(sapato de couro). Para abrigar a nova linha e ampliar a fábrica que
foi transferida do bairro paulistano de Santo Amaro para o Bom Retiro,
ele investiu R$ 5 milhões.
“Pela primeira vez na minha vida de empresário pedi empréstimo bancário. Mas preferi assim a ter que buscar um sócio investidor”, diz. O estilista espera incrementar seu faturamento mensal, que atualmente é
de R$ 2 milhões, em 50% com o lançamento da nova linha. “Queremos
aumentar a distribuição e para isso queremos atingir 45 endereços
multimarcas. Em 2011 vamos lançar óculos e perfume. E daqui a quatro
anos vou começar a exportar minha produção”, conclui Ricardo Almeida.
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