Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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O longo e pedregoso caminho que Graça Foster começou a trilhar

A Petrobras vive uma ressaca política desde que nova presidente, Graça Foster, assumiu o cargo adotando medidas cobradas há anos pelos analistas do mercado de ações. A empresa, que chegou a valer R$ 510,4 bilhões na Bolsa em maio de 2008, hoje está valendo perto de R$ 256 bilhões. Há seis meses no cargo, Graça trouxe realismo não apenas às metas de produção de petróleo e gás como também empurrou para o final da década os projetos da gestão anterior de erguer quatro refinarias simultaneamente. E indicou para sua diretoria executivos de primeira linha, profissionais respeitados e sem vinculação política.

Sua difícil missão será reverter a percepção de que a empresa foi capturada pelo acionista controlador, o governo, que toma decisões contrárias às de interesses dos minoritários que gostariam de ver a estatal com resultados maiores, melhores e mais em linha com os dos seus pares internacionais. Mas terá que fazer isso de olho no calendário eleitoral, sem esquecer que no dia 1º de janeiro de 2013 a presidente Dilma Rousseff estará de novo em campanha pré-eleitoral.

Um catalizador do péssimo humor do mercado com relação à estatal foi o primeiro dos dois reajustes dos combustíveis obtido quase a fórceps às vésperas da apresentação do plano estratégico, no dia 25 de junho. A conquista ainda é insuficiente para acalmar o mercado. A aquisição de equipamentos com índice elevado de conteúdo local, ainda defendida por Graça Foster, é vista como uma amarra que pode conter por muitos anos os índices financeiros e operacionais da estatal.

Na já antológica apresentação do plano estratégico da estatal até 2016, Graça Foster expôs um segredo público ao apontar falhas de orçamento, de operação e supervisão de projetos vitais e bilionários. As declarações, feitas com sua franqueza habitual, foram elogiadas e comemoradas dentro e fora da Petrobras por quem viu ali um retorno da companhia a objetivos empresariais. Mas houve quem, acertadamente, previsse problemas políticos como os que surgiram depois.

Graça tem se saído relativamente bem até agora na tentativa de juntar os estilhaços da bomba que parece ter explodido ao apresentar sua análise sobre a Petrobras que herdou. Na Bahia, quando encontrou José Sergio Gabrielli em evento público, chamou o antecessor para participar de uma coletiva em que fez questão de frisar que também foi responsável pelas decisões que criticou.

Ao admitir atrasos e outras ineficiências da estatal, colocando projetos de US$ 28 bilhões para fora do horizonte do plano estratégico, Graça Foster pode ter ganho opositores dentro e fora do governo. Também entrou na mira dos governadores do Maranhão (berço do ministro de Minas e Energia Edison Lobão) e do Ceará, que liderou um pedido de comparecimento da executiva à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.

Uma leitura atenta dos comunicados da Petrobras para acalmar os ânimos dos governadores desses Estados mostra que a integridade do que foi dito antes permanece. A companhia disse que os projetos são importantes e estão sendo adequados "aos parâmetros internacionais de preço, prazo e uso de tecnologia padronizada". Traduzindo: irão adiante sim, desde que comprovada viabilidade técnica e financeira.

Involuntariamente, a executiva reacendeu discussões sobre a politização da companhia no governo Lula, que alguns acham ter sido a maior da história da estatal. De fato, é difícil encontrar no passado um governo que tenha utilizado tanto a Petrobras como plataforma partidária, mas não foi o PT quem inventou a submissão da estatal aos interesses do governante de plantão.

Não ficaram boas lembranças do "Caso BR" no governo Sarney, tendo como pivô um general-diretor, ou o "Esquema PP" no governo Fernando Collor, que ficou conhecido na renúncia do advogado Luis Octávio Motta Veiga da presidência da empresa. Motta Veiga denunciou pressões do Planalto e de Paulo César (PC) Farias, o braço direito de Collor, para forçar uma operação de crédito à então recém-privatizada e hoje finada Vasp. Mesmo no segundo governo de Fernando Henrique Cardoso, quando a Petrobras teve gestão focada em resultados em um ambiente pós-abertura do setor, a empresa foi envolvida no PPT, um programa de incentivo à construção de térmicas a gás para ajudar o país a sair do racionamento de energia.

Ainda assim, sob o PT de Lula, a impressão de muitos observadores é que o uso político o mais radicalizado desde a redemocratização e comprometeu um volume maior de recursos financeiros da estatal.

"O que era exceção, como a nomeação política de um ou outro diretor, virou regra", afirma um executivo que trabalhou na empresa sob vários governos. Até em razão do governo de coalizão que leva a conceder cargos em nome da governabilidade. "E os governos permitem que esses políticos dirijam empresas como a Petrobras, que estão perdendo mecanismos naturais de frenagem que eram acionados pelo corpo técnico", avalia a fonte.

Mesmo quem vê com simpatia o uso da empresa para objetivos estratégicos de Estado ressalta que a associação com a venezuelana PDVSA na refinaria de Pernambuco (que na Petrobras chamam de Rnest e os venezuelanos, que ainda não colocaram um tostão, chamam de Abreu e Lima) é um caso " emblemático e escancarado". Graça disse que é uma história para a Petrobras aprender e nunca mais repetir.

Não por acaso a Rnest é um dos projetos mais sintomáticos da "era bonde desgovernado" na Petrobras. Quando foi aprovada, em 2005, custaria US$ 2,3 bilhões e ficaria pronta em novembro de 2011. Em março deste ano o preço já estava em US$ 17,1 bilhões, que no mês passado subiram para US$ 20,1 bilhões, com a inauguração prevista para novembro de 2014. Nesse período, as obras avançaram apenas 57,5%.

Quem pilotava tudo era o diretor Paulo Roberto Costa que, todos sabiam, era sustentado por uma "joint-venture de partidos", como resumiu um influente político. O que ainda não foi respondido sobre a refinaria de Pernambuco é onde foi parar a bilionária diferença entre o custo inicial e o final.

Os atrasos na produção na última gestão também levaram a Petrobras a deixar de produzir uma fortuna em petróleo. Tendo em conta as estimativas mais otimistas de produção nos seus planos de negócios desde 2003, a estatal deixou de produzir 963 milhões de barris de petróleo nesses nove anos, que representaram uma perda de receita da ordem de US$ 77 bilhões, supondo um Brent a US$ 80. Considerando as estimativas mais conservadores, a companhia deixou de produzir 316 milhões de barris, que representaram uma perda de US$ 25,3 bilhões, volume superior ao PIB da Bolívia em 2011, que foi de US$ 24,4 bilhões segundo Bird.

Parte do dinheiro que ela não ganhou foi gasto com refinarias que não produzem nenhuma gota. Graça Foster tem muito trabalho pela frente. E ninguém acha que vai ser fácil.

Fonte:Valor Econômico

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