"Um hacker é alguém que faz um sistema agir de uma maneira que não era esperada pelo projetista, alguém que é capaz de dominar o comportamento de um sistema para além do que o próprio criador pensou" (imagem: Thinkstock)
Esqueça tudo o que você acha que sabe sobre eles. Hackers não têm nada a ver com banditismo virtual nem são os inescrupulosos vampiros de servidores expostos diariamente pela mídia
Todos os dias ligamos nossos computadores pessoais e acessamos os principais portais de notícias. Não é raro saltar aos olhos matérias sobre ataques virtuais, invasão e queda de servidores, roubo de dados, dentre outros temas relacionados à segurança na internet. Costumeiramente, entre as linhas traçadas por repórteres, articulistas e colunistas, encontra-se a palavra hacker como o personagem responsável por tais ações. Como o uso do termo normalmente não é contestado, repete-se e consolida-se como verídico. Assim, é atribuída a reputação de criminosos virtuais aos hackers.
Outra figura não menos presente nos noticiários é o engenheiro Steve Wozniak, antigo parceiro de Steve Jobs, fundador da Apple. Na década de 1960, um grupo intitulado phreakers, do qual ele fazia parte, conseguiu emular pulsos de uma rede telefônica a partir da emissão de uma frequência específica (2600Hz), gerada por um apito distribuído em caixas de cereais. O sucesso da ação não foi resultado de um plano para burlar a tarifação, mas apenas um fantástico empenho de curiosidade e habilidade técnica. "Apesar disso tudo envolver pouco ou nenhum computador, ninguém tem dúvidas de que se tratou de um movimento hacker – e um de primeira linha", afirma Aylons Hazzud, integrante e sócio fundador do Garoa Hacker Club.
Alan Turing (1912 - 1954), matemático e analista de criptografia britânico, exerceu um papel bem mais relevante na história da humanidade. Apesar de não ser militar, foi recrutado pelo exército da Inglaterra para decodificar a complexa linguagem criptografada utilizada pelos alemães na Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945). Sua máquina, o Colossus, conseguiu decifrar o Enigma Germânico e, se não mudou os rumos, pelo menos abreviou a guerra.
No século 20, projetos grandiosos como a ARPANet, World Wide Web, Unix e inúmeros outros só se tornaram possíveis graças à criatividade, talento para programação e muita vontade de criar e recriar as coisas despretensiosamente, atributos inerentes aos hackers. Mas como – e, principalmente, por que – os caras que lideraram a transição do modelo industrial-capitalista para a sociedade em rede passaram a ser reconhecidos por alcunhas nada carinhosas, tais como bandidos virtuais ou piratas da internet?
O que é um hacker?
Apesar de, historicamente, o conceito de hacker ter surgido em meados dos anos 1950, ele não é aplicável apenas à internet e à computação em geral. "Um hacker é alguém que faz um sistema agir de uma maneira que não era esperada pelo projetista, alguém que é capaz de dominar o comportamento de um sistema para além do que o próprio criador pensou", explica Hazzud.
Adonel Bezerra, especialista em segurança digital e fundador do Clube do Hacker, acredita que a atividade se baseia em três premissas: "encontrar brechas em sistemas computacionais e/ou tecnológicos – alguém sempre esquece alguma coisa que precisa ser descoberta; testes de softwares antes de serem disponibilizados em produção; e descobrir tudo o que for possível naquele momento – seja sobre pessoas, sistemas ou organizações, mas só divulgar em momento oportuno e nunca para proveito próprio".
A etimologia do termo pode estar ligada ao desenvolvimento de dispositivos para transporte de volumes (TMRC), também na década de 1950, por estudantes do Instituto Tecnológico de Massachussets. "Eles realizavam ajustes pontuais rápidos e eficientes, sendo consideradas sacadas genais com relês eletrônicos para criar desvios inusitados – que eles chamavam de hacks, o que não era uma perversão – assim como ocorre com muitos hacks até hoje. E, atualmente, o termo também é empregado para classificar aqueles que são bons naquilo que fazem", relata outro integrante fundador do Garoa Hacker Clube, Aleph Leptos.
Crackers, posers e ativistas virtuais
Aleph ressalta que, todavia, não é o uso de códigos prontos e acabados que transformam seu usuário em um hacker. Na verdade, existem milhares de códigos e aplicações soltas na web que permitem – a qualquer pessoa que saiba usar um browser – realizar um ataque virtual ou ações menos nobres. Dois exemplos claros são os ataques empreendidos recentemente pelo LulzSec – que derrubou momentaneamente alguns sites do governo brasileiro – e o Anonymous, que congestionou os sites da Visa, do Master e do PayPal.
Em alguns casos, esses ataques podem ser oriundos de computadores "zumbis", aliciados remotamente através de vírus, ou, no caso de protestos virtuais autênticos, simplesmente de milhões de usuários conectados no mundo inteiro, que visitam a mesma página no mesmo horário.
O objetivo é, basicamente, interditar o tráfego de um determinado website pela porta da frente, sem efetuar invasões aos servidores e a informações confidenciais, ação comparável a um protesto real ou físico. Nenhuma página é capaz de suportar uma onda de milhões de acessos repentinos, por exemplo. "São pessoas protestando, chamando a atenção, causando inconvenientes enquanto provocam um prejuízo bem pequeno ao alvo dos protestos. Tirar um site de uma empresa do ar por alguns minutos é análogo a lotar a calçada de um shopping", compara Aylons Hazzud.
Mas, contra todas as convenções que norteiam o verdadeiro espírito hacker, existem usuários mal intencionados. Sim, da mesma forma que existem pessoas que realizam intervenções cirúrgicas sem serem médicos e políticos desonestos, os violadores também estão presentes no mundo virtual e são mais conhecidos por crackers. Para Leptos, "a maioria dos criminosos digitais são meros usuários perversos que utilizam técnicas já conhecidas – porém, de difícil combate – e que se aproveitam da falta de educação, da prática da computação confiável e da ingenuidade de muitas pessoas".
Uma nova revolução
Para o especialista em segurança da informação Gerson Castro, as novas formas de comportamento coletivo na internet representam uma mudança nos paradigmas da sociedade, um anseio pela mudança na forma de relacionamento entre pessoas, empresas e Estados. "O fato de passarmos a ter a informação disponibilizada e encontrada digitalmente traz inúmeras questões relacionadas ao uso das ferramentas que as manipulam, assim como o que poderá ser feito com tais informações. Assim, sociedade, Estado, governo, academia e entidades de classe devem estar juntas no debate e na regulamentação da disponibilização, acesso e aplicação da informação digital e, ainda, das questões legais provenientes disso tudo", explica Castro.
A transição conturbada do antigo modelo capitalista industrial para a sociedade em rede gera novos modelos, novos indivíduos, novos grupos e novos problemas. Historicamente, quando o mundo vivencia transformações culturais intensas, a tendência é imputar ao "novo" a tradução do incerto e do perigoso, tal como aconteceu durante o Renascimento Cultural. Resta saber se é ponderado queimar os nossos Giordanos Brunos por suas doutrinas hackers subversivas, perigosas para grupos ávidos por capital e poder, benéficas para o desenvolvimento de novas tecnologias com acesso facilitado à sociedade.
Fonte:|http://www.administradores.com.br/informe-se/tecnologia/o-mundo-dos...
Bem-vindo a
Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI
© 2024 Criado por Textile Industry. Ativado por
Você precisa ser um membro de Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI para adicionar comentários!
Entrar em Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI