O plano da Unisys para ajudar na volta ao presencial

Em entrevista exclusiva, Patrycja Sobera, vice-presidente global de Digital Workplace Solutions da Unisys, falou sobre as estratégias da empresa.

Patrycja Sobera, vice-presidente global de Digital Workplace Solutions da Unisys (Imagem: Divulgação)

O pós-pandemia já ficou para trás há algum tempo, mas as empresas ainda sentem seus efeitos. Uma das consequências foi a resistência ao retorno ao trabalho presencial. Após a adoção em larga escala do modelo remoto, a maioria das organizações tem enfrentado dificuldades para retomar as atividades no formato presencial ou mesmo híbrido.

De acordo com o Great Place to Work (GPTW), 70% das companhias que utilizam o regime presencial enfrentam obstáculos na contratação. Já uma pesquisa da FIA Business School indicou que a maior parte dos profissionais considera que o trabalho remoto melhorou significativamente sua qualidade de vida e produtividade. Para Patrycja Soberavice-presidente global de Digital Workplace Solutions da Unisys, grande parte dessa resistência decorre das fricções tecnológicas que os colaboradores enfrentam ao transitar entre os dois ambientes.

“Muitas pessoas montaram uma espécie de centro de comando em casa e, então, chegam à empresa esperando a mesma experiência. Por isso, investimos fortemente no que chamamos de gestão da experiência”, afirmou durante entrevista exclusiva ao IT Forum, em sua última visita ao Brasil. Durante a estadia, a executiva se reuniu com clientes locais para fortalecer parcerias e aproveitou a ocasião para celebrar os 100 anos da empresa no país.

Segundo Patrycja, o plano da Unisys é minimizar ao máximo a inatividade dos funcionários, garantindo que a tecnologia os acompanhe desde a saída de casa até o tempo no escritório. O que funciona no ambiente doméstico também deve ser viável fora dele. Por esse motivo, a líder tem se dedicado tanto a ouvir as demandas internas e os entraves tecnológicos de sua equipe quanto a desenvolver soluções aplicáveis tanto à própria organização quanto aos seus clientes.

“Como consumidores, vamos ao banco, à farmácia e a diversos outros lugares onde esperamos certo nível de tecnologia, certo? Mas, no escritório, muitas vezes aceitamos que ela não seja tão avançada. E acho que esse é o nosso próximo desafio”, comenta.

Para ela, o retorno ao presencial – seja em modelos híbridos ou não – é o que possibilita a conexão humana, permitindo que os líderes engajem melhor suas equipes, especialmente os profissionais mais jovens, já que muitos em início de carreira ainda não têm clareza sobre os planos de desenvolvimento ou sobre como podem contribuir dentro das instituições.

Para ilustrar sua perspectiva, a executiva menciona o programa Mosaic, criado para que os colaboradores registrem ideias de aplicação da inteligência artificial (IA). A participação não é obrigatória e, por isso, os funcionários são lembrados por e-mail. No entanto, a empresa percebeu que muitos não tinham tempo para ler as comunicações. Foi com o reforço dos líderes, no ambiente presencial, que o engajamento com a plataforma começou a acontecer.

Quatro gerações

Outra parte importante para reter talentos e manter o engajamento tem sido compreender o sentimento dentro do ambiente de trabalho – uma tarefa ainda mais desafiadora, segundo a vice-presidente, diante das quatro gerações presentes simultaneamente nas organizações. “São expectativas muito diferentes.”

Nesse contexto, as pesquisas de clima têm se tornado ainda mais relevantes para manter um ambiente saudável. Foi por meio da tecnologia que a Unisys auxiliou a Dyson nesse processo. Em vez de monitoramentos anuais, a multinacional passou a enviar pop-ups semanais para entender as necessidades de seus colaboradores.

A implementação começou com os desenvolvedores que, segundo Patrycja, nunca respondiam às pesquisas de opinião da companhia, mas passaram a receber pequenas perguntas relacionadas à migração do Windows 10 para o Windows 11. “Os engenheiros de pesquisa e desenvolvimento são os profissionais mais essenciais para esse tipo de empresa. Sabemos que qualquer tempo de inatividade pode resultar em perda de tempo criativo”, contou.

Perguntas como “A atualização está funcionando?” e “O que não está funcionando?” rapidamente elevaram a taxa de resposta de 13% para 89%, permitindo que a empresa realizasse os reparos de forma mais ágil e eficiente. A iniciativa, que começou no departamento de tecnologia, foi então estendida ao setor financeiro, com novas questões como “Você ainda está utilizando o cartão corporativo X?”.

De acordo com Sobera, com as mudanças, em seis meses a Dyson chegou a economizar US$ 250 mil. “O que nos anima é que a TI costumava ser vista como ‘Meu Deus, que chato, o cara que vem consertar o meu computador’, mas agora realmente impactamos os negócios e conseguimos ajudar todas as áreas a evoluírem.”

A tecnologia que educa

A frase da executiva é levada a sério dentro da empresa. No ano passado, a companhia investiu US$ 20 milhões em tecnologias para capacitar profissionais de linha de frente e outros US$ 12 milhões em soluções voltadas ao treinamento de funcionários de call center e service desk. Nesse contexto, a tecnologia também é vista como uma forma de reduzir fricções e incentivar o engajamento das equipes.

O investimento foi chamado de “acelerador da experiência de serviço” e inclui simulações de inteligência artificial para orientar os trabalhadores durante os atendimentos de campo, além do treinamento de agentes de IA que executam tarefas operacionais do cotidiano. “A maior oportunidade para nós, como Unisys, e para o setor, é continuar a capacitar o ser humano por meio da tecnologia”, declarou Sobera.

E o medo da IA?

Mesmo com a rápida adoção tecnológica, nem tudo tem sido simples. Ao longo da entrevista, Patrycja contou que, em muitas unidades, os colaboradores ainda demonstram receio de utilizar IA em suas rotinas, o que impacta negativamente os resultados. “O primeiro passo é, sim, o investimento, mas o segundo é a adoção – e temos visto muitas pessoas que enxergam a IA como uma ameaça.”

Durante sua visita ao Brasil, além de São Paulo, a executiva esteve também na unidade de Campo Grande da companhia, onde a equipe de engenheiros de campo dispunha de uma nova tecnologia que permitia realizar agendamentos de forma automatizada, mas que não estava sendo utilizada. Foi apenas ao chegar ao local que ela percebeu que a baixa adesão era motivada pelo medo.

“Eles me perguntaram: ‘Mas, se eu usar essa ferramenta, então, o que eu vou fazer?’. E eu respondi que tínhamos muito trabalho a ser repassado.”

Para ela, o receio não vem apenas da idade, mas também do contexto cultural. Enquanto vice-presidente global, Patrycja já observou países como a Hungria sendo igualmente conservadores, enquanto em Londres – onde reside – há uma grande sede por inovação. No entanto, ela afirma que o mais importante, independentemente da geração ou da origem, é a disposição para adotar novas soluções.

“Estamos apenas no começo e vamos avançar muito com IA e agentes, mas até lá, mesmo que as tecnologias coexistam, as pessoas precisarão começar a se adaptar – e estamos animados para auxiliar nesse processo.”

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