Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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A ocasião é rara. Menos pela entrevista do que pelo almoço. Josué Gomes da Silva, filho do vice-presidente José Alencar, morto em 2011, não almoça. Só aos fins de semana. É assim desde os tempos que cursava duas faculdades em Belo Horizonte: engenharia e direito. Passava o dia movido a café - com muito açúcar. "Dá energia", diz. À tarde, ele sempre estava na Coteminas, companhia têxtil de cama, mesa e banho fundada por seu pai em 1967. Hoje, aos 50 anos, à frente da empresa familiar, mantém o hábito de fazer apenas duas refeições diárias: café da manhã, às 6h30, e jantar, às 21h30. "É um erro gravíssimo. Ainda vai me custar caro." Três décadas depois, praticamente só o café mudou. Agora é amargo.

Ao aceitar o convite para este "À Mesa com o Valor", Josué responde com bom humor à proposta para que escolha um restaurante de sua preferência. "Pode ser em qualquer lugar. Até no McDonald's. Não almoço mesmo", brinca.

Alguns dias depois, Josué chega animado ao Brasil a Gosto, restaurante próximo ao escritório de sua empresa, em São Paulo. A casa da chef Ana Luiza Trajano, de gastronomia brasileira, combina uma decoração moderna com fartas referências à cultura nacional, moldura perfeita para a conversa. O Brasil é mesmo o prato principal do almoço. Sem beber água e sem tocar nos biscoitos de polvilho da entrada, Josué começa a falar a seco, sempre com dados e análises na ponta da língua. As questões energéticas do país - nem a Coteminas, nem a política explicitamente - são o tema inaugural da conversa. O discurso já se alinha com o de um político.

Sucessor do pai na Coteminas, Josué está no comando dos negócios desde 1996. Até há alguns meses avesso à vida pública, o empresário pode encarar agora a sucessão na política. José Alencar, além de senador, foi vice-presidente de Luiz Inácio Lula da Silva durante seus dois mandatos. Como empresário de destaque, teve papel fundamental no projeto do Partido dos Trabalhadores (PT) de diminuir a desconfiança de parte do eleitorado em relação à imagem radical.

Josué está decidido a concorrer ao Senado de Minas Gerais nas eleições de outubro. A palavra final está nas mãos do PMDB, ao qual se filiou em 2013. O martelo deve ser batido na convenção do mês que vem. "Papai sempre falava coisas boas da política quando mamãe dizia que era sacrifício." O PMDB foi o partido original de Alencar, que também passou pelo Partido Liberal (PL) e depois pelo Partido Republicano Brasileiro (PRB).

- O senhor fala como se sua candidatura fosse inexorável.

- Vamos pedir?

Apesar da interrupção e do suspense, Josué não evita o tema de sua candidatura. Antes, escolhe uma pescada amarela, acompanhada de purê de banana-da-terra. Não exatamente por gosto. Torce o nariz na hora de comer peixe, já que prefere carne vermelha. A opção se justifica porque precisa ser algo leve, dado o inusitado do evento em seu cotidiano.

Pedidos feitos, a política volta ao cardápio do encontro, especialmente pela figura paterna, sua grande devoção - "papai", como se refere a José Alencar. "Falava com ele todos os dias. E ainda falo." É a partir da história do pai, que vai, aos poucos, revelando suas opiniões.

Se for candidato, deve adotar o nome Alencar. "Porque tem peso", afirma. "Além do mais, já me chamam de Josué Alencar."

Alencar, de registro, Josué nunca foi. Nascido em 25 de dezembro, é Josué Christiano Gomes da Silva, o que entrega a devoção religiosa dos pais. "Alencar não é sobrenome. É nome do meio. Mas papai sempre foi José Alencar. Pegou. Mesmo antes da política." Para suprir essa falta, que faz com que por vezes não o encontrem nos hotéis, seu filho, hoje com 23 anos, foi batizado e registrado como Josué Alencar. Além de Gomes da Silva, claro.

Mesmo discreto, bem ao estilo mineiro, os enormes olhos azuis marejados de Josué denunciam a emoção recorrente em meio às histórias do vice-presidente, morto após uma batalha de 14 anos contra o câncer. Conta que sempre fugiu da política, para deixar clara a separação entre a empresa e a vida pública do pai. "Política é a arte do convencimento", diz o empresário. Disposição para persuadir interlocutores tem de sobra. "Argumentar, argumentar e argumentar. Convencer e engajar."

No início do ano, não aceitou entrar na vida pública, quando foi convidado para o Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Comércio. Já pensava no trabalho para uma campanha, tanto para o seu partido quanto para a presidente Dilma Rousseff. "Cheguei a ponderar. Fiquei honrado, ainda mais porque era para uma pasta à qual sempre estive ligado. Mas acho mesmo que posso ajudar muito mais em Minas Gerais, neste momento."

Silvia Costanti/ValorPara Josué, o humor na economia poderia melhorar com uma única coisa: “O ajuste no combustível”

O Estado terá peso extra na corrida presidencial. É de lá um dos principais concorrentes da também mineira Dilma, o tucano Aécio Neves - como Josué, um herdeiro político. O pré-candidato do PSDB é neto do presidente Tancredo Neves (1910-1985). Foi eleito governador em 2002 e, na reeleição, teve a maior votação já registrada em Minas Gerais. Renunciou em 2010, para concorrer ao Senado.

Engenheiro, Josué tem cálculos para justificar a recusa do ministério. "É ano de eleição. Um dos candidatos é um mineiro muito bem visto em Minas Gerais. A Dilma ganhou a eleição em Minas com mais de 1 milhão de votos de vantagem. Neste ano, o Aécio quer vencer no Estado com mais de 3 milhões de votos de vantagem. Se isso acontecesse, seria uma diferença [em relação à eleição anterior] de 4,5 milhões num colégio em que, de fato, acabam votando de 90 a 95 milhões de pessoas. É um percentual altíssimo! Isso não vai acontecer. Mas para não acontecer, todos nós teremos de ajudar."

O empresário ressalta que não precisa ser candidato para atuar na campanha, mas admite: "Se vier a ser chamado - e isso depende do meu partido, que precisa achar que posso ser útil - eu vou aceitar." Diz assim, em bom "mineirês". "Estão falando que se eu for candidato, vou para o sacrifício. Mas é um sacrifício nobre. Papai já se sacrificou assim e ganhou." Sua candidatura deve enfrentar um nome forte na disputa pelo Senado, o ex-governador mineiro Antônio Anastasia (PSDB), muito próximo a Aécio, de quem foi vice-governador.

Também o pai, quando convidado em 1998 a concorrer ao Senado, não era franco favorito. O posto era do ex-governador Hélio Garcia. Mas Alencar saiu vitorioso. "Obviamente, não entro em nenhuma disputa achando que não posso ganhar, seria até desonesto. Mas tem que trabalhar dobrado."

Na visão de Alencar, o filho seria juiz de direito e chegaria ao Supremo Tribunal Federal. Josué gostava de engenharia, era o terceiro aluno da turma na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mas paixão mesmo tinha pelo direito - era o primeiro da sala, na Faculdade Milton Campos. "Eu acho que o papai sabia que a vida empresarial era de muita dedicação. Talvez dissesse isso [de ser juiz] para testar minha vocação."

A vida mostrou o quão difícil é essa atuação, em especial após a fusão com a americana Springs. Do momento da combinação dos negócios, quando o plano era tornar a Coteminas uma plataforma de exportação, até 2011, ano em que concluiu a reformulação do projeto, hoje centrado no Brasil, foram só notícias difíceis. Corte de receita e fechamento de fábrica. Em 2006, data que se deu a combinação entre Springs e Coteminas, o grupo tinha receita líquida de R$ 4,8 bilhões e gerava, fora do Brasil, 2/3 do faturamento. Era, então, um gigante com 31 fábricas entre EUA, Brasil, México e Argentina, com capacidade produtiva de 270 mil toneladas.

A crise na economia americana e o real valorizado levaram a empresa a uma drástica redução das operações. Sete anos depois, o grupo tem um pouco menos da metade do tamanho. A receita líquida ficou em R$ 2 bilhões no ano passado - agora só com um 1/3 obtido no exterior, na proporção inversa a do momento da fusão. São 15 fábricas capazes de produzir 120 mil toneladas por ano. Os maiores ajustes ocorreram nos EUA. "Não adianta remar contra a maré. Por melhor nadador que você seja, é perigoso não chegar a lugar nenhum. Agora, se for com a maré, vai chegar em outro ponto da praia. Mas pelo menos vai chegar."

Do direito, do qual o pai achava que viria a profissão, veio o casamento. Foi no curso que conheceu a mulher, Cristina. Ficou noivo aos 22 anos, antes de ir aos EUA cursar o MBA em finanças e operações industriais em Vanderbilt, no Tennessee. Ao estilo prático de Josué, o casamento, aos 23 anos, foi por procuração. Quem casou em seu lugar, no civil, foi o pai. Assim, Cristina pôde obter um visto para permanecer nos EUA enquanto o marido estudava. Veio para o Brasil, durante o feriado americano de Ação de Graças, para a cerimônia religiosa. Depois, voltou aos EUA para seguir o MBA.

A vida cotidiana e a convivência com o pai falaram mais alto do que a paixão pelas leis. Caçula dos três filhos que José Alencar teve do casamento com dona Marisa Gomes da Silva, e único homem, Josué ia com o pai "para todos os lugares" desde cedo. As filhas não seguiram na carreira empresarial. "Papai ia muito ao Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais [BDMG], eu devia ter oito anos. E eu acompanhava, gostava da broa que serviam lá, com café. Eu ia pela broa, mas acabava ouvindo. E você vai ouvindo e vai aprendendo."

Josué se embrenhava nas fábricas ainda criança, mas recebeu seu primeiro salário apenas aos 26 anos, um ano e meio depois de retornar do curso de MBA nos EUA. "Tem muita foto minha dentro da fábrica. A gente tinha sociedade num cotonifício, no interior de Minas Gerais, e era uma fábrica muito antiga, que não tinha sistema de limpeza de ar. Tinha altura ideal, aos dez anos, para emendar fio no filatório. Fiquei craque naquilo, mas saía branco de algodão. Acho que já era um pouco do sangue falando."

O estilo mineiro veio da convivência, pois Josué nasceu mesmo no Rio, onde passou poucos dias. Até os três anos de idade, viveu em Ubá, no interior de Minas. Só então é que foi para Belo Horizonte. Josué se diverte com sua fama de escorregadio e discreto, o avesso da imagem cristalizada dos cariocas. "Não preciso me preocupar com isso. Dizem que gato que nasce no forno não é biscoito."

Mas não é identidade carioca que Josué terá de enfrentar na corrida ao Senado, e sim a paulista. Como o empresário fixou residência em São Paulo desde que voltou dos EUA, esse é um tema sensível, na visão de analistas.

A seriedade na fala e a voz grave, de timbre forte (igual a do pai a ponto de confundir até a mãe), tendem a naturalmente intimidar seus ouvintes. A sobriedade é quebrada pela habilidade em seduzir os interlocutores com suas histórias cheias de detalhes. "Em Minas, tinha um restaurante chamado Alpino. Era de um alemão. Todas as sextas-feiras, os principais dirigentes das têxteis de lá se reuniam para discutir o país. Papai ia sempre", conta. "A coisa melhor do mundo é isso. Na mesa, você conserta tudo. De tanto que ele consertou o país na mesa do bar, decidiu trabalhar nisso."

José Alencar entrou na política aos 63 anos, quando concorreu ao governo de Minas Gerais, em 1994. Ficou em terceiro lugar na disputa. Deixou a cena empresarial definitivamente, em 1998, com a candidatura vitoriosa ao Senado. Josué estava com 35 anos e já era superintendente geral da Coteminas.

A despeito da candidatura não ser oficial - a ponto de tratá-la como "hipótese" -, Josué tem certeza de seu papel na política. Será um "soldado do partido na briga pela reeleição de Dilma". "Papai sempre respeitou a política como instrumento de construir um Brasil melhor. Ele citava [Benjamin] Disraeli, primeiro-ministro do Reino Unido [1874-1880], que dizia: 'Se nas ilhas britânicas imperava a liberdade é porque os homens de bem tinham a mesma audácia dos bandidos'."

Quando os convites para filiação partidária começaram a aparecer, Josué diz que essa era uma questão que sempre deixava clara. "A única coisa que sempre expus é que não poderia deixar de apoiar o projeto começado pelo meu pai, com o presidente Lula, e que está tendo continuidade com a presidente Dilma."

Josué conta que o laço entre Lula e seu pai tornou-se ainda mais vigoroso após o término do mandato. "Lula foi muito carinhoso. Telefonava diariamente e visitava toda semana. Havia uma ligação forte de amizade. Mais até do que de convergência na gestão do Estado."

Foram três os principais motivos que o levaram a se filiar ao PMDB. O primeiro foi o respeito à memória do pai. Sempre disse à família que deveriam sentir-se "honrados e agradecidos" com os convites. O aumento da atuação política se deu justamente após a morte do vice-presidente, quando passou a compor conselhos, como o de Desenvolvimento Social, Ciência e Tecnologia. "Eu me senti na obrigação, para com ele, de participar mais."

O segundo motivo: ter armas para lutar na campanha de Dilma. "Sempre me diziam que se eu queria ser um soldado, não poderia ser um sem armas - o que aconteceria se não pudesse me candidatar. Entrei na política para ser um militante." Daí a decisão de aderir à legenda dentro do prazo para disputar uma eleição, se necessário fosse.

E o terceiro, os movimentos de rua de junho do ano passado. Boa parte dos protestos ocorreram na avenida Paulista, onde fica o escritório da Coteminas em São Paulo. Foi olhando para a avenida que Josué decidiu aceitar a vida política.

Nos dias em que a avenida foi bloqueada, atravessou as manifestações na volta para casa a pé. "Antes de virar quebra-quebra, era algo tão legítimo. Ali, não vi negação nenhuma da política. Vi afirmação. Pensei: 'Puxa vida, olha um monte de jovens fazendo isso. Será que eu não posso fazer também, de outra forma?'."

O engajamento na política traz uma dúvida: quem fica no comando da Coteminas? Josué tem fama de centralizador. Recusa a imagem, mas é a identidade da empresa. Diz que essa "lenda urbana" se deve ao fato de a companhia ter uma cultura muito forte, o que torna a gestão homogênea. Os filhos não devem repetir a história do pai. A filha, de 25 anos, é arquiteta e tem o seu negócio e Josué Alencar é empreendedor na área de tecnologia.

Depois do duro enxugamento após a compra da americana Springs, o futuro parece finalmente mais tranquilo, o que o deixa confortável para pensar em política. "Eu brinco dizendo que Deus criou o câmbio para deixar os economistas humildes. E criou os EUA para me deixar humilde", diz, descontraído. Mas não entrega como será a sucessão.

- Quem ficará no comando da Coteminas?

-Quando?

- Em junho. Está perto.

- Em junho há uma convenção [do partido]. Depois, tem eleição. Depois, diplomação e posse. E nem candidato eu sou.

Após se divertir em deslizar da resposta, diz apenas que, por causa da Copa, a campanha deste ano deve ser muito curta. Aliás, torce para que o país avance também no futebol. Do contrário, teme que as reivindicações com relação ao legado da Copa possam partir para a perda do Estado da paz social.

Quando um pot-pourri de doces brasileiros chega à mesa - uma cortesia levada pela própria chef Ana Luiza -, Josué não resiste. "Aquele ali está piscando para mim." Seu apetite se abre também para falar sobre as demandas para que o Brasil cresça. Como industrial, queixa-se da produtividade do país. "Estamos atrás de grande parte de nossos competidores." O cenário exige investimento em educação e infraestrutura, mas ambos precisam de tempo para trazer resultados práticos.

Para o curto prazo, sugere reduzir a regulação das pessoas físicas e jurídicas. "Defendo a simplificação de tudo. O Brasil se tornou muito complexo. O Brasil tutela muito o cidadão." Mas sabe que essa modificação é talvez a mais difícil, pois é um traço cultural. Para ele, o discurso da "proteção" do Estado é mais fácil do que o da valorização do cidadão, que o deixa escolher por si. "O legislador, por exemplo, existe para fazer leis. Mas a gente deveria eleger legisladores para desfazer leis também. Isso deveria ser uma atividade nobre."

Josué defende também que a simplificação comece por uma reforma fiscal e pela descentralização. "Os municípios devem ter mais acesso aos recursos, pois estão mais próximos do cidadão. Mas, também, precisam ter mais atribuições."

Como um possível candidato da situação, ele ameniza algumas críticas feitas ao país. "Há desafios, é verdade. Mas se olharmos o Brasil versus outros emergentes, há um certo exagero. Da mesma forma que o Cristo Redentor não estava decolando, ele também não está desgovernado", diz, em referência a dois momentos em que o Brasil tornou-se capa da "The Economist".

Distorções de análise, pondera, são comuns em anos eleitorais, mas alerta que é preciso ficar atento à imagem do Brasil. Mais uma vez, cita a mídia internacional, por causa de uma reportagem do "The Wall Street Journal", que classificou o Brasil como uma nação de forte atuação do Estado. "Não acho que o governo da Dilma seja intervencionista. Ela é muito zelosa e muito cônscia de sua responsabilidade. Às vezes, esse excesso de zelo dá a impressão de intervenção. Mas não creio que a Dilma tenha como ideologia maior presença do Estado na economia. Só que essa história de percepção, às vezes, vale mais que a realidade."

Por isso, vê espaço para avanços no humor geral com a economia. "Dava para melhorar muito com uma única coisa: o ajuste no combustível." Para ele, que chegou a compor o conselho de administração da Petrobras, a distorção deveria ter sido resolvida há tempos. Mesmo tão próximo da campanha, diz acreditar que há tempo hábil para isso. "É melhor o custo que você consegue medir, a inflação, neste caso, do que o que você não vê: toda essa imagem negativa sobre o país."

Como empresário, também aposta no Brasil. Ele projeta que a expansão da Coteminas, depois da operação com a Springs, virá necessariamente do mercado doméstico. Vê espaço para a receita líquida chegar a R$ 3 bilhões em 2016. Mas, apesar de o plano para a companhia estar refeito, a lembrança dos anos após a união com a Springs é amarga. "Foram seis anos de dificuldade econômica nos EUA e seis anos de contínua valorização cambial no Brasil."

Ao ser questionado se está arrependido da fusão, diz que o erro foi outro. "Quando fizemos o negócio, provavelmente já não tínhamos alternativa." A Springs era a única distribuidora de cerca de 60% das vendas Coteminas. Essa concentração, ele não repetiria.

É na história de como se deu a parceria com a centenária companhia americana que atinge o ponto alto de sua narrativa. Percorre o passado em detalhes, com a descrição das salas onde ocorreram as reuniões, os nomes dos personagens e até suas expressões. "Tudo se deu porque eu me recusei a dar o preço de uma toalha."

No início dos anos 2000, a Springs fez à empresa uma encomenda que era o "sonho de todo industrial". Uma única toalha, de uma única cor, num volume que superava toda a produção local, distribuída em mais de 500 tipos de produtos.

O pedido era para atender a ninguém menos do que a varejista Walmart. Ao receber o produto, a rede americana veio ao Brasil e tentou negociar diretamente com Josué, que se recusou, por ter sido a Springs quem lhe abriu as grandes portas do mercado americano - e ainda convidou executivos da parceira americana para o encontro.

No dia seguinte ao episódio, a dona da Springs, Crandall Close, ligou e sugeriu "a tal da aliança estratégica", que acabou selada em 2001.

- O que é aliança estratégica, Crandall? -, perguntou a ela.

- Queremos que vocês vendam nos EUA apenas através da Springs.

- Mas por que eu faria isso?

- Damos uma garantia de mínimos.

- Só isso para eu ficar fora do maior mercado do mundo? Não serve. Mas vamos fazer o seguinte, se você concordar em só comprar da Coteminas, posso pensar em concordar em só vender pela Springs.

Foi a partir do diálogo acima que nasceu a interdependência das companhias e que culminou, cinco anos mais tarde, na "fusão de iguais", que na prática deu o controle da americana a Josué.

Longevidade e tradição. Essas são as palavras eleitas pelo empresário para explicar os pontos fortes do segmento têxtil de cama, mesa e banho, comparado ao de vestuário.

E manter tradição é algo que Josué entende - com forte controle de custos, de preferência. A mão forte do empresário sobre os gastos não é mais uma lenda no universo corporativo. Muito se fala sobre o escritório da Coteminas em São Paulo não ter uma recepcionista. No hall de entrada, só um balcão e uma lista de ramais para o visitante se anunciar. A mais pura verdade.

http://www.valor.com.br/cultura/3558628/o-sobrenome-no-palanque

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Comentário de Romildo de Paula Leite em 28 maio 2014 às 7:41

No hall de entrada, só um balcão e uma lista de ramais para o visitante se anunciar. A mais pura verdade.

Comentário de Antonio Silverio Paculdino Ferre em 27 maio 2014 às 15:01

Tudo explicado, menos o porque filiou-se ao PMDB. Esse partido traiu seu pai na eleição para presidencia do Senado a mando de FHC, elegendo Rames Tabet, um até hoje, desconhecido.

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