Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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PABLO CAPILÉ, o líder da Mídia Ninja, vive entre dois mundos: um pé fora do eixo, o outro dentro do governo

Capilé com a presidente Dilma: para o presidente do PT, Rui Falcão, é "um companheiro" (Foto: VEJA))

CONHEÇA PABLO CAPILÉ, O LÍDER POR TRÁS DA MÍDIA NINJA

Por Helena Borges

Pablo Santiago Capilé Mendes, de 34 anos, vive em dois mundos.

No circuito Fora do Eixo (FdE), nome da comunidade que fundou e da qual é líder com status de guru, ele diz ser politicamente apartidário e defende a independência financeira do grupo a ponto de, dentro dele, fazer circular um dinheiro de mentirinha, o card.

Em visita ao Instituto Lula, foto do seu facebook com a inscrição: "Da série Grandes Encontros"

Em visita ao Instituto Lula, foto do seu facebook com a inscrição: "Da série Grandes Encontros"

A “moeda” serve para “remunerar” o trabalho de cerca de centenas de jovens que moram nas 25 casas do FdE, espécie de repúblicas de muros grafitados onde tudo é de todo mundo — incluindo as roupas, guardadas em um armário único e à disposição do primeiro que chegar.

Já no outro mundo em que vive, Capilé é um “companheiro”, como se referiu a ele o presidente do PT, Rui Falcão, e o dinheiro com que lida não só é de verdade como vem, em boa parte, dos cofres públicos.

O mais recente empreendimento do Fora do Eixo, por exemplo — uma casa inaugurada em Brasília no mês de junho para hospedar convidados estrangeiros e a cúpula da organização –, foi montado com dinheiro da Fundação Banco do Brasil.

A título de convênio, a fundação repassou à turma de Capilé 204.000 reais destinados, segundo sua assessoria, a “estruturação do local, salários de educadores e implementação de uma estação digital”.

Mobilizou ativistas para apoiar Marta Suplicy nas redes sociais

Mobilizou ativistas para apoiar Marta Suplicy nas redes sociais

O Fora do Eixo tem outras duas dezenas de casas espalhadas pelo Brasil em lugares como Fortaleza, Porto Alegre e Belém do Pará. Não tão chiques nem tão bem aparelhadas quanto a de Brasília, elas abrigam, no mesmo esquema da casa de São Paulo, jovens que trabalham voluntariamente para a organização.

Parte deles atua no Mídia Ninja, grupo que ficou conhecido por fotografar, filmar e transmitir pela internet em tempo real os protestos de rua de junho.

Outra parcela, bem maior, trabalha na organização e na divulgação de atividades culturais, como os festivais de música — o negócio mais forte do Fora do Eixo, e o caminho mais curto para o dinheiro público. Para chegar até ele, Capilé conhece bem os atalhos.

Recebeu José Dirceu na casa comunitária onde mora, em São Paulo

Recebeu José Dirceu na casa comunitária onde mora, em São Paulo

Em 2010, durante a gestão do também petista Juca Ferreira no Ministério da Cultura, ele foi nomeado membro do comitê técnico de música do Fundo Nacional de Cultura — entidade que financia projetos com dinheiro do governo e que tem na fila pedidos do próprio Fora do Eixo avaliados em 2 milhões de reais. Esses comitês costumam ter em sua composição representantes de variados movimentos culturais.

Capilé não é o único. Mas é inegável que, desse posto de observação privilegiado, fica bem mais fácil vencer a apertada disputa por recursos públicos. Hoje, outro integrante do FdE é suplente no mesmo comitê. Embora se diga desvinculado de partidos, o companheiro Capilé posa e age como petista. Em sua página no Facebook, aparece com o ex-presidente Lula, abraçado à presidente Dilma Rousseff e em um papo animado com o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.

Tem seu nome em conselhos do governo de Dilma Rousseff e de Fernando Haddad

Tem seu nome em conselhos do governo de Dilma Rousseff e de Fernando Haddad

Mas seu elo com o PT não se resume a fotos com gente importante. Em setembro do ano passado, quando Marta Suplicy foi nomeada ministra da Cultura, ele e os ativistas do Fora do Eixo espalharam elogios sem fim à nova titular da pasta nas redes sociais, sob a hashtag #novoMinc. Nas eleições municipais de 2012, fez campanha para um candidato a vereador do partido em Belo Horizonte, Arnaldo Godoy.

Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Capilé afirmou que o Fora do Eixo movimenta de 3 milhões a 5 milhões de reais por ano, dos
quais no máximo 7% seriam recursos públicos. Uma olhada nas planilhas exibidas na internet, no entanto, desmente a afirmação. Em 2012 entraram no caixa do FdE 627 900 reais em dinheiro de renúncia fiscal e verbas públicas, o que corresponde a 12%, ou 20% da movimentação
financeira do FdE.

Entre as empresas que patrocinam o Fora do Eixo pelo mecanismo da renúncia fiscal, estão a Petrobras, que vem pingando 777 500 reais no cofrinho de Capilé desde 2010, e a Vale, que contribuiu com 160 000 reais em 2011.

Nascido em Mato grosso, o guru do FdE é do tipo eloquente em público e tímido em particular. Passou a adolescência trancado em casa, receoso de expor o angioma na face, doença resultante de má-formação venosa e de difícil controle. Hoje, é admirado por boa parte da comunidade que lidera — para outra parte, uma minoria, é autoritário e de “revolucionário só tem a pose”, como disse um ex-colaborador. Nas casas do FdE, um minuto de tête-à-tête com ele é considerado um privilégio.

DO OUTRO MUNDO -- Casa do Fora do Eixo em São Paulo, onde o dinheiro é de mentirinha e tudo é de todo mundo, inclusive as roupas: guardadas num armário único, são compartilhadas por todos os moradores (Foto: Fernanda Frazão / Folhapress)

DO OUTRO MUNDO -- Casa do Fora do Eixo em São Paulo, onde o dinheiro é de mentirinha e tudo é de todo mundo, inclusive as roupas: guardadas num armário único, são compartilhadas por todos os moradores (Foto: Fernanda Frazão / Folhapress)

Para Capilé, o fato de contar com dinheiro público e os vínculos com empresas não são um problema. “Temos independência porque construímos os meios de produção”, diz ele, referindo-se à mão de obra gratuita fornecida pelos moradores do FdE. Alguns deles deixaram seus filhos para viver na comunidade. Nesses casos, é o FdE que paga a pensão das crianças.

No ano passado, nasceu o primeiro bebê que, segundo o Facebook do grupo, será criado coletivamente. “Benjamin Guarani-Kaiowá”, anunciou alegremente o FdE em um post, “tem mãe e pai biológicos, mas será criado por uma enorme rede, veloz e nômade.  Nasceu on-line com registro midialivrista e será uma construção/experimentação dos novos bandos urbanos”.

Se a turma de Capilé soa assim meio fora do eixo, seu líder não rasga dinheiro — pelo menos não o de verdade.

http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politica-cia/pablo-capi...

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Comentário de José Eudes Pinheiro em 6 setembro 2013 às 9:22

bando de oportunistas. pseudoanarquismo...

Comentário de Romildo de Paula Leite em 6 setembro 2013 às 8:18

Se a turma de Capilé soa assim meio fora do eixo, seu líder não rasga dinheiro — pelo menos não o de verdade.

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