Texto do leitor Raphael Mathias Losito
A receita de hoje é simples: uma lula cega, uma dúzia de robalos graúdos e um polvo.
Pegue a lula e os robalos e deixe-os cozinhando por anos e anos.
Ignore o polvo, ele está aqui por mera formalidade.
Está quase pronto nosso prato.
– Chef, chef! – gritaram.
Uma parte do restaurante escutou o chamado desesperado e olhou para a porta da cozinha.
Logo depois foi ouvido:
– O caldo entornou da panela, Chef! A moqueca já era!
Rapidamente surge o Mestre Cuca dizendo aos clientes:
– Desculpem o barulho, está tudo ok. Nunca antes na história dessa cozinha se fez uma moqueca tão saborosa!
Os presentes no salão se olham e continuam a conversar. Não deve ter passado de um ajudante de cozinha sem experiência se assustando com uma chama que por acaso subiu um pouco mais. O Chef passa a nos trazer torradinhas para passar o tempo e de “croc” em “croc” paramos de ouvir o barulho da cozinha.
– Chef, Chef!” – gritaram de novo, dessa vez mais alto.
Param os “crocs”. Todos atentos.
– Os robalos estão podres, Mestre! O que vamos fazer?
E, achando que as torradas ainda estariam cumprindo sua função, o chef responde:
– Deixa como está, ninguém há de perceber. Preparem mais torradas, coloquem uma música carnavalesca no som ambiente e forneçam uma taça de champanhe para cada um como cortesia.
Dessa vez o clima de preocupação toma os ocupantes do salão. Começam as marchinhas, chegam as taças de champanhe e o restaurante vira um grande baile.
Esqueçam os robalos, não deve ter passado de um ajudante de cozinha inexperiente.
– Chef, Chef! – vem correndo um funcionário suando frio. Os clientes que antes bailavam, agora ficam parados.
– Chegou a Vigilância, Chef! Agora já era, agora já era! – dizia o rapaz.
Na presença da autoridade o Chef responde:
– Do que você está falando, companheiro? Nossa moqueca é magnífica! Nossa lula é referência mundial. Nossa estrela do mar é a mais bela de todas. Nosso polvo é mantido congelado na temperatura ideal.
– E os robalos, senhor? E os robalos? – questionava desesperado o rapaz.
– Nosso robalos são os mais frescos da vizinhança! – afirmou categoricamente o Mestre Cuca, perguntando depois ao vigilante:
– O senhor deseja provar?
O vigilante inspeciona a cozinha e constata que os robalos estão realmente estragados.
– Você não jogou esses robalos fora, companheiro? Eu disse que esses não prestavam! Eu ordenei que fossem descartados! — defendeu-se o Chef.
– Desculpe, senhor. Eu não sabia que os companheiros estavam usando esses robalos podres – disse ele ao vigilante.
Uma grande confusão é instaurada no restaurante. O vigilante leva o ajudante de cozinha algemado e condena os robalos.
O Chef passa ileso. A lula e a estrela não são autuados, continuam sendo referência no restaurante.
Quase, companheiro! Quase que engolimos a moqueca com os robalos podres. Mas se o prato do dia não saiu, ainda temos torradas, champanhe e músicas de carnaval. Se isso não for o suficiente, ainda temos lula e estrela.
"Quase que engolimos a moqueca com os robalos podres. Mas se o prato do dia não saiu, ainda temos torradas, champanhe e músicas de carnaval. Se isso não for o suficiente, ainda temos lula e estrela"
– Companheiros, providenciem um isolamento acústico na cozinha, acendam o fogo e voltemos a cozinhar! Se alguém perguntar o que aconteceu, digam que não houve nada. Ninguém sabe, ninguém viu. Nossos robalos ainda são os mais frescos da vizinhança!
Um brinde à cozinha brasileira.
Comentar
Companheiros, providenciem um isolamento acústico na cozinha, acendam o fogo e voltemos a cozinhar! Se alguém perguntar o que aconteceu, digam que não houve nada. Ninguém sabe, ninguém viu. Nossos robalos ainda são os mais frescos da vizinhança!
Bem-vindo a
Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI
© 2025 Criado por Textile Industry.
Ativado por
Você precisa ser um membro de Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI para adicionar comentários!
Entrar em Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI