Vendi um carro por R$ 60 mil e quero utilizar esse dinheiro para dar entrada em um apartamento. Com as mudanças na remuneração da caderneta de poupança promovidas pelo governo, fico em dúvida entre aplicar esse dinheiro na poupança ou em um fundo DI.
Ricardo Nardini:
Nos últimos dias, tenho visto muitas opiniões sobre as vantagens da caderneta de poupança sobre os fundos de investimento, em função da queda da taxa básica de juros da economia (Selic). Gostaria de abordar aqui um aspecto pouco lembrado pelos especialistas que recomendam aos aplicadores a caderneta de poupança, a despeito da clara vantagem dos fundos de investimento com relação à liquidez.
Muito se fala que a poupança tem liquidez diária, algo com que eu concordo plenamente. Mas os especialistas deveriam alertar os investidores que a liquidez diária da poupança é acompanhada por um rendimento apenas mensal e na data de aniversário da aplicação.
Se você aplicar hoje e resgatar antes da primeira data de aniversário, o rendimento da caderneta não é creditado, ou seja, a poupança não rende nada em um investimento por período inferior a 30 dias.
Além disso, se o investidor resgatar os recursos em datas diferentes da data de aniversário em meses subsequentes, ele terá apenas o rendimento até a data de aniversário imediatamente anterior. Na caderneta de poupança, o crédito de rendimento ocorre apenas mensalmente e qualquer resgate fora da data de aniversário significa perda de rendimento para o investidor.
Os fundos de investimento, por outro lado, têm liquidez diária, assim como a poupança, mas, diferentemente da caderneta, eles geram rendimento diariamente. O investidor pode aplicar hoje em um fundo referenciado DI e resgatar após dez dias sabendo que, muito provavelmente, haverá algum rendimento, mesmo com a incidência de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), Imposto de Renda (IR) e taxa de administração - que não existem para a poupança.
Comparando o fundo com a caderneta, que, em uma aplicação de 15 dias, terá rendimento será sempre zero, matematicamente estamos falando de um rendimento infinitamente superior no caso dos fundos de investimento.
Tomemos como exemplo o caso do investidor que vendeu seu carro por R$ 60 mil e deseja aplicar esse valor para, em algum momento, utilizá-lo como entrada em um apartamento. Muito comumente ocorre que o investidor ainda não escolheu o imóvel que vai adquirir e muito menos sabe a data exata em que dará o sinal ou mesmo pagará a primeira parcela do financiamento.
Se esse investidor demorar 45 dias para decidir e precisar usar os recursos para dar de entrada nesse imóvel, uma aplicação em fundo de investimento referenciado DI seria muito mais vantajosa. Com a taxa de juros Selic a 8,50% ao ano, a poupança rende, em 45 dias, 5,95% ao ano mais a TR. É importante lembrar, contudo, que o rendimento será apenas por 30 dias. Nos demais 15 dias, se o investidor sacar os recursos após 45 dias do investimento inicial, não haverá rendimento. Por outro lado, se esse investidor aplicar em um fundo DI e sacar os recursos após 45 dias, o rendimento será acumulado até o último dia da aplicação.
Sabe o que isso representa no exemplo do investidor que vai necessitar dos recursos após 45 dias? Se a aplicação for em um fundo referenciado DI com taxa de administração de 1%, o saldo líquido no fim (45 dias corridos ou 32 dias úteis) será de R$ 60.429,00. Já se os recursos fossem aplicados na poupança pelo mesmo prazo (cálculo considerando rendimento em 30 dias corridos e a TR sem variação), o valor final seria de R$ 60.289,68 na poupança.
A diferença de R$ 139,32 parece pequena, mas percentualmente é bem significativa, de quase 2% ao ano. Em tempos de taxas de juros menores, 2% ao ano de diferença me parece muito relevante para um investidor, principalmente quando se considera que já foram descontados todos os custos e impostos.
Em resumo, quando o poupador não sabe quando irá utilizar os recursos que ele está investindo, ou mesmo quer aplicar os recursos para ir resgatando à medida que for necessitando, um fundo de investimento referenciado DI, por exemplo, pode proporcionar uma rentabilidade muito mais atraente. Pense nisso antes de investir e avalie quando você vai necessitar dos recursos.
Ricardo Nardini é o responsável pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF) e Gerente Executivo de Certificação e Treinamento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima)
As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou do IBCPF. O jornal e o IBCPF não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: consultoriofinanceiro@ibcpf.org.br
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