Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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A estilista alagoana Martha Medeiros transforma a simplicidade da renda brasileira em peças de luxo que ganharam o país e o mundo

Ainda criança, Martha Medeiros aprendeu a costurar com a avó, e passava as tardes fazendo roupinhas para suas bonecas. Dona Zezé foi professora de arte e sempre se empenhou em ressaltar as riquezas do sertão.

Quando dizia que sonhava estudar na Europa, ela era enfática: “Olhe para as falésias. Isso é moda. Veja a mistura de cores das falésias, que vai do marrom ao terracota, passando por tons alaranjados. A inspiração está aí”, lembra a estilista alagoana que hoje é referência quando se fala no uso de renda na produção de peças de luxo.

Embora tenha deixado a veia da moda em modo stand-by enquanto terminava as faculdades de economia e direito, a estilista aproveitava os intervalos do trabalho em um grande banco para customizar blusas e jaquetas para vender às colegas no horário do almoço.

Mesmo depois de inaugurar sua própria butique, as clientes passaram a solicitar roupas diferentes e logo Martha pôde tornar o sonho de criança em realidade: começou a produzir peças exclusivas em renda, sua grande paixão.

“Foi um trabalho árduo, mas consegui tirar a cara de toalha de mesa das peças, mostrei que existem outras possibilidades de trabalhar com a renda”, acredita. Para isso, a estilista lida diretamente com as cerca de 350 rendeiras de diversas comunidades à beira do rio São Francisco.

Martha leva os desenhos dos modelos para que as rendeiras reproduzam uma peça única nos moldes dos originais. “Resgatei os pontos originais e a nobreza das rendas, que acabaram se perdendo com o tempo. Ofereci um material de qualidade e ensinei como não deixar a renda ter avesso”, afirma.

Além das novas possibilidades de trabalho que proporciona às rendeiras, as criações de Martha ajudaram a resgatar a identidade do artesanato nordestino. “A geração mais nova tinha vergonha de usar renda. Hoje, quando mostro artistas famosas usando minhas peças, com as rendas que elas fizeram, vejo o seu orgulho estampado no rosto”, comemora.

O carro-chefe da marca é a renda Renascença brasileira, totalmente artesanal, que é caracterizada tanto pela delicadeza das tramas quanto pela dificuldade para se trabalhar. Apesar da técnica nacional, o material usado na produção é todo importado: musseline e cetim de seda, rendas, tules, barbatanas e crinol. Para um resultado impecável, o acabamento exige horas de trabalho manual e é acompanhado de perto por Martha.

Essa dedicação é evidente tanto para clientes fiéis quanto pelas instituições de moda mais respeitadas no mundo. Suas peças foram expostas na loja Selfridges, de Londres; no museu dedicado à renda em Calais, na França –  seu vestido de noiva esteve ao lado de criações da Chanel, Valentino e Prada – e estão à venda na loja Bergdorf Goodman, em Nova York.

Com certeza, todos estes feitos deixaram Dona Zezé orgulhosa de sua neta e da cultura nordestina.

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