Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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A arte de fazer rendas veio da Europa, mas é uma das mais significativas tradições do artesanato nacional.

Segundo o Dicionário da Moda de Georgina O'Hara, renda é um tecido com padrão de orifícios e desenhos feitos à mão ou à máquina.

 

Rendas em desfile de Martha Medeiros, no Minas Trend Preview. A tradição da renda está arraigada em nossa cultura

Essa superfície têxtil pode ser produzida de diversas maneiras, mas as mais conhecidas são a renda de agulha e a de bilros. Esta é feita sobre uma almofada circular e um papel grosso, onde está o motivo, e alfinetes se fixam por onde irão passar os bilros (espécie de penduricalhos de madeira) e formar a renda. A de agulha é feita sobre um papel onde se encontra o motivo, somente com agulha de bordar e linha.

 

A renda faz parte da indumentária popular e não se sabe sua origem exata. Diversas nações a revindicam, mas não há comprovação material e documental que defina realmente um lugar de nascimento dessa prática artesanal. Uma parte dos especialistas acredita que a renda é uma derivação do bordado. Outra parte prefere indicar a descendência da renda como advinda de práticas manuais de entrelaçamento como o crochê e o macramê. Diz-se que a renda de bilros surgiu em Flandres, hoje região que abarca parte da Holanda e Bélgica, e a de agulha, na Itália.

 

Não se sabe a sua origem exata. A renda pode ter sido originada do bordado, ou então de técnicas manuais de entrelaçamento.

 

Foi Veneza quem espalhou a tradição da renda por todo o continente europeu. Com o advento da moda no final da Idade Média, esta era uma das cidades mais luxuosas e elegantes. Mas o amplo uso da renda na corte de Luís XIV da França em roupas femininas, masculinas e nas roupas de baixo de ambos os sexos fez com que ela ficasse associada fortemente a esse país. A Revolução Francesa, em fins do século XVIII traz o repúdio às modas aristocráticas de corte, o que faz cair drasticamente o uso da renda pela nova elite burguesa.

 

E no Brasil?

 

Por aqui, a cultura da renda está presente nos primeiros conventos e reclusões desde o século XVI. A tradição da renda está ligada à maneira de compreender o feminino desde tempos coloniais. Acreditava-se que preencher os dias com afazeres domésticos desviava a atenção das moças de pensamentos mundanos e também as preparava para fazer, ao longo da vida, os trabalhos ditos femininos. 

 

Durante o século XIX, quando há mais contato - por causa da chegada da corte portuguesa - e os modelos franceses de elegância chegam ao país via livros, revistas e jornais importados, modelos de renda, bem como receitas para fazê-las, são trazidos de fora. Com este material em mãos, as mulheres tiveram acesso tanto aos padrões de moda francesa quanto ao como fazer, de que maneira construir essa moda. A renda, neste cenário, é algo fundamental na vida feminina, pois ela tanto é  um meio de passar o tempo, quanto pode render algum dinheiro. Ela constrói a elegância enquanto mata o tempo ocioso. A renda estava em alta e seu uso cotidiano se dá em roupas da moda feminina e roupas brancas (roupas de baixo - lingerie).

Renda de bilros em processo de fabricação

Notadamente nas classes populares, sobretudo no Nordeste, a cultura da produção de renda de bilro se desenvolveu em comunidades que pescavam e que, portanto, já tinham intimidade com entrelaçamentos, pois produziam suas redes para a pesca. Destacam-se, ainda hoje, a produção rendeira dos estados do Alagoas, Bahia, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará.


Santa Catarina também é outro local forte para a tradição da renda de bilros no país, associado ao ensino tradicional de mãe para filha, em pequenas comunidades. 

 

Hoje,  viver só de fazer renda é difícil, pois é um ganho incerto. E é uma atividade considerada feminina, assim como as atividades domésticas (cozinheira, merendeiras, faxineiras etc.). Essas constatações fazem parte da pesquisa de Bianca do Carmo Matsusaki, pesquisadora das rendas no Nordeste na pós-graduação em Têxtil e Moda da EACH-USP. Segundo Bianca, "Essa revolução feminina, esse afastamento das atividades de cunho doméstico e a busca por novas posições no mercado de trabalho, somados à industrialização da fabricação das rendas, são fatores que contribuíram significativamente para a diminuição de tal atividade na atualidade. Contudo há ainda mulheres que encontram prazer e sustento na atividade de fazer renda."

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