Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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REYNALDO-BH: “Nada do que vi e vivi sob a ditadura militar foi para ter grupos de quadrilheiros incrustados no poder novamente”

o leviatã

Post do LeitorPost do leitor e amigo do blog Reynaldo-BH

—Meninos, eu vi!

E vivi. Este certamente é meu último comentário sobre o golpe da ditadura de 1964.

Eu vi um país sem rumo. Vi jovens sem esperança. Vi uma população apoiando o que era a própria sentença de morte.

Eu vivi o desespero das prisões sem acusações. Dos desaparecidos sem explicação. Do sangue – real – sem disfarces.

Vivi o medo. O embrutecimento. A adesão de muitos à força bruta. A ameaça como instrumento de censura. A censura como instrumento da ignomínia.

Os controles de aparelhos nas empresas estatais e ministérios. A meritocracia abandonada em nome da fidelidade abjeta dos que tinham no poder a única alternativa para as próprias vidas miseráveis.

Vi análises errôneas que levavam a um ainda maior terror. Nunca me rendi a um “acordo”. Só queria que o que havia perdido, a DEMOCRACIA retornasse. Aprendi da pior forma o valor da democracia, do mérito e do respeito às normas constitucionais que fazem uma nação. Mesmo quando os autores são canalhas e os responsáveis pela aplicação, covardes.

Vi minha mãe chorando e meu pai escondendo as lágrimas em algum lugar que era só dele.

Sei – vivi – o que é torturar um homem que acredita acima de tudo, em Deus. E nada o fez duvidar – como eu duvido – desta crença.

Ainda tenho alguém a enterrar que não sei onde está. Nunca soube.

Mas vivi – e neste caso, VI – meu pai pendurado pelo pescoço no tombadilho de um navio. Por acreditar que o Evangelho valia mais que qualquer outra lição, filósofo que era.

Perguntam-me se meu antipetismo não se choca com meu passado.

Não. Faz justiça a ele.

Nada do que vi e vivi foi para ter grupos de quadrilheiros, controle social da imprensa, aparelhamento dos organismos sociais (UNE, CUT, Comunidades de Base, etc.) incrustados no poder novamente.

Lutei a boa luta, disso tenho certeza.

Desejei somente (e desejo) para minha filha – sentido maior de minha vida – um país onde a LIBERDADE e CIDADANIA fossem valores basilares. Essenciais. E desejados.

Não imaginei que ao fim da caminhada teria que me confrontar com os mesmos pesadelos, como em um moto contínuo tenebroso.

Não sou radical. Só tenho pressa.

Descobri que a vida é curta.

Muito breve.

Que lutamos contra o inevitável.

Mas que temos obrigação de lutar contra o previsível. Mesmo que este seja uma sombra que insiste em retornar.

Jamais serei uma “viúva da ditadura”. Mas também não serei um servil capacho de poderosos. Sejam estes quais forem.

Nada há de heroico nisto. Somente a sensação de poder se olhar o espelho. E se ver para além de si mesmo. Enxergar meu pai, irmão, minha mãe e ver ainda o futuro de minha filha.

A vida é muito curta e o tempo, impiedoso.

Mas no meio deste viver, existe um sentimento de dignidade que faz ter compromissos comigo mesmo. Com Jojo. Ou com quem já se foi.

Tenho pressa. Sim, não tenhamos pressa, mas não percamos tempo.

Meu tempo pode estar se indo. Mas o que vivi (e vivo) me fazem ter mais tempo do que pensei ter.

Meninos, eu vi! Vivi. E vivo.

Com a certeza de que, se errei, foi por avaliação errada. Jamais por desvio de caráter ou adesismo aos que se julgam donos de todas as verdades.

Só tenho uma: jamais deixei de honrar meu pai e de lutar pelo futuro de minha filha!

PS: para as joanas… uma filha e outra que me ensinou a ser mais aberto para a vida.

http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politica-cia/reynaldo-b...

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