Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Comércio fica de cara nova. Redes em alta substituem negócios que dependem de crédito.

A loja de eletrodomésticos virou drogaria, onde se viam colchões, agora são vendidas malas, a concessionária deu lugar a uma pet shop. A recessão, que deixou um rastro de negócios fechados no varejo carioca, provocou outro fenômeno: um troca-troca no setor, em que redes em expansão assumem imóveis abandonados por quem foi mais afetado pela crise.

A substituição, porém, não é suficiente para conter os números negativos. Segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), feito a pedido do GLOBO, o Rio fechou 4.524 lojas em 2016, já descontando os pontos de venda abertos no ano passado. O saldo é bem pior que o registrado no ano anterior, quando ficou negativo em 2.939.

Confira o mapa interativo e veja quantas lojas fecharam no seu bairro

Os números retratam o momento difícil pelo qual passa o comércio, mas também ajudam a explicar o apetite das empresas dispostas a ocupar parte desses espaços vazios, por um preço menor. O aumento de lojas vazias contribuiu para derrubar o valor do aluguel comercial na cidade que, de acordo com o Índice FipeZAP, recuou 14,4% no ano passado, intensificando a queda de 11,69% do ano anterior.

Segundo Fabio Bentes, economista da CNC, embora a recessão não tenha poupado quase ninguém, cada segmento sente seus efeitos em graus diferentes. Isso interfere na decisão de expansão.

— Um setor que a gente não pode dizer que está em crise é o de farmácia e perfumaria. O consumidor deixa de trocar de carro, não compra geladeira nova, mas não deixa de comprar remédio. Além disso, esse segmento colheu os frutos de uma boa gestão de custos. Já os que dependem de crédito, como eletrodomésticos, sentiram mais — afirma Bentes.

O consultor de varejo Marco Quintarelli resume o movimento:

— Algumas redes veem que o aluguel não está justificando. É essa dança das cadeiras. Sai da mão de um e vai para a de outro.

Em Copacabana, uma dessas trocas de fachada evidencia o contraste entre dois segmentos. Em janeiro, a rede de drogarias Venâncio abriu uma unidade numa loja que estava fechada ao menos desde o fim de 2015. Antes, era ocupada pelo Ponto Frio. A nova farmácia é, segundo a própria empresa, a maior do país, com mais de 30 mil produtos.

As duas redes estão em direções opostas de crescimento. Entre 2015 e 2016, a rede de lojas da Venâncio cresceu de 25 para 42 unidades, segundo dados disponíveis no site da empresa e em levantamento da Associação Brasileira de Farmácias e Drogarias (Abrafarma). Já o Ponto Frio fechou 28 lojas no ano passado, de acordo com os balanços mais recentes da Via Varejo, dona da rede. A Venâncio não quis comentar a abertura de lojas.

— As drogarias tradicionais, que só vendem medicamento, estão fechando. Mas a Venâncio, por exemplo, trabalha com muitos itens de cosméticos. A Pacheco vai na mesma linha. E elas acabaram crescendo por isso. Elas tomaram um pouco o espaço dos tradicionais mercados e supermercados — avalia Claudio Goldberg, coordenador de varejo da Fundação Getulio Vargas (FGV).

CHANCE DE NÃO PAGAR LUVAS

No mesmo endereço, havia uma unidade do Ponto Frio


Outras marcas também viram oportunidade de fazer bons negócios em pontos fechados. Em Bonsucesso, uma Sonobello deu lugar a uma Bagaggio. Segundo Antonio Villarejo, da Bagaggio, a oportunidade veio por meio de um corretor de imóveis, que sabia que a marca estava interessada na região e em expansão — no ano passado, abriu 17 lojas e fechou uma. A empresa acabou acertando um pacote: assumiu aquele e pelo menos outros cinco pontos da loja de colchões.

— Soubemos que a Sonobello está encolhendo, fechou muitos pontos, passa por um período de dificuldade. A gente adquiriu alguns pontos dela, com valor abaixo dos contratos antigos. Tenho fechado aluguéis na proporção de metade do preço — afirma Villarejo.

Segundo o executivo, também já é possível encontrar oportunidades sem a cobrança de luvas — um valor fixo cobrado pelo proprietário para alugar um imóvel. Hoje, a marca tem 60 unidades.

— A gente consegue carência em lojas antigas, de ramos que não estão bem, empresas que estão endividadas. Em relação à luva, depende do caso. Antigamente, isso era sempre cobrado, mas vem mudando com a crise — explica.

Na Barra da Tijuca, outra mudança de cenário chama a atenção de quem passa: uma concessionária da JAC Motors na Avenida das Américas, principal via do bairro, foi convertida em uma unidade da rede de pet shops Petz. A montadora explica que não se trata de uma redução do número de lojas, mas sim uma mudança de endereço, já que a operação foi transferida para a Estrada do Gabinal, no bairro de Jacarepaguá, a cerca de 15 minutos do antigo ponto. Segundo a empresa, o valor do aluguel da antiga loja foi um dos pontos considerados, mas não o único. Também pesou a vantagem de aproximar a unidade de clientes.

Para Sergio Zimmerman, presidente da Petz, o negócio foi uma oportunidade rara. Segundo ele, dificilmente o ponto, considerado nobre, ficaria disponível em tempos de expansão da economia.

— O que a gente sente é que estão aparecendo oportunidades que, com o mercado aquecido, não apareceriam. Quando o mercado está aquecido, ninguém sai dos pontos bons. Conseguir esse espaço na Barra é totalmente fruto da recessão econômica — afirma o executivo, que não sentiu redução no valor do aluguel.

Na avaliação de Mauricio Nogueira, diretor de operações do Grupo Albero, que controla a rede de produtos naturais Via Verde, alugar agora é uma decisão que vai render frutos daqui a um ou dois anos, quando a economia se recuperar. A marca abriu três lojas no Rio no ano passado e deve inaugurar mais duas em 2017.

— Estamos vendo a saída de algumas lojas importantes que até então eram pontos inegociáveis. O momento do mercado está ruim. O que a gente está vislumbrando é uma oportunidade para daqui a alguns anos.

COMÉRCIO TRADICIONAL DÁ LUGAR A FRANQUIAS

No mercado imobiliário, esse movimento já foi sentido. Segundo Claudio Castro, diretor da Sérgio Castro Imóveis, embora as trocas de marcas famosas chamem mais atenção, é mais comum que grandes redes assumam negócios tradicionais, menos resistentes à recessão.

— Negócios familiares têm dado lugar para grandes. Tenho aqui 15 imóveis de comerciantes tradicionais que nos contrataram para alugar a loja para grandes marcas — conta o empresário.

Uma das empresas atentas a esse momento é o Grupo Trigo, que controla as redes Spoleto, Domino’s e Koni. Recentemente, a empresa abriu uma loja em Madureira, onde antes funcionava uma pequena barbearia. O líder em expansão da marca, Carlos Eduardo Viana de Melo, explica que há casos em que o contato é feito com o próprio comerciante, interessado em converter o negócio em franquia da marca. O plano da empresa é abrir mais 65 franquias.

— Antigamente, era muito difícil conseguir um bom ponto em regiões em que a gente queria estar, com o custo de ocupação razoável. Nos últimos dois anos, a gente conseguiu ter uma melhor negociação com os proprietários de imóveis e aproveitar a alta vacância — explica o executivo.

Para o diretor da Associação Brasileira de Franchising, Clodoaldo Nascimento, o momento é propício para a expansão de franquias.

— É um momento bastante atraente. As oportunidades de lojas de rua estão na frente em relação ao shopping. Muitas vezes você acaba lidando diretamente com o proprietário, que tem a oportunidade de não cobrar luvas e fechar um aluguel bastante reduzido — destaca.

Fonte: O Globo

http://onegociodovarejo.com.br/rio-perde-4-524-lojas-em-2016/

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