Sem preliminares, mas o básico bem feito

[Ivan Postigo]

Conta um amigo que, não só nunca tinha esquiado, jamais estivera em uma estação de esqui.

 

Alguns acontecimentos favoráveis permitiram que fizesse uma poupança e, assim que conseguiu férias, resolveu realizar o sonho.

 

 Chegando ao local, alugou as melhores e mais coloridas roupas que pode encontrar, e os apetrechos mais adequados para “vender a imagem” de grande atleta.

 

Evitava zanzar muito para que as pessoas não percebessem que aquilo tudo era apenas imagem.

 

Estava distraído, olhando os esquiadores que passavam, de costas para uma ladeira, quando uma mãe com dois garotos se aproximou e perguntou se estes poderiam tirar uma foto com ele. Naquele momento teve uma certeza: o plano funcionara. Sua exuberância tinha sido reconhecida.

 

Enquanto se deliciava com o fato, a mãe, dirigindo-se aos garotos, disse: - Fiquem ao lado do campeão, vou tirar uma foto.  Os meninos se aproximaram e o menorzinho, com dificuldades de caminhar na neve, se apoiou em sua perna. Naquele momento sentiu algo estranho e se deu conta que se movia. Estava indo ladeira abaixo e na pior das posições: de costas.

 

Mal havia começado a descida quando se estatelou no chão, indo uma peça para cada lado. Esqui, gorro, óculos, e tudo que não estivesse bem preso!

 

A mãe, rindo, pegou os garotos e, como se tivessem criado asas, “voaram” dali.

 

Desolado, morto de vergonha, procurava não olhar para ninguém e só pensava: “Lá se foi o campeão à m...”

 

Ele sempre me fez prometer que se um dia escrevesse sobre isso eu colocaria a sua frase, afinal um desastre como esse não pode ficar sem um grande desabafo.

 

 Bom, promessa cumprida: está ai frase.

 

Do acontecimento, algumas lições puderem ser tiradas, pois trabalhando juntos e implantando sistemas começamos a notar nos departamentos muita agitação e poucos resultados.

 

Os lançamentos contábeis, com muitos e seguidos erros, provocavam debates, mas nenhuma medida preventiva. Parecia que as pessoas e o computador não tinham memória. Surgiu na época um jargão para tratar o tema: “Nosso mainframe não tem memória, apenas uma vaga lembrança”.

 

A programação de produção, executada sem planejamento, era um desastre. Chegavam a programar ordens de produção sem material em estoque.

 

A tomada de empréstimos e desconto de duplicatas provocava uma surpresa a cada dia. A projeção de caixa não era confiável e a contabilidade não servia como instrumento de gerenciamento.

 

E assim, outras questões eram tratadas, mas esperava-se que o novo software produzisse o milagre.

 

Foi em um desses momentos que meu amigo resolveu, em uma parada para o café, contar a história e convocar todos a usar roupas mais sóbrias e aprender a esquiar.

 

Tomamos uma decisão e ele foi enfático: - Aqui interrompemos a implantação. Primeiro vamos fazer com que as pessoas trabalhem certo e com continuidade.  Da forma como está só vamos trocar as caixas dos entulhos. Não vai demorar para que culpem o novo sistema pela desordem.

 

Não faltavam planilhas e relatórios, enviados a todos e espalhados pela empresa, sob a bandeira que a falha estava na tomada de decisão. Era a partir desse ponto que os projetos encalhavam.

 

Na verdade, a decisão mais importante foi a da racionalização. O excesso de números não ajudava, apenas confundia, e muitos não estavam corretos.

 

O projeto foi um sucesso a partir do momento em que todos resolveram “começar pelo começo”.

 

Esse amigo sempre brincava dizendo: aprenda a esquiar, antes de colocar roupas coloridas e ficar de costas para a descida. Aprender e fazer o essencial vai livrá-lo de grandes enrascadas. Não importam as preliminares, se você não faz o básico bem feito!

 

Ivan Postigo

Diretor de Gestão Empresarial

Postigo Consultoria Comunicação e Gestão

Fones (11) 4526 1197 / (11) 9645 4652

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Twitter: @ivanpostigo

Skype: ivan.postigo

 

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