Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Um Passeio com Diane von Furstenberg, a Mulher Atrás do Mito

Diane von Furstenberg: a jornada de uma mulher independente, confiante e forte, como queria ser ao chegar aos Estados Unidos vinda da Europa

Diane von Furstenberg - estilista, ativista dos direitos da mulher, mito - tem uma vida que se presta à metáfora. Disso ela sabe.

Ela intitulou seu desfile de 2009 em Moscou "Journey of a Dress" ("Jornada de um Vestido"), por exemplo, porque ele contava a história não apenas da sua "evolução estética" (desde a invenção do vestido "wrap", transpassado, em 1974, aos 28 anos, até sua atual coleção, muito mais ampla), como também de sua evolução pessoal - da jovem esposa recém-chegada da Europa a Nova York, até os anos da explosão de sua fama, seu período no Studio 54, a maternidade, o divórcio, o novo casamento, o novo sucesso e assim por diante. Ela diz muitas vezes que sua história de vida foi "a jornada de uma mulher". Em vista disso, não deveria ter-me surpreendido, na verdade, que, quando eu lhe perguntei qual era seu hobby preferido, ela disse, de fato, "fazer jornadas".

Tudo bem, ela, na verdade, disse "fazer caminhadas", mas as duas coisas não são tão diferentes. Uma caminhada, afinal, é apenas um tipo mais curto de jornada: um processo de se deslocar de um ponto para outro com seus próprios meios. DVF, como ela tende a ser chamada, faz tudo com seus próprios meios.

Ela diz muitas vezes - e me disse, quando nos encontramos em outros tempos - que não sabia o que queria fazer como uma jovem mulher, mas que sabia o que queria se tornar: independente, confiante e forte. O vestido "wrap", para ela, foi simplesmente um meio para esse fim: quando seu primeiro marido, o príncipe Egon von Furstenberg, trouxe-a da Europa para Nova York, ela achou que precisava de alguma coisa para fazer. Diante disso pediu a uma amiga que tinha uma fábrica na Itália que confeccionasse rapidamente um vestidinho para ela. De fato, ela está escrevendo atualmente uma coleção de ensaios intitulada "The Woman I Wanted to Become" ("A Mulher Que Eu Queria Me Tornar", em tradução livre). Não espanta que sua jornada literal reflita a jornada de sua vida: é o tipo de passado que não requer qualquer ajuda de alguém, ou mesmo muita coisa em termos de equipamento.

DVF começou a caminhar quando menina, durante sua infância na Bélgica. "Eu tinha uma boa amiga e ela tinha um cachorro; íamos caminhar na floresta", diz ela. Mais tarde, no internato em Oxfordshire, "eu caminhava ao longo do rio. Nunca fui muito de esportes de equipe - eles não são tão importantes na Europa -, e sim de atividades mais independentes, como natação, esqui ou caminhada". Ela diz que descobriu pela primeira vez que adorava caminhar na ilha italiana de Ponza, onde um longo percurso separa a cidadezinha do farol. Mas ela não começou a fazer caminhadas a sério, na verdade, até comprar sua casa em Connecticut, aos 26 anos. Chamada Cloudwalk, é o lugar, no mundo inteiro, em que ela mais se sente em casa.

Também é o lugar em que quer me levar para caminhar. Começo minha jornada numa manhã de sábado.

A área e Connecticut em que Cloudwalk está situada (Diane herdou o nome da proprietária anterior da casa, Evangeline Johnson, da família controladora da Johnson & Johnson) é densamente povoada por pessoas da moda. Oscar de la Renta e sua esposa, Annette, moram a cerca de dez minutos de distância, e vão com frequência à casa de Diane para assistir filmes. O estilista Bill Blass morava nas proximidades e a ex-crítica de moda do "New York Times" Amy Spindler também tinha uma casa de fim de semana à beira de um lago próximo. Não se trata de uma coincidência: todos eles foram atraídos para a região depois de visitar o legendário artista e diretor de arte de revista Alexander Liberman e sua esposa, Tatiana, que tinham uma casa de campo nas redondezas. DVF não é exceção.

"Fui visitá-los", diz Diane. "Eu tinha acabado de me separar de meu marido, e tinha dois filhos pequenos." (Seu filho Alexander e sua filha Tatiana, atualmente de 42 e 41 anos, respectivamente, têm, por acaso, os mesmos nomes de batismo que os Liberman) "Achei que precisava de um lugar para criá-los. Pensando nisso, encontrei um corretor na lista telefônica, liguei para ele e disse que estava interessada em uma casa naquela região. Ele me enviou algumas fotos de vários lugares e, num fim de semana, fui com minha mãe e Kenny Lane [o estilista de joias], porque eu precisava que ele dirigisse - eu não dirigia na época -, demos uma volta e vimos essa área, e eu gostei porque havia nela muitas pequenas casas. Antes ainda de sair da via de acesso à garagem, eu já tinha concordado em dar uma entrada de US$ 10 mil."

DVF comprou o imóvel, que tem cinco construções, pouco antes de seu 27º aniversário, por US$ 200 mil. Desde então ela incorporou lotes de terreno bem como uma fazenda vizinha. Possui agora pouco menos que 47 hectares, nos quais ela tem um apartamento para ela e o segundo marido, Barry Diller (embora "apartamento" não chegue nem perto de descrever a construção, semelhante a um loft, que inclui uma enorme biblioteca/escritório/sala de projeções, um dormitório adornado com pintura mural do céu e das árvores semelhante a afrescos e os banheiros dele e dela); uma casa principal para hóspedes e jantar; casas menores para o filho e a filha dela; uma casinha de caseiro; e um celeiro que DVF quer transformar numa piscina coberta "para quando eu for velha". Há também galinhas, uma horta e 120 macieiras. DVF acabou de quitar seu contrato de crédito imobiliário em 31 de dezembro de 1999, como "um presente de virada de milênio para mim mesma".

Foi em Cloudwalk que ela criou o filho e a filha, que ela trouxe de Nova York para a fazenda quando eles estavam da 6ª à 8ª série do ensino médio. "Foi o ano [1977] em que a filha de Calvin Klein foi sequestrada", diz Diane, "e eu queria um lugar em que as crianças pudessem viver em liberdade". A fazenda é um lugar, diz ela, em que ela viveu "muitas vidas". "As crianças eram pequenas, as crianças ficaram maiores, as crianças foram embora, os netos chegaram. Há um homem, há outro, há um marido." Mas, no decorrer de tudo isso, havia a terra, e ela caminhava.

Na verdade, DVF caminha todos os fins de semana, onde quer que esteja. Ela percorre frequentemente o trecho do caminho dos Apalaches perto de Cloudwalk, embora desde seu casamento com Diller, em 2001, uma vez por mês, ou uma vez a cada seis semanas, ela e Barry peguem seu barco e caminhem em qualquer ilha perto da qual estiverem navegando. "Tirando as Bahamas e as Maldivas, qualquer ilha é um lugar para caminhar", diz ela.

"Nós dois ficamos muito satisfeitos de estarmos sozinhos", continua ela. "Gostamos de fazer coisas por conta própria. Mas nesta estrada, depois que fazemos a subida, conversamos na descida." Não que seus caminhos tenham de ser tão exóticos; ela também faz caminhadas em suas próprias terras. Passou anos, diz, andando por Cloudwalk à procura do lugar em que queria ser enterrada. "Comecei quando tinha 26 anos", observa. Encontrou-o alguns anos atrás - uma colina isolada próxima a um campo localizado do outro lado do bosque em relação aos prédios principais da casa - e conseguiu autorização do Estado para seu uso. Atualmente, ela está construindo um "jardim de meditação" com muros de pedra sinuosos em torno do espaço. Ela achou que gostaria que ele fosse todo fechado, mas agora não tem tanta certeza; poderá deixá-lo aberto na parte que dá para o declive descendente a fim de abarcar a vista.

"Liguei para meu filho outro dia e lhe disse que queria ser enterrada de bruços, porque é assim que durmo", diz ela. "Mas agora acho que mudei de ideia: acho que quero poder ver a vista."

A caminhada em que ela decide me levar não fica na propriedade dela, no entanto, fica em New Preston, uma cidade próxima famosa por ser o lugar em que foi filmado "Sexta-Feira 13 - Parte 2". O caminho, que dá em Pinnacle Rock, sobe a partir de uma estrada na encosta até uma vista de 360 graus. DVF dirige até o início do caminho em seu Bentley (ela gora gosta de dirigir) e estaciona na base. Ela trouxe água Evian e varas de esqui para usar como cajados de caminhada e veste jeans de sua marca própria - a desta temporada, branca com uma estampa de flor preta, que consegue ter uma vaga aparência de semelhante a zebra- e botas de caminhada Loma, embora ela diga que normalmente faz caminhadas de leggings: "Quando a coisa fica difícil, é bom ter as pernas cobertas". Ela diz também que escolheu essa caminhada porque não é difícil demais, e por isso é boa quando se vai com pessoas cuja capacidade se desconhece. (O que seria eu; embora eu tenha, no meu passado, caminhadas pelas montanhas do Nepal e caminhadas de um dia nos Alpes, isso nunca foi mesmo mencionado em nossas conversas até aqui, centradas principalmente nas coleções dela.)

Alguns anos atrás, DVF e Diller fizeram o Caminho dos Incas, no Peru. "Havia cerca de 17 pessoas", diz ela. "Não tínhamos o barco naquele ano, por isso Barry organizou toda a viagem. Fizemos o caminho em um dia, depois fizemos rafting, e, sabe como é, a primeira coisa que te contam no bote é que, se você cair, é para simplesmente ficar de costas e deixar-se levar pela correnteza até eles conseguirem te pescar. Subimos no bote e - bumba! - a primeira coisa que vejo é Calvin [Klein, que estava na viagem] caindo. Pensei 'ai, não, ele vai morrer, vai ser nossa culpa!' Mas ele foi tão corajoso, ele foi ótimo. Muitas das outras pessoas que estavam na viagem tinham se sentido intimidadas com a presença dele, mas depois disso ele virou herói."

Uma semana depois da nossa caminhada, DVF iria para a Índia para falar num simpósio do "Hindustan Times" e depois para o Nepal, onde fará uma caminhada ao acampamento base do Everest (acha ela) com o estilista americano Prabal Gurung, criado em Katmandu. Uma de suas caminhadas preferidas é a subida do vulcão italiano Stromboli (também fiz essa: pode-se olhar para dentro da cratera fumegante.)

As caminhadas, diz ela, "são sempre uma aventura: a gente sempre se perde ou alguma coisa dá errado". Uma vez ela e Barry estavam fazendo uma caminhada na região Balear da Espanha e não conseguiam achar a descida. "Toda vez que subíamos a montanha, havia mais montanha. Minhas botas estavam caindo aos pedaços e as tínhamos emendado com uma bandagem, e Barry estava ficando muito bombardeado; eu cheguei a pensar 'pois é, vamos ficar encurralados aqui durante a noite'", diz ela. "Mas, no fim, conseguimos voltar para o barco". Ela não tem medo de muita coisa, e impõe um ritmo veloz.

"Caminhar é meu tempo para pensar", diz ela para justificar por que ela gosta tanto da atividade. "Gosto de subir - sou uma cabra, uma capricórnio. Também acho que é uma boa maneira de conversar com as pessoas. Quando meu filho era pequeno, dizia: 'Mamãe sai para andar por dois motivos; ou para contratar ou para demitir alguém'. É verdade, eu muitas vezes peço às pessoas que caminhem comigo quando quero conversar com elas sobre coisas sérias. Acho que é muito melhor ter esse tipo de conversa quando você está se deslocando. No trabalho, às vezes levo pessoas para caminhadas na High Line, que é bem perto do meu escritório - muitas vezes, se for uma pessoa jovem e estamos tendo uma discussão sobre carreira, por exemplo. A caminhada põe elas à vontade, e é de uma extensão finita."

Quando Diane caminha, não para para examinar árvores, colher flores ou comungar com a natureza: ela é orientada pelo objetivo, que é o pico. Quando chegamos ao topo - uma pedra chata com uma vista panorâmica da zona rural das proximidades -, ela se senta e suspira. Abaixo de nós fica o Lago Waramaug. "Aquela era a casa de Amy [Spindler]", diz ela, apontando para uma casa à beira d'água. Spindler morreu em 2004 de um tumor no cérebro. "Viemos aqui para aspergir as cinzas dela. Penso nela mais do que a maioria das pessoas, talvez, por causa deste lugar, e porque ela significava muito para mim. Quando eu relancei minha empresa em 1997, e estava muito insegura e me sentindo muito insignificante, seu entusiasmo me ajudou enormemente." Ela se volta e olha em outra direção, para outro ponto de sua vida.

"Meu filho corria em torno desse lago quando ainda estava na escola: 12,8 km", diz ela, e se volta de novo. "A água é muito boa para nadar; faz seu cabelo parecer maravilhoso. É como nadar na água da chuva." Ela se volta de novo, retomando o percurso, e começa a descer a montanha, instigada por seu próprio impulso para o futuro, enquanto nós nos limitamos a correr atrás.

Fonte:|http://www.valor.com.br/cultura/2656884/um-passeio-com-diane-mulher...

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