Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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O que aconteceu na empresa na semana que antecedeu a queda do presidente executivo

 

Editora Globo
Época NEGÓCIOS teve acesso à mensagem enviada por Roger Agnelli para evitar a paralisação das atividades
 

A mensagem acima, escrita por Roger Agnelli, então presidente da Vale, piscou na tela do computador de todos os funcionários da mineradora às 12h13 do último dia 24, uma quinta-feira. Foi a maneira encontrada pelo executivo para tentar matar na origem uma ideia que ganhava corpo em algumas unidades da empresa pelo Brasil: a paralisação das atividades. “Avisamos ao Roger que os funcionários armavam uma greve relâmpago no dia seguinte, em repúdio à ingerência política na companhia”, conta um diretor da mineradora. A pressão do governo, naquela semana, seria decisiva para a saída de Agnelli da presidência da Vale.

 

No dia 23 de março, vinte quatro horas antes do email de Agnelli aos seus comandados, o Congresso cobrava do ministro Guido Mantega explicações sobre o teor de sua reunião com Lázaro Br..., presidente do conselho do Bradesco. Cabe lembrar que o banco detém uma boa fatia da Vale e, graças a um acordo de acionistas, responde pela indicação (ou manutenção) do presidente executivo. Na tal reunião, Mantega teria pressionado Brandão a entregar imediatamente a cabeça de Agnelli, visto como uma pedra no sapato do governo desde o mandato de Lula.

 

+ Da revista: Há sucessor para Agnelli?

 

Até aquele momento, era o Bradesco de Brandão que havia segurado Agnelli. E não sem motivos. Agnelli formara-se nos quadros do banco, havia se tornado o mais jovem executivo a assumir uma posição na diretoria da instituição e desfrutava de grande prestígio junto ao seu “Brandão”, o que lhe valeu a indicação para presidir o conselho da Vale pós-privatizada e, posteriormente, o comando executivo da mineradora. Em dez anos de gestão, Agnelli levou a empresa a resultados sem pre.... Mantê-lo no cargo, então, era um movimento óbvio do ponto de vista meramente financeiro: o homem gerava gordos dividendos aos acionistas e aos investidores. Mas a falta de traquejo político nos dois últimos anos enfraqueceu Agnelli. Numa companhia em que poderosos braços federais como Previ e BNDES detêm a maioria das ações da Valepar (a holding que controla a Vale), a diplomacia política é atributo tão ou mais importante que a capacidade de gerar resultados. Nem seu Brandão poderia evitar a queda de Agnelli.

 

No dia seguinte ao email apaziguador, os funcionários da Vale não pararam as máquinas. Mas usaram roupas pretas. Em vão. Um semana depois, a Vale anunciava que seu presidente executivo seria substituído.

 

O comunicado foi enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) na.... “O clima aqui está péssimo. Fizeram um linchamento corporativo, violaram a governança e acabaram com a meritocracia”, afirma outro diretor. “Hoje, existem 30 executivos dispostos a deixar a Vale caso a interferência federal continue nesse nível”. O executivo diz que o governo conseguiu o que queria: transformar a Vale, novamente, em brinquedinho da União. “O governo rasgou o acordo de acionistas. Agora é o ministro da Fazenda quem vai indicar o novo presidente e não mais o Bradesco”.

 

Eis um ponto que pode trazer conseqüências jurídicas: a suposta violação do acordo de acionistas. Executivos do banco Opportunity, por exemplo, já teriam manifestado certa irritação por não terem sido avisados da mudança. Embora tenha apenas 0,03% das ações da Valepar (por meio da Elétron), o banco é signatário do acordo de acionistas. Teria, em tese, de ser ouvido no caso. “Além disso, há a possibilidade de os investidores individuais entrarem com ações de perdas e danos contra o conselho e os controladores caso haja desvalorização da companhia por conta deste problema”, diz um advogado especializado em direito corporativo.

 

Outra questão delicada diz respeito à contratação da empresa de head hunting para escolher um novo presidente. Um executivo da Vale garante que se trata de uma companhia “desconhecida, montada por um camarada que foi demitido de duas outras empresas de seleção e recrutamento”. “Essa história de apresentar lista tríplice é para inglês ver”, diz o executivo. “Segunda-feira (04/04) na reunião prévia de acionistas eles já vão definir o novo presidente. E anunciá-lo após o fechamento do mercado”. A solução deverá ser interna mesmo, como os jornais vêm divulgando. Mas há quem garanta que é mandato tampão. Seja como for, Agnelli já manifestou sua intenção de acompanhar, no próximo mês, as visitas do novo CEO aos clientes da Vale.

 

Para Istvan Kasznar, professor da FGV e doutor em administração pela Universidade da Califórnia, há ainda a questão da manutenção dos resultados da companhia, sobretudo num ambiente econômico que tende a mudar. “O substituto manterá em alta os dividendos dos acionistas e os rendimentos de aplicações de milhares de investidores? É uma questão a ser levada em conta”, diz ele.

 

FONTE: Época NEGÓCIOS 

Por Darcio Oliveira

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