Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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World: Escaneamento de íris viraliza no TikTok enquanto empresa enfrenta investigação da ANPD

Mais de 400 mil brasileiros já passaram pelo processo de escaneamento de íris, confirmou a Tools for Humanity ao IT Forum.

Imagem: Divulgação/World

Nos últimos dias, uma série de publicações tem viralizado no TikTok, mostrando brasileiros escaneando suas íris em dispositivos esféricos localizados em diferentes pontos de São Paulo. Em troca das informações biométricas, esses usuários recebem criptomoedas, que podem ser armazenadas em uma carteira digital ou vendidas por um valor em reais.

O processo não é novidade, mas tem gerado curiosidade nas redes sociais e levado milhares de pessoas a realizá-lo – muitas vezes sem compreender completamente suas implicações. A empresa por trás desse processo é a Worldcoin, projeto de criptomoedas fundado em 2019 por Sam Altman, CEO da OpenAI, e Alex Blania, e parte da Tools for Humanity.

Em julho do ano passado, a companhia começou a operar no Brasil com três pontos de registro de íris. Semanas depois, suspendeu suas atividades no país, como confirmou o jornal Folha de S.Paulo na época. Em novembro, no entanto, a organização retornou com novos pontos de coleta, atraindo uma enxurrada de interessados nas criptomoedas oferecidas.

Para realizar o processo, os interessados precisam baixar o World App, aplicativo utilizado como carteira de criptomoedas, que também lista os pontos de coleta de íris. É nesses locais que estão os “orbs”, dispositivos eletrônicos usados para a leitura biométrica. Uma busca na cidade de São Paulo atualmente lista 42 locais. Segundo o próprio aplicativo, mais de 3,8 mil desses orbs já foram fabricados.

Ao registrar um horário, o aplicativo solicita que o usuário leve um documento com foto para comprovar sua idade no momento da verificação. Usuários com menos de 18 anos não podem ser verificados. O IT Forum visitou uma das localidades da Worldcoin, na Vila Mariana. Um funcionário informou que o local recebe cerca de mil pessoas por dia.

O IT Forum questionou a Tools for Humanity sobre o número de brasileiros já escaneados pela companhia desde o início de suas operações no Brasil, mas não obteve resposta até o fechamento deste texto. A empresa, no entanto, confirmou que mais de 400 mil brasileiros já realizaram o processo.

Questionados pelo IT Forum, os usuários que estavam no local para escanear suas íris citaram a recompensa financeira como principal motivador. “Vim por conta do dinheiro que vai ser disponibilizado. Estou precisando de uma grana para investir no meu negócio e comprar um novo baú para poder coletar mais mercadorias. Estou precisando muito desse dinheiro”, contou Leandro Araújo, de 38 anos, motoboy e entregador de aplicativos como o iFood.

Ao escanear a íris, o usuário recebe 20 Worldcoins, criptomoeda que faz parte do projeto. Elas ficam disponíveis 48 horas após o escaneamento. Nos 12 meses seguintes, os usuários recebem mais 28 criptomoedas em sua carteira virtual. O valor pode ser convertido em reais e sacado via Pix. Na manhã desta quinta-feira (16), a cotação da Worldcoin estava em R$ 13,30, o que significa que a conversão de 20 moedas renderia ao usuário cerca de R$ 266.

André Luiz dos Santos, de 46 anos, também motoboy, realizou o escaneamento de sua íris em novembro passado. Nesta quarta-feira (15), acompanhou seu irmão no processo. “É tipo a Bitcoin. É um aplicativo de investimento”, afirmou. “Em 48 horas você já recebe R$ 300 sem custo nenhum. O que eles falam é que a íris é para confirmar a humanidade da pessoa que está utilizando o aplicativo e recebendo essas moedas.”

Diferenciar humanos de robôs: esse é o propósito da Tools for Humanity e de todo o procedimento de escaneamento de pessoas. A ideia da empresa é que cada pessoa tenha uma “World ID” única, que ateste que ela é realmente humana. O argumento é que o avanço de tecnologias como a inteligência artificial (IA) tornará a prova de humanidade um recurso valioso para governos e empresas – e a “World ID” seria a solução para esse problema.

No futuro, a proposta é que o aplicativo World hospede outras aplicações que utilizem a World ID como forma de verificação de identidade. Isso poderia ser empregado, por exemplo, para evitar a proliferação de perfis falsos em redes sociais.

Escaneamento de íris é investigado pela ANPD

A coleta de dados sensíveis da população brasileira pela organização chamou a atenção da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), que instaurou um processo de fiscalização sobre o tratamento de dados biométricos de usuários. O processo foi iniciado em 11 de novembro do ano passado pela Coordenação-Geral de Fiscalização (CGF).

De acordo com a ANPD, dados pessoais biométricos, como a íris, digitais, voz e formato do rosto, constituem dados sensíveis. Por serem imutáveis, o tratamento desses dados é considerado de risco elevado e exige um regime rigoroso, com hipóteses limitadas que autorizam seu uso.

“A grande preocupação do legislador é que um dado pessoal possa gerar discriminação ou permitir a autenticação definitiva de pessoas”, explicou Ricardo Oliveira, sócio do COTS Advogados, especializado em direito digital. “Por conta de tudo que pode ser feito com a biometria, ela é considerada um dado pessoal sensível. A violação de um dado sensível pode ser sancionada com penas mais severas, devido ao maior potencial de prejuízo ao titular.”

A ANPD solicitou à Tools for Humanity esclarecimentos sobre o contexto das atividades de tratamento de dados, além de informações sobre transparência, consequências do uso dos dados e medidas de segurança adotadas.

Segundo a Worldcoin, as imagens das íris são transformadas em sequências únicas de números anonimizados por um algoritmo. Esse processo, segundo a empresa, é irreversível e impede a recriação da imagem original. No entanto, a transformação dos dados em códigos significa que sua exclusão “não é tecnicamente viável”.

Em nota, a ANPD informou que a Tools for Humanity encaminhou os documentos solicitados, e o processo está em fase de análise. Nenhum parecer foi divulgado até o momento.

Desde seu lançamento, a Worldcoin tem enfrentado desafios judiciais e embates com órgãos reguladores. Em março do ano passado, a Agência de Proteção de Dados da Espanha (AEPD) exigiu a suspensão das operações da empresa por falta de transparência. No mesmo mês, Portugal proibiu as atividades da companhia, enquanto Coreia do Sul e Argentina aplicaram multas.

O IT Forum enviou perguntas à assessoria de comunicação da Tools for Humanity sobre suas operações no Brasil. Até o fechamento desta matéria, a empresa não havia se pronunciado.

Além do Brasil, a Worldcoin já opera em países como Estados Unidos, México e Alemanha. Mais de 10 milhões de pessoas em todo o mundo já tiveram sua World ID verificada.

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